CENTENÁRIO DE JOSÉ ALEXANDRE GARCIA

GUILHERME AMORIM GARCIA UDRE VARELAAdvogado e professor

Neto de José Alexandre Odilon Garcia

JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA, filho de José Alexandre de Amorim Garcia e Anália de Amorim Garcia, e neto do cel. Odilon de Amorim Garcia – um dos líderes abolicionistas no Estado – nasceu em Natal aos 5 de maio de 1925.

Em seus 71 anos de vida, exerceu atividades como Despachante Aduaneiro, Advogado, Jornalista, Desportista, Professor Universitário (UFRN) e procurador-jurídico e diretor do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Norte (IPE/RN).

No mundo dos esportes, foi fundador da Federação Norteriograndense de Futebol de Salão e seu presidente durante vários mandatos. O atleta de futebol de salão Arturzinho, considerando um dos maiores do esporte potiguar, destaca que sobre a Federação Norte-Riograndense de Futebol de Salão (FNFS), podemos dizer que, como entidade, teve seus altos e baixos. Para mim, o maior presidente foi José Alexandre Garcia.”[1]1

Foi, ainda, Presidente da Federação Norteriograndense de Basquetebol,[2] diretor e vice-presidente de várias agremiações socioesportivas da cidade, como Aero Clube, Jiquí Country Club, Santa Cruz, ABC e América. Foi Diretor istrativo da Fundação de Esportes de Natal, entidade responsável pela construção do majestoso estádio “presidente Castelo Branco” (posteriormente denominado “João Machado”)[3].

Foto da Formatura.

Fundador e várias vezes presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Rio Grande do Norte (ACERN). Foi também vice-presidente da Associação Norteriograndense de Imprensa. Militou em todos os jornais da capital como redator esportivo (cronista): O Poti, Diário de Natal, Tribuna do Norte, Caderno do Rio Grande do Norte, Dois Pontos, Correio do Povo, Jornal de Natal, Folha da Tarde e A República. Neste último, manteve por anos a coluna “O Assunto é Futebol”.

Intelectual e homem do seu tempo, JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA além de títulos maçônicos, escreveu os livros “Gol de Placa” e “Acontecências e Tipos da Confeitaria Delícia”, em dois volumes[4].

Em sua apresentação no livro “Gol de Placa”, JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA conta que:

Durante três décadas e mais, vivemos, por assim dizer, no mundo da bola.

Presidente de entidades amadorísticas, Basquetebol dois anos, futebol de salão seis anos, presidente da Associação dos Cronistas Esportivos, por diversos mandatos, diretor e vice-presidente de agremiações como, Santa Cruz, Aero Clube, América e Jiquí.

Como dirigente da FNB, a convite do Governo do Estado organizamos a festa de inauguração do Ginásio “Sílvio Pedroza” e depois iniciando a era das grandes temporadas, atraindo a Natal grandes equipes do cenário nacional, proporcionando às equipes locais, notadamente à AABB experiência e garra para apresentações futuras.

No futebol de salão, aplicamos a mesma terapêutica e já no segundo Campeonato Brasileiro, situamo-nos em terceiro lugar, superados apenas por São Paulo e Guanabara.

Na ACERN, lançamos a ideia de um torneio em todas as modalidades esportivas preenchendo assim, com êxito, podo um calendário anual.

Embora aficionado do esporte bretão, nunca exercemos funções de mando, por entender que num esporte onde a mola principal é o dinheiro e o único que trabalha por ideal é o dirigente, paradoxalmente é ele o único que acaba criticado e desgastado em quanto ao seu derredor faturam atletas, técnicos, preparadores físicos, roupeiros, juízes e bandeirinhas e até os apanhadores de bola. Sem falar no perigosíssimo sindicato de apostadores que a todo momento tentam solapar, subornar e torcer resultados ao seu bel prazer.

Luiz G. M. Bezerra, em coluna intitulada “Desportistas Inolvidáveis” no Jornal “O Potiguar”, de março de 2003[5], falando da sua relação pessoal com JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA, revela:

Em 1946 iniciei minhas atividades profissionais como comerciante importador de madeiras e utilizei por 25 anos seguidos os serviços do escritório do velho despachante José Alexandre de Amorim Garcia, seu honroso e saudoso pai, que com o seu falecimento ou à direção de Alex.

Daí por diante enveredamos pelos caminhos dos esportes de nossa terra, acompanhando o seu desenvolvimento, e juntos estivemos em quase todos os seus notáveis empreendimentos, principalmente nas melhores épocas do Santa Cruz Futebol Clube, na Associação dos Cronistas Esportivos, no América Futebol Clube, nas Federações de Basquete e Futebol de Salão e nas grandes promoções realizadas por Alex em natal, em que foi um mestre de extraordinárias ideias, planejamento e execução.

Ao lado de Humberto Nesi, João Cláudio de Vasconcelos Machado, Djalma Maranhão, Euclides Lira, Salatiel Silva, João Bastos Santana e tantos outros, também já falecidos, José Alexandre, o Alex, foi, inegavelmente, um dos grandes desportistas do nosso Estado em todos os tempos.

Em matéria publicada na Tribuna do Norte, aos 9 de fevereiro de 1997, o jornalista Everaldo Lopes prestou homenagem a JOSÉ ALEXANDRE GARCIA:

JOSÉ ALEXANDRE GARCIA, O MEMORIALISTA DA BOEMIA

O CRONISTA RETRATOU O BAIRRO DA RIBEIRA ENTRE OS ANOS 40 E 60 COM O LIVRO “ACONTECÊNCIAS E TIPOS DA CONFEITARIA DELÍCIA”

Para quem deseja escrever sobre a figura de José Alexandre Garcia é indispensável conhecer os dois lados do gordo Alex: o desportista/cronista esportivo e o boêmio inveterado. Essas três facetas ele soube desempenhar a um tempo só, até porque as três corriam mais ou menos paralelas.

Nas conversas da Confeitaria Delícia, colhia muitos subsídios para a coluna diária que mantinha na imprensa e a vida boêmia vinha depois dos afazeres no seu escritório de despachante aduaneiro, na travessa Equador (hoje já com o nome de travessa José Alexandre Garcia). Era ali mesmo que preparava o material de jornal, que mandava pelo seu fiel escudeiro Cícero Graciano. Essa vidinha mansa Alex conseguiu manter durante anos, com uma paciência que parecia até que o tempo não ia ar nunca.

Nunca foi de ostentações, tanto, que jamais cogitou tirar seu escritório da acanhada travessa Equador, tão estreita, onde mal ava um automóvel, instalações modestas, uma velha Remington que usava para escrever a coluna diária, “Dizem por aí”. No mais, limitava-se a despachos que eram datilografados por um funcionário.

Dali, final de tarde, caminhava mais alguns metros e dava de cara com a Confeitaria Delícia, que ficava em frente à velha Rodoviária da Ribeira, onde o papo estendia-se noite a dentro.

Se à noite tinha futebol ou futebol de salão, Alex bebia no máximo até três cervejas, porque a atividade de cronista esportivo e cartola do esporte também o seduzia.

ETERNO AMANTE – Zé Alexandre amava Natal e sua gente. Aqui cresceu e fez amigos, foi pai e avô. Antes mesmo do movimento ambientalista de hoje, Alex era um defensor intransigente do verde, crítico da extinção dos campos de várzea consumidos pelo boom da construção civil.

“A velha Ribeira de palafita, antigo alagadiço onde havia uma olaria, um plantio de canas e bananeiras, abrigou, depois de transformada em caminho de canguleiros que debandavam à cidade alta dos xarias, uma praça com uma pontezinha de madeira.”

“Natal era a cidade modorrenta e provinciana, 40 mil habitantes espremidos entre Ribeira e Cidade Alta, o resto era a pobreza franciscana das Rocas, os sítios do Tirol, a mata de Petrópolis, o Alecrim ensaiando os primeiros os”.

“Assim como as pessoas, as cidades têm o seu instante de afirmação, o seu dia de superação, o empurrão providencial, o chamado o à frente, decisivo e consagrador.”

“Como quem queria recuperar o tempo perdido, Natal nunca mais parou de crescer, de expandir-se, de ampliar-se em novos horizontes, de abrir novas avenidas e das avenidas multiplicar-se em novos bairros, povoando-se de belas residências.”

PERSONAGENS FANTÁSTICOS QUE POVOARAM A RIBEIRA

Ninguém contou estórias de boêmios tão bem como Alex no seu livro “Acontecências e tipos da Confeitaria Delícia”. Diz bem Celso da Silveira no prefácio: “Alexandre conta estórias daqueles personagens fantásticos que povoaram nos fins de tarde esse cenário descontraído, esse pedaço querido do território sentimental e estoico da velha Ribeira.” E conclui: “José Alexandre, com mais de 100 quilos de fleugma, muitos dos quais a cerveja foi a grande culpada, resgata com seu livro essa memória que iria perder-se com o tempo. Vamos todos, xarias e canguleiros, seus amigos, depressa a esse apetitoso livro cheio de milonga do kabuletê. Saravá e anauê.” Celso da Silveira.

PERSONAGENS – Ninguém escapa de Zé Alexandre, uns mais, outros menos, e os que conseguiram “ar batidos” têm seus nomes citados, com a sugestão do autor de que alguém dê andamento ao assunto, quem sabe em um outro livro. A essas alturas, infelizmente, não mais escrito por ele.

Uma das figuras folclóricas foi Zé Areia. Num fim de tarde na confeitaria. Quando Café Filho foi guindado à presidência da República, nos anos 50, ele viajou ao Rio para tentar um emprego. Ao falar com o presidente, este, após duas horas de chá de banco, ofereceu um emprego de seringueiro na Amazônia. Como não soubesse o que era seringueiro, foi informado de que era emprego de tirar leite de pau. Irritado, Zé Areia disse um desaforo ao oficial de gabinete e viajou de volta a Natal. Aqui, começou a baixar o cacete no presidente, nunca o perdoando pela indelicadeza com um humilde conterrâneo.

ALEX RETRATOU OS TIPOS MAIS COMUNS QUE HABITARAM A CIDADE BAIXA

A figura simpática e receptiva de José Alexandre Garcia habitava praticamente dois mundos: o do esporte, devido a sua atividade como cronista conceituado, e quase sempre dirigindo alguma federação ou mesmo a ACERN e o da boêmia, quando o assunto e os personagens eram outros, completamente diferentes. O horário de trabalho era dedicado ao escritório.

Apesar de formado em advocacia, não exercia a profissão. Na Confeitaria Delícia, juntava várias mesas e lá permaneciam por muitas horas amigos como Mozart Silva, Moisés Villar, Ferreirinha, Newton Navarro, Etienne Reis, Carlos Lima, Eider Reis, Zé de Brito, João Machado, Wilson Maranhão, Aldair Villar, entre tantos amigos que possuía.

Entenda-se, ao ser tratado por boêmio, que Alex não era um beberrão. Dosava sua cerveja, que era muito mais o pretexto para intermináveis conversas de mesa de bar. Sabia beber como ninguém. É o que se diz hoje de beber socialmente.

O outro Alex era o da turma da imprensa e do esporte. Quando presidiu a Federação Norte-riograndense de Futebol de Salão, ninguém foi mais responsável nem ousado nas promoções grandiosas. Presidindo a ACERN, também foi arrojado. Gostava de promover grandes temporadas com clubes de outros estados. Tinha uma liderança incrível sem ser arrogante. Gostava de dirigir, de presidir, e, talvez, por isso, jamais tenha desempenhado qualquer emprego público, onde, com certeza, ficaria obrigado a cumprir ordens “lá de cima”. Nascido de uma família financeiramente bem situada, não ficou rico nem pobre com seu escritório de despachante aduaneiro. Com a esposa Isabel, teve cinco filhos, sendo dois homens e três mulheres, que lhe deram 11 netos. Alexandre partiu aos 71 anos.

SABER SER LEAL AOS AMIGOS ERA UMA DAS CARACTERÍSTICAS DE JOSÉ ALEXANDRE

Uma das grandes virtudes de Zé Alexandre foi a extrema lealdade para com os amigos. Era impossível ouvir dele qualquer crítica a um companheiro. Numa mesa de bar, podia até haver, partindo de terceiros, mas se não defendia de imediato o colega atingido, não se esperasse qualquer endosso de sua parte. Preferia até mudar de assunto. Alex também sabia ser grato aos amigos.

Uma das agens mais pitorescas vividas por Alex foi quando Firmino Moura, no governo do Mons. Walfredo Gurgel, fez uma visita ao então secretário de Finanças, tributarista José Daniel Diniz, e lançou o seguinte apelo:

– Daniel, vim aqui pedir um favor: me demita do cargo de Fiscal de Rendas e ponha Zé Alexandre no meu lugar…

Claro, Daniel Diniz ficou surpreso com proposta tão estranha, até porque não seria fácil tomar medida tão descabida. Mas houve um jeitinho bem brasileiro e Alex foi nomeado. Não como Fiscal de Rendas, mas para o setor jurídico do IPE. O gesto de grandeza de “Mino” nunca foi esquecido.

No seu livro “Gol de Placa”, Zé Alexandre cita essa agem como forma de gratidão a um grande amigo, já que, naquele tempo, a situação financeira dele era das mais difíceis, com a agência de despachos marítimos rendendo pouco, as despesas crescendo.

Pela ocasião do aniversário de 60 anos do Palácio dos Esportes, em Natal, JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA teve sua imagem fixada em um em que se homenageiam as personalidades mais importantes para a história do lugar[6]. JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA participou ativamente no projeto e na construção do Palácio dos Esportes, bem como da comissão composta para as festividades de inauguração em 1963[7].

JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA integra, na categoria de sócio efetivo, o venerando Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte[8].

Como compositor, produziu o compacto-duplo “Natal, Cidade-Festa”, onde procurou dar à cidade uma música que a identificasse nacionalmente[9]. Em 2007 foi homenageado com nome de Largo, no bairro da Ribeira, que ou a ser denominado “Largo José Alexandre Garcia”[10]. JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA teve também destacada atuação no âmbito do Lions Club Internacional e da Maçonaria[11]precipuamente na fundação do GOIERN (Grande Oriente Independente do Rio Grande do Norte)[12].

Maçonaria – foi Grão-Mestre Adjunto e atingiu o Grau 33°.

Em 1976, JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA era eleito Grão-Mestre Adjunto pelo povo maçônico. No filosofismo maçônico foi Grande Inspetor Geral, Grau 33º, tendo fundado e presidido por 3 anos a Loja Maçônica Visconde de Inhaúma. Escreveu as obras maçônicas “o Maçom Esclarecido”[13] e Bartolomeu Fagundes[14].

Profundo conhecedor da vida e obra de Bartolomeu Fagundes.

Hélio Fernandes, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do RN, destaca a participação de JOSE ALEXANDRE ODILON GARCIA nas obras e atividades para a construção do Templo localizado na Av. Alexandrino de Alencar, a intensa participação nas atividades maçônicas e o inesquecível discurso que fez em homenagem ao Patrono Bartolomeu Fagundes por ocasião do jubileu de prata da ARLS Bartolomeu Fagundes[15].

Após a sua partida para o oriente eterno, foi criado um Centro de Estudos Maçônicos com o seu nome.

JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA foi também membro ativo do Lions Club Internacional, inicialmente no LC Natal-Centro, onde ocupou vários cargos, como seu presidente. Fundou e foi presidente do LC Natal-Norte[16]. Na área do Distrito L-25 foi Diretor de Divisão e vice-Governador.

JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA faleceu aos 3 de fevereiro de 1997. Viveu a maior parte da vida no Tirol, foi casado por mais de 50 anos com Isabel Silva Garcia, com quem teve os filhos Fernando Alexandre, Isa Maria, Odila Maria, Eduardo Alexandre e Marise Maria. São seus netos: Isabelle, Alexandre, Fernanda, Fernando Filho, Erisa, Renata, Rafael, José Odilon, João Arthur, Tathiana, Danielle e Guilherme. Bisnetos: Júlia, João Vitor, Gabriella, Théo, Vithor Alexandre, Helena, Fernanda, Marina, Álvaro Filho, Isabelle, Anna Letícia, José Odilon Filho, Mateus e Luíza.

Copm Isabel e Filhos.

Em seu livro “Gol de Placa”, JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA enaltece o curso de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), apresentando detalhes sobre sua criação, matriz curricular e seus valorosos professores. Aponta os profissionais de educação física como verdadeiros construtores sociais, afirmando que: “(…) no mundo de hoje está reservado ao profissional de Educação Física um destacado papel. Dele depende a formação das novas gerações. O esporte reúne, ensina e educa”. Transcreve-se, ainda, texto intitulado “Palavras aos jovens” apresentado por JOSÉ ALEXANDRE GARCIA aos bacharelandos em Educação Física de 1989.2, na aula da saudade em 8/2/1990, que resume o espírito do professor-desportista e protagonista do seu tempo, encorajando os formandos nos desafios profissionais:

PALAVRAS AOS JOVENS – Prof. José Alexandre Garcia

Eis que de repente, mais que de repente, como diria o poeta, chegou o grande dia, a meta atingida, o canudo de papel a receber, vivida a emoção da formatura, a alma em júbilo, a ansiada conquista, vivenciada em solenidades, festas, comemorações, abraços, parabéns: euforia própria e justificado orgulho de pais, parentes e amigos – choro misturando-se a risos, um clima de sonho, como se o impossível acontecesse, o inatingível se transformando em realidade.

Então, neste momento solar de felicidade, de vitória, é natural que se faça uma retrospectiva do caminho longamente percorrido: os longos anos de estudos, a batalha do vestibular, as matérias, cursos, a canseira das aulas, os implacáveis deveres, os instantes de desânimo e dúvida, os dias em que o lazer foi sacrificado pela obrigação, as noites insones, os dias de tédio, de puro cansaço físico e mental.

E surge a pergunta, inevitável pergunta: valeu o esforço, as energias dispendidas? Valeu e como!

Ei-los portadores de um título superior e de uma profissão das mais dignificantes. Através da prática esportiva, a criança, o jovem, o educando, recebe a sua primeira grande lição. Não é mais ele o rei do trono, exaltado na linda canção. Ele é uma peça de uma coletividade, que precisa agir de acordo com ela, viver em comum com os demais colegas, a aprender regras e a posicionar-se como lhe ensinam, e não como ele quer.

Por isso, o portador do título de educação física exerce dentro do complexo dia-a-dia papel de verdadeiro construtor social.

Será ele o moldador das novas gerações, o aprimorador das forças físicas ao lado das forças sociais, morais e psíquicas, formando o homem do futuro.

De sua capacidade, de sua inteligência, do seu poder de transmitir conhecimentos, de ensinar com amor e dedicação, poderá ele formar uma nova geração com uma melhor adaptação física, com um bom condicionamento de hábitos higiênicos ao lado de criatividade, de sociabilidade, do fortalecimento da vontade, da formação da personalidade e de formação de líderes.

Precisamos de uma mocidade sadia, de mens sana in corpore se ele for sano. Só acredito no Brasil se ele for forte no esporte, vencendo internacionalmente, galgando podiums em Olimpíadas.

Ultraada está a mentalidade retrógrada de que a prática desportiva prejudica os estudos. Hoje ela se completa e mais que complemento é uma necessidade imperativa.

Quanto mais jovens contarmos nas quadras, nos campos, nas pistas, nos ginásios, nas piscinas, nas competições, nos jogos, nos treinos, menos teremos viciados, toxicômanos, malandros, pivetes, assaltantes, criminosos, frutos do ócio e dos maus hábitos, ou seja, teremos menos problemas sociais.

Tudo depende do trabalho de base. Nas escolas, nos colégios, nos clubes, nos projetos populares, na universidade.

Este é o vosso trabalho, a vossa luta, a vossa sagrada missão.

Mais do que uma aula da saudade, esta é uma aula de fé, de confiança em vossas inteligências e na vossa futura labuta.

Escusado dizer que já estamos sentindo vossa falta. A alegria do convívio, o bulício das aulas, a irreverência da própria mocidade, dos dias em que fomos nos transformando de professores e alunos, em amigos e companheiros, em possuidores de um mesmo ideal.

A Universidade não vos esquecerá. Daqui ficaremos torcendo pelo sucesso de cada um na carreira profissional, felizes em vê-los triunfantes e sempre com uma palavra de estímulo e confiança naqueles que somente aos poucos chegarão a um status digno e compensador.

Jovens bacharelandos: uma nova fase se iniciar a partir de agora.

Repetimos: confiança em todos, como se todos estivessem predestinados à vitória.

Muito obrigado pelo convite para proferir estas palavras.

Palavras simples e despretensiosas. Mas que encerram, em seu contendo, uma mensagem de amizade, de amor, na certeza do vosso grande amanhã.

Parafraseando JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA: os natalenses nunca te esquecerão, REIZINHO!

Com elevada estima e consideração, propõe-se que sejam realizadas moções e homenagens ao saudoso JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA por ocasião do seu centenário de nascimento, data celebrada aos 5 de maio de 2025.

NOTAS————————————————————————


[1] MELO FILHO, Artur Ferreira de. Palácio dos Esportes – 60 anos: palco da minha vida esportiva. In. CABRAL, Roberto; LUNA, Kolberg e MARTINS, Jamilson. Memórias do Palácio dos Esportes Djalma Maranhão. [s.n] Prefeitura do Natal, p. 72.

[2] Atleta de basquetebol, Eunélio Silva cita: “(…) entre os nomes de pessoas que contribuíram para a grandiosidade do esporte na cidade durante o tempo em que fui atleta, posso citar José Augusto (Seu Zé), José Alexandre Garcia, Genildo Correia, Décio Hollanda, Mário Dourado, estes todos que já estão em outro plano”. SILVA, Enélio. Palácio dos Esportes 60 anos. In. CABRAL, Roberto; LUNA, Kolberg e MARTINS, Jamilson. Memórias do Palácio dos Esportes Djalma Maranhão. [s.n] Prefeitura do Natal, p.

[3] “(…) Entretanto, no exato momento que se lançou a ideia de construir um estádio, lá estávamos na linha de frente, integrando a comissão que conseguiu do Governador Dinarte Mariz, a doação do então FND, o terreno de Lagoa Nova, e quando o Prefeito Agnelo Alves chamou a si a incumbência de tornar realidade o estádio, lá estávamos ao lado de Ernani, Moacir e outros desportistas, trabalhando como diretor istrativo”. GARCIA, José Alexandre Odilon. Gol de Placa. Natal: Ed. Clima, 1992, p. 9.

[4] Em Prefácio à Obra Acontecências e Tipos da Confeitaria Delícia, VERÍSSIMO DE MELO: “Em verdade, trata-se de um pequeno mundo. Um microcosmo em algum ponto do bairro da Ribeira, em Natal. Todavia, nenhum lugar mais agudamente representativo de uma época ainda recente. Foi aí que José Alexandre Garcia concentrou seu poderoso espírito de observação, para fixar figuras, casos e anedotas do quotidiano natalense. (…) José Alexandre Garcia vivenciou tudo ou quase tudo e narra em seu livro. Não só ouviu dizer muitas agens curiosas da vida de tantas figuras humanas, mas ele próprio foi testemunha da história. Tomando sua cerveja, observava os presentes e anotava suas estórias e piadas, tudo registrando com fidelidade de cientista social. Escrevendo com estilo coloquial, simples e agradável, a prosa de José Alexandre Garcia foi recebida com aplausos gerais (…)”.

[5] BEZERRA, Luiz G.M. Desportistas inolvidáveis: José Alexandre Garcia. Jornal O Potiguar, Natal, ano VI, nº 32, março/2023, p. 11.

[6] No Livro Memórias do Palácio dos Esportes Djalma Maranhão, organizado por Jamilson Martins, Roberto Cabral e Kolberg Luna, há nota de agradecimento (…) aos dirigentes, técnicos, árbitros e atletas que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do esporte na cidade do Natal. Nossa homenagem póstuma para aqueles que dedicaram parte de suas vidas ao desporto e escreveram uma memorável página da história do Palácio dos Esportes Djalma Maranhão: (…) JOSÉ ALEXANDRE GARCIA, Advogado, cronista esportivo, presidente da Federação Norte-riograndense de Futebol de Salão, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

[7] “(…) No segundo semestre de 1963, a construção toma ritmo acelerado, começam a chegar os equipamentos e materiais adquiridos em outros estados, estrutura metálica, piso, tabela de vidro, equipamentos de som, tudo sendo aprontado para a inauguração que ficou definida para ocorrer no dia 27 de dezembro, dia de aniversário do Prefeito Djalma Maranhão. Para organizar as festividades de inauguração, foi criada a comissão composta por Alexandre Garcia, Carlos Silva, Ernani da Silveira, Firmino Moura, Maurício Barreto e Rossini Azevedo”. GUARÁ, Domingos Sávio Batista. O Palácio dos Esportes Djalma Maranhão, templo sagrado dos esportes de quadra de Natal. In. CABRAL, Roberto; LUNA, Kolberg e MARTINS, Jamilson. Memórias do Palácio dos Esportes Djalma Maranhão. [s.n] Prefeitura do Natal, p. 34.

[8] “Rejubila-nos ter lido, como se diz na gíria, de cabo a rabo, o que escreveu Alexandre, na lucidez dos seus 70 anos de idade, como prova de uma existência fecunda e proveitosa para a sua família, seus amigos e conhecidos. Evidente, para os desconhecidos também. Verdade que tudo isso decorreu da maneira peculiar de, a exemplo de poucos, ter o dom de escrever com espontaneidade e sabedoria. É vocação nascida de berço”. Depoimento de Enélio Lima Petrovich, então presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, ao lançamento do livro “Acontecências e Tipos da Confeitaria Delícia”, de autoria de José Alexandre Odilon Garcia.

[9] As canções “Natal, Cidade-Festa”, “Potengi Rio Lendário”, “Maria é minha mania” e “Natal idos 40” são composições de José Alexandre Odilon Garcia que fazem parte do LP intitulado “LIZ NÔGA E TRIO CIGANO, participação de Juvanklin” e também foram lançadas em compacto duplo. Em 2008, as canções foram regravadas por Liz Nôga, em álbum denominado “Em Canto da Noite” – disponível no Spotify. José Alexandre Odilon Garcia também compôs outras canções, que não foram registradas em álbuns. Os álbuns citados estão listados no Dicionário da Música do RN (Leide Câmara) e Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

[10] “O largo do boêmio – Amanhã tem a inauguração do Largo José Alexandre Garcia. Fica na rua Chile quando ela se aproxima da Silva Jardim, aceirando o cais do porto. O Largo já é lei municipal há vários anos, mais ninguém ainda se acostumou a chamá-lo assim. Vai ter que se acostumar, até porque o homenageado foi uma das melhores figuras de gente desta terra de Poti mais bela. Jornalista, cronista, desportista, boêmio consagrado. Um personagem exemplar da velha Ribeira, cujo rico universo humano está retratado em seus livros. Vai ser às cinco da tarde”. JORNAL DE WM. Jornal Tribuna do Norte, em 4 de maio de 2007, link: https://tokdehistoria-br.informativoparaibano.com.br/colunas/jornal-de-wm/o-zebu-de-lula/.

[11] Em artigo publicado no Jornal O Mossorense, em 12 de abril de 2018, Wilson Bezerra de Moura anota: Na caminhada que fazemos em busca de acontecimentos para nosso estudo, deparamo-nos, para nossa alegria, com um nome que durante décadas participou dos principais acontecimentos da vida social, política e econômica da cidade do Natal, mas especialmente da Maçonaria norteriograndense, da qual foi, por determinado período, Grão Mestre Adjunto, numa das gestões do Soberano Grão Mestre Armando de Lima Fagundes. Pois bem, folheando os assentamentos escritos e históricos do pesquisador Raimundo Soares de Brito, entre as tantas pessoas existentes, ali se encontrava, num cantinho da recordação, a figura de José Alexandre Odilon Garcia, do qual privamos, por algum tempo, de sua presença em nossa Ordem. Um homem agradável, amigo leal, claro em seus pontos de vista, respeitado quando falava sobre determinado assunto levado ao conhecimento público através da imprensa natalense, onde periodicamente escrevia, porque era senhor absoluto do que dizia ao apontar determinado fato. Culto, bom advogado na cidade onde nasceu e por toda uma vida fez parte dela no desempenho da atividade profissional, uma razão suficiente para merecer o afeto e carinho de todos. Numa de suas citações esclarecedoras, Alan Kardec afirmou: “Vi, observei, coordenei e procuro fazer compreensível aos outros o que eu mesmo entendi”. Era como Alexandre se postava perante todos nos contatos que mantinha, mesmo nos bares onde sempre e rotineiramente fazia tomando sua cervejinha ao término do expediente, – ou mesmo em dias feriados, com os colegas de seu tempo, a nata intelectual de Natal. Alexandre Odilon Garcia era, com justiça, um homem alucinado por Natal. Tudo de sua cidade era motivo de alegria e contentamento.

[12] Fundado como Grande Oriente Independente do Estado do Rio Grande do Norte – GOIERN, como a maior Potência Maçônica do Estado à época, (…) tendo como primeiro Grão Mestre eleito, o soberano Irmão Armando de Lima Fagundes e como Grão Mestre adjunto o sereníssimo irmão José Alexandre Odilon Garcia. Fonte: http://www.gorn.org.br

[13] Em carta-prefácio à segunda edição da Obra “o Maçom Esclarecido”, Armando de Lima Fagundes traçou o perfil de JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA, do qual destacam-se os seguintes trechos: (…) Você foi um dos dez iniciados da 6ª Turma, em 25 de novembro de 1967, e nunca tivemos dúvida de que você, mais cedo ou mais tarde, seria um maçon a revelar as qualidades indispensáveis ao iniciado: interessado, dedicado, trabalhador, empreendedor. (…) Tanto o foi que, no triênio subsequente, as Lojas jurisdicionadas indicaram-no para Grão-Mestre Adjunto, quando novamente seu desempenho tornou-se dos mais elogiáveis: várias vezes assumiu o Grão-Mestrado, como nosso substituto legítimo e sua atuação tem sido coerente e elogiavelmente correta. Homem inteligente, orador inflamado, conferencista consagrado, estudioso, pesquisador, palavra fácil, relacionamento adequado, muito das inovações que introduzimos no GOIERN provém de ideias, sugestões, observações e estudos seus. (…) Continue assim, Ir.’. Alexandre. A Ordem precisa de Maçons que sejam autênticos construtores sociais, homens livres e de bons costumes e que integrem as suas qualidades. (…) Este pequenino Rio Grande do Norte se engrandece com você. In: GARCIA, José Alexandre Odilon. O Maçon Esclarecido. Coleção Maçônica Vigário Bartolomeu. 2ª Edição. CERN: Natal, 1976, p. 5. e “Bartolomeu Fagundes”.

[14] Também em prefácio à 1ª Edição da mesma obra citada, destacando as virtudes intelectuais e maçônicas de JOSÉ ALEXANDRE ODILON GARCIA, Ascendino Henriques de Almeida Júnior destaca: Querido Ir.’. José Alexandre: Você me pede um prefácio para este volume, e eu não lhe posso negá-lo. Devo dizer-lhe, entretanto, que na órbita fraternal da Maçonaria, você não precisa ser prefaciado. Os prefácios, na atualidade, são para aqueles que necessitam de uma apresentação. O público, pelo menos no Rio Grande do Norte, para quem você escreve, já o conhece bem nas suas avantajadas dimensões intelectual e física. Já se acostumou a ouvi-lo nos rasgos improvisados do seguro orador maçônico, quanto nas medidas e pensadas conferências que você tem proferido nas Lojas de Natal. Prefaciá-lo seria repetir o que todos sabem, e afirmam e confirmam, e reafirmam. In: GARCIA, José Alexandre Odilon. O Maçon Esclarecido. Coleção Maçônica Vigário Bartolomeu. 2ª Edição. CERN: Natal, 1976, p. 5.

[15] FERNANDES, Hélio. Cinquentenário da Loja Bartolomeu Fagundes. [s.n.]

[16] O Lions Clube de Natal Norte (LCNN) foi fundado em 22 de abril de 1966, por vinte e cinco amigos e cidadãos potiguares, repletos de espírito filantrópico (…) Foram seus fundadores os seguintes Companheiros, aqui em ordem alfabética: (…) José Alexandre Odilon Garcia…. Fonte: https://lionsdla5.org/clubes/lions-clube-de-natal-norte/

O MOSQUITO ANOPHELES GAMBIAE – COMO O BRASIL ABATEU UM INVASOR

A inigualável realização cientifica do Brasil — o extermínio do mortífero mosquito gambiae — salvou o continente americano de uma praga letal.

Por Lois Mattox Miller[1] – Publicado na Revista Seleções do Reader’s Digest, edição de fevereiro de 1942, págs. 62 a 66[2]. Condensado do jornal “Correio da Manhã”, Rio de Janeiro.

NOTAS COMPLEMENTARES DO BLOG TOK DE HISTÓRIA AO FINAL DO TEXTO.

Em 1930, quando poucos se preocupavam ainda com a defesa do Novo Mundo, uma pequena turma de agentes secretos, sedentos de sangue, saídos da África Ocidental, atravessou o Atlântico Sul para desembarcar em Natal. Não tardou que os efeitos dessa missão de morte se fizessem notar.

Publicado na Revista Seleções do Reader’s Digest, edição de fevereiro de 1942, págs. 62 a 66. Condensado do jornal “Correio da Manhã”, Rio de Janeiro.

Dúzias, depois centenas, e enfim milhares de pessoas adoeceram em Natal. A face se punha pálida ou cor de chumbo; o corpo torturado de sofrimento era alternadamente consumido por febres devoradoras e sacudido de arrepios atrozes. “Malária” diagnosticaram os médicos. Mas aquele não era precisamente o tipo de malária endêmica dos trópicos e regiões subtropicais da América.

Alguns sábios médicos, que já tinham visto a malária sob o seu pior aspecto em outras regiões do mundo, pensavam coisas que nem sequer ousavam dizer em voz alta. Não tardou que um caçador de mosquitos aparecesse para confirmar as mais graves de suas suspeitas.

O Dr. Raymond C. Shannon, entomologista da Fundação Rockefeller[3], adido ao Serviço de Combate à Febre Amarela no Brasil, andava perto de Natal procedendo a sua verificação habitual de águas de chuvas retidas em barricas, estradas e caminhos, quando encontrou um mosquito que lhe pareceu estranho naquela região. No laboratório, o Dr. Shannon meteu o prisioneiro sob a objetiva do microscópio, lançou lhe um rápido olhar, e não pôde reter uma exclamação de assombro.

Atuação do mosquito anófeles gambiae no Rio Grande do Norte.

Pela primeira vez na história, o gambiae — o mais mortífero de todos os mosquitos transmissores da malária, e precisamente aquele que fez da África Ocidental um inferno de doença e morte — tinha invadido o Novo Mundo!

Mas de que modo? O raio de voo do inseto gambiae limita-se a quatro quilômetros. Teria o monstro chegado no porão de um navio? Não, o gambiae é incapaz de se manter de portas adentro, ou escondido por mais de 48 horas. Nesse caso devia ter vindo pelo ar! Os aviões comerciais da nova linha aérea sa tinham reduzido para vinte e uma horas o percurso Dakar-Natal. Era isso mesmo — o agente africano da “morte em vida” viera como ageiro clandestino[4].

O alarme foi irradiado para todas as nações da América. As autoridades sanitárias do Brasil decretaram logo um rígido controle: desde essa data, todos os aviões chegados da África deveriam ser imediatamente submetidos à inspeção e fumigação rigorosas. Mas os peritos da malária diziam: “O mal está feito! O gambiae já está aqui”.

Jornal natalense “A República”, edição de sábado, 19 de setembro de 1931, pág. 1.

A espécie ia se multiplicar com fantástica rapidez, A fêmea adulta (que se nutre de sangue e é o veículo da doença na família) é duma proliferação tremenda. Seus ovos se incubam em pouco mais de um dia e oito a nove dias depois as fêmeas recém-nascidas já começam a procriar, por sua vez, ativamente.

Além disso, o gambiae é o inseto mais sedento de sangue de todos os membros da família dos anófeles, transmissores da malária. As outras espécies podem se nutrir do sangue de animais e ficam satisfeitas com um repasto ocasional de sangue humano. A fêmea gambiae, essa, vive quase exclusivamente do sangue humano. Seu corpo funciona como um laboratório de venenos — alfobre onde se criam confortavelmente e aos milhões os parasitas da maleita. Essa combinação de hábitos faz do gambiae o mais perigoso veículo de malária que o mundo conhece.

Entre abril e junho de 1930, a cidade de Natal sofreu uma epidemia de malária, a mais intensa e violenta ainda verificada neste hemisfério. Durante a longa estação seca, de junho a fevereiro, a epidemia decresceu, para em seguida rebentar de novo e com redobrada virulência.

Lentamente, mas com precisão militar, o gambiae se espalhou para além de Natal. Os ventos dominantes arrastaram uma vanguarda do exército invasor pela costa acima e pela terra adentro, à distância de 186 quilômetros. Chegou a infectar 90 por cento da população de certas regiões e matou entre 10 e 50 por cento de suas vítimas. Minava as forças dos sobreviventes, deixando muitos demasiado débeis para trabalhar e demasiado abúlicos para se interessarem pela própria existência.

As autoridades da Saúde Pública, recordando o papel que a malária desempenhou na decadência da Grécia e da Roma antiga, olhavam com ansiedade crescente o alastramento do flagelo. O famoso malariologista americano Marshall A. Barber regressou do Brasil para lançar este aviso:

“A invasão do gambiae está ameaçando a América de uma catástrofe tal, que em comparação as pestes e mesmo as guerras, não am de calamidades temporárias, insignificantes. O gambiae, uma vez introduzido nas veias de uma nação, pode ali ficar como um flagelo pelos séculos afora…”

Membros da unidade de controle da malária pulverizando uma área alagada.

Foi então que o Brasil teve uma destas sortes que parecem providenciais. Durante os dois anos seguintes, uma seca mais rigorosa devastou literalmente as terras invadidas pelo gambiae, ressequindo os ninhos de reprodução, e suspendendo a marcha do invasor. Essa trégua providencial deu tempo aos combatentes antimaláricos para pensar e agir[5].

O Brasil tem um verdadeiro exército científico para o fim de combater as moléstias transmitidas pelos mosquitos. Sob a direção do Dr. Barros Barreto[6], diretor geral de Saúde Pública, está fazendo o Serviço de Combate à Febre Amarela algo que o Novo Mundo — e mesmo o mundo inteiro — devia se orgulhar. Trabalhando segundo as tradições heroicas do grande higienista Dr. Oswaldo Cruz[7], que há mais de 30 anos expulsou a febre amarela do Rio de Janeiro, tem dado combate tão persistente e eficaz ao aedes aegypti, que a espécie está se tornando verdadeira raridade no Brasil[8].

“Organize-se um serviço em grande escala contra o gambiae”, clamavam alguns entomologistas daquele Serviço. “Deem-nos os fundos, o pessoal e o equipamento, e nos encarregaremos de abater essa peste estranha ao Brasil!”

O médico Fernando de Goes foi um dos que atuaram nessa luta contra a malária no Rio Grande do Norte – Fonte – Facebook – Fernando de Goes Filho.

Alguns peritos, mais moderados, declararam essa medida impossível. Tinham eliminado a febre amarela pelo combate ao pernilongo — processo de fato adequado à destruição de outras espécies. Mas o gambiae é tão prolífico e tão mortal, que o combate seria fútil. Só a exterminação daria resultado. E quem ouviu jamais dizer que fosse possível exterminar qualquer espécie de inseto? Quanto mais se tratando dos gambiae… Outros mosquitos, mais íveis, procriam em sítios conhecidos e fáceis de achar — em cursos d’água, canais, lagoas, pântanos.

Combatê-los é só questão de drenagem e de aplicação de larvicidas. Os combatentes dos mosquitos têm um poderoso aliado num peixinho minúsculo, o Gambusia, que se alimentam na superfície de ovos e larvas dos mosquitos que pululam nas águas. Os Gambusia se proliferam em qualquer depósito de água, grande ou pequeno, e depressa os mosquitos desaparecerão.

Mas o gambiae é perverso e astuto, despreza os cursos d’água de boas dimensões, para consagrar sua preferência às poças minúsculas — até mesmo um sulco de roda de carro ou a marca do casco dum animal na estrada servem, contanto que tenham água da chuva. Disse um dos especialistas: “Seria necessário toda vez que chove, logo em seguida secar cada poça d’água no nordeste brasileiro”.

Foi assim que o Brasil pôs suas esperanças na seca. Talvez a terra dura e ardente, batida pelo sol, se mostrasse de todo inabitável para o invasor africano.

Quando, porém, voltaram às chuvas em fevereiro de 1934, a incrível marcha do gambiae recomeçou. Durante os quatro anos seguintes prosseguiram sem descanso para o norte e o oeste. Em 1938 cidades inteiras eram prostradas pela moléstia. O trabalho era suspenso e a falta de mão de obra deixava as terras incultas. A Fundação Rockefeller informava: “Calcula-se que em resultado das devastações causadas pelo mosquito, praticamente todas as pessoas nas áreas infestadas ficarão dependentes do auxílio governamental em 1939”.

A ameaça tornava-se agora muito séria para todo o continente. Disse uma autoridade: “Se o gambiae atravessar a barreira que o separa dos vales bem irrigados do Parnaíba e do São Francisco, seria impossível evitar que se propague a uma grande parte da América, não só do Sul e Central, como talvez da própria América do Norte”.

Foi então, em janeiro de 1939, que o Brasil declarou formalmente guerra ao anofeles gambiae. Por decreto presidencial foi organizado o Serviço de Malária do Nordeste. O Dr. Barros Barreto entregou a direção dos trabalhos a um distinto higienista, o Dr. Manoel Ferreira[9]; outros eminentes médicos brasileiros, incluindo o Dr. Evandro Chagas, famoso malariologista recentemente vitimado num desastre de aviação[10], foram mobilizados para a guerra. O Governo Brasileiro aprovou um orçamento provisório de cinco mil contos de réis, e a Fundação Rockefeller contribuiu com mais 100.000 dólares. Foi abandonada a discussão sobre se o gambiae podia ou não podia ser exterminado. As ordens eram: “Descubra-se como, e depois mãos à obra!”

Dispunha-se de pouco tempo para o treino e não havia precedentes. Mas quando a estação das chuvas principiou, em fevereiro de 1939, o primeiro exército já estava em campo, sendo formado por mais de 2.000 médicos brasileiros, técnicos, inspetores e jornalistas. Durante quatro meses os gambiaes e revelou formidável inimigo. As chuvas diárias multiplicavam ao infinito os esconderijos onde ele se reproduzia. Mas o “exército anti gambiae” tomou posições por todo o território infestado, distribuindo patrulhas, mandando partidas de batedores a estabelecer postos avançados ao longo das fronteiras. Em junho, o alto comando dos exércitos contra os gambiaes anunciava que o inimigo estava cercado. Foi então quando começou a verdadeira batalha.

NATAL, BRASIL – JUNHO DE 1943: – Pulverização de um avião de transporte C-87 Liberator para controle da malária no aeroporto de Parnamirim – Foto de Ivan Dmitri/Michael Ochs Archives/Getty Images.

Cada um dos lugares de procriação era tratado com verde-paris[11]. De porta em porta iam brigadas de empregados, armados de vaporizadores, matando os mosquitos adultos nas casas, telheiros, lojas e edifícios abandonados. Essa estratégia de “terra devastada” era rigorosamente aplicada sobre cada centímetro quadrado das áreas reconhecidas como infestadas, e depois sobre uma zona de segurança de dezesseis quilômetros, para além das fronteiras do flagelo. Patrulhas sanitárias faziam parar todos os veículos que se dirigiam para a região não atacada e procedia a fumigação deles.

Mas os desapontamentos não faltaram. Os fundos para o combate ao gambiae cedo se esgotaram e o Governo Brasileiro teve que colocar mais cinco mil contos. A campanha tinha prosseguido na base da “tentativa e erro”; por vezes o gambiae dava a impressão de enfraquecer diante da guerra química dirigida contra ele. Quando tudo parecia correr o melhor possível, os anófeles reapareciam subitamente, dando lugar a novas explosões de malária a muitos quilômetros além da zona de combate, em territórios nunca antes infestados!

Perplexas, as autoridades remetiam brigadas de exploração para investigar. Depressa a resposta se fazia conhecer: num dos casos, um automóvel rodando por uma estrada abandonada no sertão, tinha ado sem a necessária fumigação; noutro caso, um bote de pesca tinha iludido a vigilância dos postos sanitários do serviço marítimo, indo assim levar o invasor a muitos quilômetros pela costa acima.

NATAL, BRASIL – JUNHO DE 1943: – Foto de Ivan Dmitri/Michael Ochs Archives/Getty Images.

Os combatentes do mosquito, porém, não desanimavam. Em 1940, obtiveram um orçamento de 22.500 contos, incluindo uma dotação de 230.000 dólares da Fundação Rockefeller. As forças de campo foram aumentadas para 4.000 homens e novas táticas foram desenvolvidas. Os combatentes declaravam, cheios de confiança: “neste ano os invasores não escaparão à morte”.

Os pertinazes gambiae, com grande espanto dos observadores cépticos, começaram a perder terreno. Em meados da estação chuvosa (e ela foi excepcionalmente chuvosa) os relatórios foram chegando das regiões, uma por uma: “Área limpa… Nenhum traço de adultos, ovos ou larvas…” Essa estação teria sido realmente grandiosa para os anófeles. Em duas áreas não controladas, demarcadas precisamente para fins de pesquisa e comparação, os mosquitos proliferavam à vontade. Mas onde quer que chegavam as brigadas químicas, fazendo o seu trabalho, o inimigo ia sendo completamente derrotado.

Os combatentes resolveram estão fazer um teste decisivo. Quando uma área era declarada limpa pelos peritos em campo, suspendiam-se todas as medidas de guerra química. Mas a “força de batedores” duplicava e a vigilância era assim constante sobre o possível reaparecimento do flagelo. Lentos, longos, ansiosos, os meses foram correndo. Mas os gambiae não reapareceram!

Lois Mattox Miller foi uma renomada jornalista investigativa e escritora norte-americana especializada na área de saúde pública – Fonte – Wiki.

Os combatentes mantinham-se cautelosos e apreensivos, pois conheciam agora intimamente o anofeles gambiae, o traiçoeiro e difícil inimigo. A verdade é que ainda levaram um grande susto, A cerca de 80 quilômetros além da última fronteira conhecida da zona infestada, descobriu-se um buraco isolado contendo gambiae. O caso nunca ficou esclarecido, mas o certo é que limparam o buraco prontamente, antes de ter-se registrado qualquer vítima.

Há mais de um ano (desde 1941), um vasto corpo de homens treinados vem patrulhando o nordeste brasileiro, sem que tenha encontrado um só anofeles gambiae. Tem-se oferecido prêmios em dinheiro aos caçadores de mosquitos, amadores ou profissionais, que apresentem um ovo, uma larva, um adulto que seja! E até agora nenhum apareceu.

Os homens de ciência do Brasil relutam em aceitar que a espécie tenha sido “exterminada” neste hemisfério. Não obstante, o êxito da sua campanha deixou a mais funda impressão entre os cientistas de todo o mundo, porque o fato se mantém, de que a espécie gambiae não tornou a ser vista no Brasil, desde novembro de 1940.

Foto – James Gathany – Fonte – http://www.cdc.gov/ncidod/dpd/parasites/malaria/default.htm

O Brasil, tendo reduzido ao nada essa ameaça para a saúde e a segurança do Novo Mundo, deu também às outras nações da América uma “lição de coisas” que daqui em diante todas as autoridades de saúde pública terão dificuldade em ignorar. A malária lavra ainda em muitas áreas do Hemisfério Ocidental; no sul dos Estados Unidos, por exemplo, causa todos os anos alguns milhões de vítimas. É certo que não se trata do tipo virulento de malária, como o que o gambiae levou ao Brasil; tão pouco os anófeles que a transmitem de um para outro indivíduo são lutadores tão resistentes, nem tão evasivos, como os anófeles gambiae. Seus hábitos são mais simples; podem ser exterminados com maior facilidade e a um custo muito menor.

O Brasil derrotou o pioneiro da malária africana, e demonstrou que ela é uma doença extirpável. Desde então, a malária é uma praga que nenhum estado, nenhuma sociedade deve temer. Onde quer que ela se encontre será de hoje em diante um motivo de vergonha nacional.

NOTAS ——————————————————————————————————-


[1] Lois Mattox Miller foi uma renomada jornalista investigativa e escritora norte-americana especializada na área de saúde pública, tendo recebido, entre outros prêmios, o Albert and Mary Lasker, em 1958, por sua história em Reader’s Digest sobre filtros de cigarro.

[2] Na história da revista norte-americana Reader’s Digest, que no Brasil ficou popularmente conhecida como Seleções, seu primeiro número publicado em terras tupiniquins é de fevereiro de 1942, vinte anos após seu lançamento nos Estados Unidos. E esse texto que o blog TOK DE HISTÓRIA reproduz, é o primeiro exclusivamente a tratar de temas ligados ao Brasil, onde Natal aparece com destaque. Neste exemplar temos a menção que a tiragem mundial era de 5.000.000 exemplares, mas não há nada sobre a tiragem no Brasil. A revista era vendida nas bancas por 2.000 réis, o mesmo valor de um quilo de pão francês na época.  

[3] A Fundação Rockefeller é uma fundação privada americana e uma organização filantrópica de pesquisa médica e financiamento de artes sediada na cidade de Nova York. A fundação foi criada em 14 de maio de 1913, pelo magnata John D. Rockefeller (“Sênior”), da Standard Oil Corporation, seu filho “Júnior” e Frederick Taylor Gates, seu principal consultor de negócios. É a segunda maior instituição filantrópica mais antiga da América (depois da Carnegie Corporation) e está classificada como a 30ª maior fundação globalmente por dotação, com ativos de mais de US$ 6,3 bilhões em 2022. Fonte – Wikipédia.

[4] Aqui a escritora norte-americana Lois Mattox Miller aponta uma informação divergente do que se convencionou pensar sobre a propagação desses insetos no Rio Grande do Norte. Para os historiadores potiguares que se debruçaram sobre o período clássico da aviação em nossa região, essa propagação ocorreu durante as operações do primeiro serviço aeropostal entre a França e a América do Sul. Esse trabalho se iniciava quando os aviões partiam de Paris e seguiam até Dacar (no atual Senegal), então os malotes com correspondências eram embarcados em navios pequenos e bastante velozes conhecidos como “Avisos Postais”, ou “Avisos Rápidos”, e então atravessavam o Atlântico Sul até Natal. Depois os malotes eram embarcados em aviões para o sul do país. Em um desses barcos o anofeles gambiae teria chegado sorrateiramente a Natal. Ou não?

[5] A autora comenta provavelmente sobre a seca de 1932 a 33.

[6] João de Barros Barreto (Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1890 — Rio de Janeiro, 1956) foi um médico sanitarista e professor brasileiro. Seu nome batiza o Hospital Universitário João de Barros Barreto, no Pará, referência estadual em pneumologia e infectologia.

[7] Oswaldo Gonçalves Cruz (São Luiz do Paraitinga – SP, 5 de agosto de 1872 — Petrópolis – RJ, 11 de fevereiro de 1917) foi um médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro. Pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da microbiologia no Brasil, ingressou em 1900 como diretor técnico do Instituto Soroterápico Federal, no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, transformado em Instituto Oswaldo Cruz, hoje a Fundação Oswaldo Cruz.

[8] Infelizmente e por várias razões, o aedes aegypti ainda está presente em território brasileiro e trazendo sérios problemas para a população. É triste perceber que há oitenta anos o combate a essa praga parecia ser mais efetivo que nos dias atuais.

[9] Manoel José Ferreira (Petrópolis – RJ – 1897 / Rio de Janeiro – RJ – 1978) foi um médico sanitarista, Diretor da Faculdade Fluminense de Medicina entre 1930 e 1932, Diretor do Serviço de Obras Contra a Malária em 1938, Médico do Serviço de Malária do Nordeste de 1939 até uma data incerta, Diretor do Serviço Nacional de Malária em 1954, Fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) em 1962, Diretor do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu) de 1966 a 1968 e Membro do Comitê de Especialistas em Malária da OMS.

[10] Evandro Serafim Lobo Chagas (Rio de Janeiro – RJ, 10 de agosto de 1905 – Rio de Janeiro – RJ, 8 de novembro de 1940) foi um médico e cientista brasileiro, filho primogênito do cientista Carlos Chagas com Íris Lobo. Em 1926 diploma-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e feito residência no Hospital São Francisco de Assis e no Hospital Oswaldo Cruz. Cursou paralelamente a faculdade o curso de especialização em microbiologia no Instituto Oswaldo Cruz. Realizou estudos sobre a febre amarela, malária, ancilostomose e, principalmente, sobre a leishmaniose, descobrindo os primeiros casos humanos dessa doença e realizando investigações clínicas e epidemiológicas em diversos estados do Brasil e também na Argentina. Faleceu vítima de acidente aéreo em 8 de novembro de 1940, aos trinta e cinco anos, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1941, em sua homenagem, o Instituto Oswaldo Cruz (atual Fundação Oswaldo Cruz), nomeou o antigo Hospital Oswaldo Cruz (de 1918) como Hospital Evandro Chagas. Fonte – Wikipédia.

[11] Verde-paris é o nome trivial para um composto descoberto em 1808, designado por acetoarsenito de cobre, cuja fórmula química corresponde a 3Cu(AsO2)2.Cu(C2H3O2)2[1]. A história curiosa deste composto é que ele começou por ser comercializado em 1814 não como pesticida, mas sim como um mero pigmento para tintas, devido à cor verde intensa que apresentava. Só após se atribuir a culpa ao verde-paris pelos envenenamentos de algumas pessoas que pintavam quadros é que o composto foi completamente banido das tintas. Este veneno potente está inserido em inúmeros quadros pintados durante o século XIX. Apenas em 1867 o verde-paris foi introduzido no combate a pestes, sendo o principal inseticida para combater o escaravelho da batata. Em 1900 era usado em tão larga escala que levou o governo dos Estados Unidos da América a estabelecer a primeira legislação no país sobre o uso de inseticidas. O composto acabou por ser banido alguns anos depois, devido sua extrema toxicidade para animais mamíferos. Fonte – Wikipédia.