A VISITA DO “AÇOUGUEIRO” ARTHUR HARRIS A NATAL E AO BRASIL

O Que Uma Das Mais Controvertidas Figuras da Segunda Guerra Mundial, Tido Por Muitos Como Um Implacável e Sanguinário Criminoso de Guerra, Veio Fazer em Nosso País e em Parnamirim Field?

Rostand Medeiros – https://pt.wikipedia.org/wiki/Rostand_Medeiros  

Na tarde do dia 10 de agosto de 1945, uma bela sexta-feira de sol, o povo da cidade do Natal foi surpreendido pelo sobrevoo de duas grandes aeronaves estranhas e bastante chamativas.

E observem que durante grande parte da Segunda Guerra Mundial, os natalenses testemunharam a agem de milhares de aeronaves envolvidas naquele conflito e nessa época pouca coisa que voava ainda chamaria a atenção dos que aqui viviam. Mas aqueles dois aviões certamente fizeram as pessoas olharem para o céu!

Eles eram grandes quadrimotores, com duas grandes aletas elípticas na cauda onde ficavam os lemes que as guiavam. A parte de baixo das aeronaves era pintada de negro e na parte superior eram totalmente brancas[1]. Voando em um dia claro como aquele, aquelas aeronaves se destacaram bastante na paisagem.

Mas certamente para os natalenses que testemunharam o voo daqueles colossos aéreos, uma das coisas que mais deve ter chamado à atenção foi o ronco dos quatro motores que cada um daqueles majestosos aviões emitia. Pois era o inconfundível som dos motores Rolls-Royce Merlin, que equiparam e fizeram a fama de aeronaves inglesas como os caças Supermarine Spitfire e De Havilland Mosquito, além dos bombardeiros Vickers Wellington, Handley Page Halifax e os pesados Avro Lancaster. E as aeronaves que sobrevoaram Natal naquela sexta feira eram dois originais quadrimotores Avro Lancaster da RAF (Royal Air Force).

Bem, alguém deve ter se perguntado – Mas o que aqueles aviões estavam fazendo em Natal?

Enfim, a guerra na Europa já havia cessado desde abril, os combatentes da FEB e da FAB retornavam da Itália cobertos de glórias e no dia anterior os americanos haviam lançado uma superarma chamada “Bomba Atômica” na cidade japonesa de Nagasaki, depois de terem destruído dias antes e com o mesmo tipo de artefato outra cidade chamada Hiroshima!

Certamente quase ninguém em Natal sabia a razão da vinda daqueles pesados bombardeiros Lancaster, ou de quem viajavam neles. Mas um dos tripulantes era ninguém menos que Sir Arthur Harris, o comandante da toda poderosa força de bombardeiros da RAF.

Seguramente essa ainda é uma das figuras mais controversas de toda a História da Segunda Guerra Mundial. Tudo por causa das suas ordens que provocaram indiscriminados ataques aéreos contra as cidades alemãs e a morte de milhares de pessoas, a grande maioria delas civis. Certamente a ação de Harris que mais chamou a atenção do público ocorreu nos últimos dias do conflito, ao ordenar a total destruição da cidade alemã de Dresden. Um objetivo militar sem nenhuma importância concreta, repleta de refugiados que fugiam dos exércitos russos e que sofreu três dias de bombardeios devastadores.

Sir Arthur Travers Harris – Fonte – Wikipédia.

Mas o que esse homem veio fazer no Brasil e em Natal?

Um Militar Rude e Difícil, Mas que Inspirava Seus Comandados

Arthur Travers Harris nasceu em Cheltenham, sudoeste da Inglaterra, em 13 de abril de 1892. Seu pai era um engenheiro e arquiteto lotado no serviço público indiano e sua mãe uma típica dona de casa inglesa. Sua família vivia na Índia, mas Harris estudou na Inglaterra. Aos dezessete anos e contra a vontade do seu pai, largou tudo e foi para a colônia britânica da Rodésia, na África, atual Zimbábue. Ali tentou a sorte na mineração de ouro, na condução de diligências e na agricultura. Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu, ele se juntou ao 1º Regimento da Rodésia e lutou na vitoriosa campanha para dominar territórios alemães no sudoeste da África.

Harris retornou à Inglaterra em 1915 e decidiu se juntar ao incipiente corpo de aviadores do exército. Ali obteve sucesso como piloto, provando ser um combatente tranquilo e eficaz, sendo-lhe atribuídas cinco vitórias aéreas. Em 1918 se juntou à recém-fundada RAF como oficial de carreira e chegou a comandar um esquadrão. Foi lembrado como um oficial que buscava constantemente maneiras de aprimorar o desempenho tático e técnico de seus comandados, mas era também rigoroso e exigia altos padrões de desempenho de todos ao seu redor.

Com o fim da Primeira Guerra Harris serviu na Índia, Iraque e Irã. Durante esse período a RAF realizou bombardeios com gás e bombas de ação retardada contra as tribos iraquianas que se rebelaram contra o domínio britânico. O Comodoro do ar Lional Evelyn Oswald Charlton, chefe do Estado Maior da RAF no Iraque, ficou horrorizado ao visitar em 1924 um hospital que abrigava vítimas civis desses ataques aéreos. Ele então se opôs a essa política e ou a criticar abertamente tais ações de bombardeio, o que o levou a renunciar ao seu comando. Não descobri o quanto e como Arthur Harris participou dessas ações, mas sei que ao lhe perguntarem o que achava dos bombardeios, a sua resposta foi “-A única coisa que os árabes entendem é a força e a mão pesada“.

Entre 1928 e 29, Harris frequentou a Escola de Estado-Maior e foi tendo uma progressão normal na sua carreira. Ele defendeu abertamente a produção de bombardeiros que pudessem atingir a União Soviética. Acreditava que o comunismo era a principal ameaça à Grã-Bretanha e foi considerado um dos primeiros “Combatentes da Guerra Fria“. Acreditava também que a Inglaterra entraria em guerra contra a Alemanha Nazista e previu corretamente 1939 como o ano do início desse conflito.

Bombardeio noturno da RAF na Segunda Guerra Mundial – Fonte – Wikipédia.

Harris ou os primeiros meses da Segunda Guerra comprando aeronaves para a RAF nos Estados Unidos. Mas ele achou seu relacionamento com os americanos muito difícil. Disse a amigos que não gostava de ter que lidar com “um povo tão arrogante, que simplesmente se recusava a ouvir os conselhos técnicos dos britânicos”. Harris também reclamou que os americanos não iriam lutar, a menos que fossem empurrados para a guerra.

Em fevereiro de 1942, Harris foi chamado de volta a Londres para ser nomeado comandante em chefe do Comando de Bombardeiros. Embora muitos no Ministério da Aeronáutica o considerassem rude e inível, ele também era capaz de inspirar intensa lealdade naqueles que serviram com ele.

Harris herdou uma força de uns 400 bombardeiros em condições de combate e apenas um punhado eram quadrimotores novos. Nessa época as suas aeronaves eram capazes de modestos e imprecisos ataques contra áreas do oeste da Alemanha e o lançamento de inúteis panfletos com pedidos para as forças de Hitler encerrarem as suas ações de combate.

Heinkel 111, o principal bombardeiro dos alemães na Segunda Guerra, em ação nos céus da Polônia em setembro de 1939 – Fonte – Wikipédia.

Mas é bom que se registre que quem começou os bombardeios contra civis na Segunda Guerra foram os alemães. Aconteceu já no primeiro dia do conflito, 1º de setembro de 1939, quando Varsóvia, capital da Polônia, foi alvo de uma campanha irrestrita de bombardeios aéreos iniciados pela Luftwaffe, a força aérea nazista. Em seguida foi atacada com extrema violência a cidade de Roterdã, na Holanda, seguida de Coventry, Londres e outros centros urbanos britânicos. Isso apenas para citar alguns alvos da Luftwaffe.

Harris e seus comandados decidiram então dar o troco!

Tempestade de Fogo

Arthur Harris não foi o inventor da guerra aérea contra as cidades, nem o comandante de unidades de bombardeiros que fizeram mais vítimas na Segunda Guerra Mundial e nem sequer o criador do conceito de bombardeamento estratégico. Mas ele foi um dos primeiros oficiais generais a aplicar esse conceito.

Foi o general italiano Giulio Douhet, que argumentou em sua influente obra “O Comando do Ar“, publicada em 1921, que o bombardeio estratégico — particularmente contra populações civis e a infraestrutura existente — poderia destruir a vontade de lutar de uma nação. O italiano acreditava que, ao infligir terror e destruição suficientes do ar, o moral da população civil entraria em colapso, forçando o governo inimigo a capitular. Chamou essa prática de “a mais alta arte da guerra aérea“, que provocaria nos inimigos “o esmagamento de todas as forças materiais e morais de um povo“.

Já seu colega britânico Hugh Trenchard defendia a ideia de decidir futuras guerras pelo ar, bombardeando alvos civis na retaguarda do inimigo.

Com o desenrolar da Segunda Guerra, a RAF ou a realizar ataques noturnos, mas os resultados foram decepcionantes. As perdas continuaram inaceitáveis ​​e a precisão dos bombardeios era péssima. Harris então buscou aperfeiçoar as táticas de bombardeamento de uma forma até então inimaginável: com base em critérios cientificamente estabelecidos, sua equipe selecionou as cidades na Alemanha que poderiam ser mais facilmente incendiadas do ar, realizando o chamado “Bombardeamento de área” e sem se importar com a precisão.

Esquadrilha de Lancaster durante a Segunda Guerra.

Seus pilotos aprenderam a lançar sua carga mortal nos centros densamente povoados, com ataques que concentravam muitos bombardeiros para destruir o máximo que pudessem e sobrecarregar os serviços de uma cidade. Harris também decidiu apostar as reservas do Comando de Bombardeiros em ataques de peso sem precedentes: centenas de aeronaves contra um único objetivo.

O primeiro-ministro britânico Winston Leonard Spencer Churchill e sua equipe aérea de alto escalão acreditava que o bombardeio de área desaceleraria a produção bélica alemã, destruiria o moral da frente interna e talvez levasse a uma revolta dos trabalhadores contra o regime nazista.

Em 1942 o Comando de Bombardeiros Britânico ou a contar com a parceria da formidável Oitava Força Aérea dos Estados Unidos, com suas tripulações e seus bombardeiros quadrimotores B-17 e B-24, que uniram forças aos bombardeiros ingleses Wellington, Blenheim, Stirling, Halifax e Lancaster.

Não demorou e a destruição das cidades alemãs logo ultraou o alcance e a ferocidade que a Luftwaffe havia feito em Varsóvia, Roterdã, Coventry ou Londres. As cidades de Lübeck, Rostock e Colônia foram as primeiras urbes alemãs a serem quase que totalmente destruídas por bombardeios. Em Hamburgo, outra “primeira vez” foi alcançada em 1943: em uma tempestade de fogo de proporções apocalípticas, cerca de 40.000 pessoas, a maioria delas civis, morreram queimadas. Nesse período, em apenas dez dias, mais civis foram mortos na Alemanha do que na Grã-Bretanha durante toda a Segunda Guerra.

A partir do verão de 1944, a RAF e os americanos conseguiam incendiar qualquer cidade alemã do ar, como Trier, Essen, Heilbronn, Stuttgart e Darmstadt. A sequência de ataques e seus resultados são inúmeros e seria até enfadonho listá-las nesse texto.

Já sobre os quadrimotores Lancaster, pode-se considerá-lo um dos maiores aviões de guerra de todos os tempos. Transportava uma carga normal de bombas de 6.300 kg e chegou a ser utilizado por 56 esquadrões do Comando de Bombardeiros da RAF. As tripulações dos Lancaster realizaram 156.000 surtidas sobre a Europa ocupada pelos nazistas e lançaram 681.645 toneladas de bombas. Com isso ajudaram a matar cerca de 600.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, e mais de um terço das moradias urbanas da Alemanha foram destruídas.

Três Lancaster da RAF em 1942– Fonte – Wilipédia.

Harris compreendeu as implicações sombrias do que lhe era exigido e dedicou-se à sua tarefa ingrata e nada glamorosa com vigor e por isso ganhou o apelido de Butcher (Açougueiro). Some-se a tudo isso o fato que mais de 55.000 homens das tripulações do Comando de Bombardeiros Britânico morreram e um total de 10.321 aeronaves foram perdidas em 389.809 surtidas.

O Controverso Herói de Guerra

No entanto, como comentamos anteriormente, Arthur Harris é mais conhecido pelo bombardeio à cidade alemã de Dresden, ocorrido entre 13 e 15 de fevereiro de 1945.

Poucos dias depois desse terrível e cruel ataque, ele teria dito a um dos secretários de Churchill: “– Dresden? Esse lugar não existe mais!”

Um dos dois únicos Lancaster em condições de voo na atualidade – Fonte – Wilipédia.

Com a destruição terrivelmente eficiente da velha cidade barroca alemã, que custou a vida de 25.000 pessoas, Harris havia ultraado um determinado limite na barbárie. Tanto que a necessidade do ataque a Dresden tão no fim da guerra tem sido muito debatida desde então.

A questão é que, em meio ao horror da Segunda Guerra Mundial, bombardear algumas cidades matando centenas de milhares de civis para desacelerar a produção bélica não parecia algo extraordinariamente cruel, especialmente se encerrasse a guerra mais cedo. Mas, ao final da guerra, quando os alemães estavam claramente prestes a se renderem em algumas semanas ou dias, o ataque a Dresden causou indignação e muitas vozes aram a reclamar dos ataques indiscriminados às cidades alemãs e das mortes de tantos civis.

Dresden, vista parcial do centro da cidade destruído, do outro lado do Rio Elba, até o bairro de Neustadt. No centro da imagem, estão a praça Neumarkt e as ruínas da Frauenkirche – Fonte – Bundesarchiv.

O primeiro-ministro Winston Churchill havia defendido o bombardeio da Alemanha e trabalhado em estreita colaboração com o Harris por três anos, mas em 1945 estava perpetuamente preocupado com o bombardeio de civis. Após Dresden e diante da reação indignada dos países neutros ao ataque, Churchill se distanciou do chefe do Comando de Bombardeiros, primeiro internamente e depois também em relação aos Aliados.

No fim das contas Arthur Harris nunca fez nada além de cumprir os desejos do seu Primeiro Ministro. A sua contribuição foi a consistência assassina, a determinação férrea, a crueldade para com seus próprios homens e também para com as vítimas alemãs.

O primeiro-ministro britânico Winston Churchill. 

E o que Arthur Harris fez diante das repercussões negativas e das críticas?

Deu uma esticadinha até o Brasil!

No Grande País Tropical

A razão divulgada nos jornais brasileiros para o comandante inglês sair da distante e fria Inglaterra para o nosso caliente e varonil país, seria assistir no Rio de Janeiro ao desfile da chegada do 2º escalão da Força Expedicionária Brasileira. Ao menos isso foi o que publicou com destaque os jornais cariocas, mas Harris só chegou três dias depois que nossos pracinhas da FEB desfilaram pelas ruas do Rio e ninguém explicou a razão da sua não participação!

Independente disso, no dia 25 de julho de 1945, três quadrimotores Lancasters B.III partiram da base da RAF de St. Mawgan, na Cornualha, no extremo sudoeste da Inglaterra. Eram as aeronaves com os indicativos NX687, NX688 e NX689, todas do 156 Squadron.

Os Lancaster que trouxeram Arthur Harris aop Brasil., estavam pintados com o esquema da “Tiger Force”.

Após paradas para reabastecimento e descanso em Rabat, no Marrocos, e na cidade de Bathurst, então capital da colônia inglesa da Gâmbia e atualmente conhecida como Banjul, o primeiro dos três quadrimotores ingleses chegou ao Recife na tarde do dia 27 de agosto, faltando dez minutos para as quatro horas.

Foi o Lancaster NX687 que aterrissou no Campo do Ibura, ou Ibura Field para os americanos, onde um grande número de autoridades e populares aguardava o “Grande Herói Inglês”. Mesmo depois de nove horas de voo, Harris e seu séquito só desembarcaram depois que os funcionários do Serviço Nacional da Malária dedetizaram totalmente a aeronave.

Desembarque no Campo do Ibura, em Recife.

Ao finalmente desembarcar, Harris foi recebido por Etelvino Lins de Albuquerque, Interventor Federal em Pernambuco, e pelo brigadeiro Ajalmar Vieira Mascarenhas, comandante da 2ª Zona Aérea da FAB. Depois das solenidades de praxe, seguiram em cortejo pelas ruas da capital pernambucana até o Grande Hotel, onde atualmente funciona o Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, na Avenida Martins de Barros, 593, bairro de Santo Antônio.

Às quatro e meia chegou o segundo Lancaster e devido a um problema mecânico o terceiro avião ficou de aterrissar em Recife só no outro dia. Um dado interessante é que na chegada da segunda aeronave desembarcou no Campo do Ibura um oficial inglês alto, de boa aparência, falando português fluentemente com os oficiais brasileiros e que trazia pela mão uma criança.

Harris discursando para as autoridades brasileiras, tendo a sua esquerda o capitão da RAF Walter Pretyman como seu tradutor. A direita de Herris está o brigadeiro Eduardo Gomes.

Esse oficial era o capitão Walter Frederick Pretyman, um londrino de família pertencente ao mais fino High Society britânico, antigo estudante da Universidade de Oxford, que havia desembarcado no Brasil em 1923 e se apaixonou pelo país. Aqui Walter Pretyman morou no Rio de Janeiro, se tornou um empresário de sucesso no ramo açucareiro na cidade carioca de Campos e foi um dos fundadores da poderosa Usina Santa Cruz. Também no Rio ele foi um dos fundadores e assíduo frequentador do Gávea Golf and Country Club e um dos pioneiros do jogo de polo em nosso país[2].

Pretyman era muito ativo na alta sociedade carioca, com amizades entre muitos oficiais das forças armadas brasileiras e membros do governo de Getúlio Vargas. Com a entrada da Inglaterra na guerra ele voltou para Londres em 1942 e se alistou na RAF. Quis o destino que se tornasse um dos membros do staff de Arthur Harris no Comando de Bombardeiros e foi Pretyman que articulou a vinda deste chefe britânico ao Brasil.

Arthur Harris obsevando de binoculos uma corrida de cavalos no Jockey Club no Rio de Janeiro, tendo ao seu lado Walter Pretyman e o Ministro da Aeronáutica Salgado Filho.

Seu entrosamento com o comandante dos bombardeiros era tanto, que Harris deixou que o capitão Pretyman trouxesse no Lancaster a sua filha Cristina, nascida no Brasil e com cinco anos de idade em 1945. Nessa época Pretyman era viúvo e poucos anos depois se casaria com a paranaense Vera Sá Souto Maior.

Visitando o Rio, Petrópolis, São Paulo e Porto Alegre

No dia 28 de agosto, com a esquadrilha britânica já completa, partiram do Recife às nove da manhã em direção ao Rio de Janeiro. Na chegada fizeram um sobrevoo sobre a Cidade Maravilhosa, chamando a atenção dos cariocas e depois pousaram no Aeroporto Santos Dumont.

Quem primeiro se entendeu com Arthur Harris na pista do aeroporto foi o gaúcho Joaquim Pedro Salgado Filho, Ministro da Aeronáutica. Pelos próximos doze dias o inglês iria conhecer muita coisa no Brasil e aproveitar a estadia.

Sentados da esquerda para direita estão Donald Saint Clair Gainer, Getúlio Vargas, Arthur Harris e Salgado Filho. O capitão da RAF Walter Pretyman está em pé e de costas, atuando como tradutor. Junto com ele nessa função está o brigadeiro da FAB Antônio Appel Neto, visível no reflexo do espelho e com uniforme claro.

Logo Harris teve um encontro protocolar com Getúlio Vargas e os tradutores foram o capitão Walter Pretyman e o brigadeiro da FAB Antônio Appel Neto.

Depois o comandante inglês e Sir Donald Saint Clair Gainer, Embaixador do Reino Unido no Brasil, ofereceram as autoridades brasileiras um concorrido jantar na Embaixada Britânica.

Arthur Harris apreciando um belo churrasco, junto com o brigadeiro Appel Neto.

Em outro momento Harris participou de um evento especial no grill-room do mundialmente famoso Casino da Urca. O “grill” era um grande salão com um bem estruturado palco para apresentações e recebia grandes atrações e shows. Harris não ficou só no Rio, visitou também a cidade de Petrópolis, onde se hospedou no Hotel Quitandinha, o maior cassino hotel da América do Sul. Depois seguiu de avião para São Paulo e na sequência para Porto Alegre, onde Salgado Filho o ciceroneou na capital dos gaúchos e visitaram a Base Aérea de Canoas.

Nessas visitas, para deleite dos brasileiros, Harris deixou de lado o tradicional chá inglês e publicamente se fartou de café brasileiro de primeira qualidade.

Em nome da RAF o inglês homenageou a figura de Santos Dumont, colocando uma coroa de flores no monumento existente em frente ao terminal de ageiros do aeroporto que homenageia o nosso Pai da Aviação.

Nesse dia os quadrimotores Lancaster foram abertos para a visitação pública e o comparecimento dos cariocas foi enorme.

Como não poderia deixar de ser em se tratando de uma personalidade estrangeira, mesmo sendo um controverso herói de guerra, o governo brasileiro outorgou a Harris a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria que o Brasil concede a cidadãos estrangeiros. Mesmo sem achar que Harris merecia receber uma medalha dessas, eu até entendo as razões diplomáticas para o governo lhe entregar esse belo regalo. Só não entendi mesmo foi porque os aviadores da RAF Alan John Laird Craig, Charles Cranston Calder e Robert Martin Brown Cains foram igualmente agraciados com essa comenda[3].

Finalmente em Parnamirim Field

Na manhã de 10 de agosto duas aeronaves Lancaster da RAF decolaram para Natal, onde chagaram na parte da tarde. Não encontrei nos jornais nenhuma informação sobre o destino do terceiro avião.

Após sobrevoarem a cidade do Natal, os Lancaster aterrissaram em Parnamirim e Harris foi recebido pelo Desembargador João Dionísio Filgueira (então Interventor Federal Interino do Governo do Rio Grande do Norte)[4], o coronel norte-americano William David (Subcomandante da Divisão do Comando de Transporte Aéreo para o Atlântico Sul)[5], o coronel John M. Price (Comandante da Base Americana em Natal)[6], Jaime Wanderley (Representante de José Augusto Varela, então Prefeito de Natal), o major Salvador Roses Lizarralde (Comandante da Base Aérea de Natal) e outras autoridades brasileiras e americanas.

Em síntese a visita de Arthur Harris a Parnamirim foi rápida e pouca coisa em termos de informações eu consegui sobre o que aconteceu. Sabemos que ele percorreu as dependências da grande base, que houve um jantar no casino dos oficiais, que ele e seu séquito não vieram para Natal (pernoitaram na base) e que no outro dia pela manhã partiu para os Estados Unidos.

Apesar de parecer uma visita rápida, protocolar e simplória, o que mais me chamou a atenção foi encontrar várias declarações que Arthur Harris fez aos jornalistas brasileiros sobre a importância de Natal e sua grande base aérea para o esforço de guerra. Trago aqui duas destas declarações que foram publicadas em jornais cariocas.

Tal como muitos militares de renome e prestígio que atuaram na Segunda Guerra Mundial e estiveram em Parnamirim Field, como os generais Dwight D. Eisenhower, Mark Clark, Willis Crittenberger e outros, o inglês Arthur Harris sabia o valor daquela base e desejou conhecer esse local que ajudou as forças aliadas a ganhar a guerra contra o nazi fascismo.

As suas impressões sobre esse local eu não consegui encontrar. Mas, quem sabe, como Harris era um estrategista de mão cheia, talvez ele tenha pensado que os americanos iriam continuar por aqui depois de construir aquela cara e enorme base aérea e não entregariam nada aos brasileiros. Então, em um possível e futuro conflito contra os soviéticos, estar presente em Parnamirim Field poderia ser interessante para a RAF!

Bem, se ele assim pensou isso logo se desvaneceu, pois Harris deixou à RAF em 15 de setembro de 1945. Isso aconteceu em meio a uma disputa com o novo primeiro-ministro inglês Clement Attlee. Amargurado, ele foi viver na África.

Criminoso de Guerra?

Após a sua temporada africana e logo depois que Winston Churchill retornou ao poder na Grã Bretanha em 1951, Arthur Harris voltou ao seu país de origem.

Foi quando recebeu a oferta de ser agraciado com um título de nobreza, situação que ele recusou. Mas em 1953 aceitou um título mais modesto de baronete. No final das contas Harris nunca foi homenageado no mesmo nível de outros heróis de guerra britânicos, como os generais de exército Bernard Law Montgomery e Harold Alexander, ou comandante de caças da RAF Hugh Dowding.

Arthur Harris então se estabeleceu definitivamente com a sua família em Oxfordshire, aproveitando uma aposentadoria tranquila, porém ativa. Mas na década de 1960 a opinião pública britânica se voltou fortemente contra Harris e ele ou a ser visto por muitos como um “criminoso de guerra“.

Enfim, Arthur Harris foi um criminoso de guerra?

Não há uma resposta simples para isso: de acordo com critérios objetivos, a destruição seletiva dos centros urbanos alemães não era justificada militarmente e, portanto, era uma violação grave das leis da guerra. Por outro lado, essa violação não relativizou a culpa exclusiva de Hitler pela Segunda Guerra Mundial, nem pelos crimes de guerra da Wehrmacht e das tropas SS, e muito menos pelos assassinatos de milhões de judeus, eslavos, deficientes, homossexuais, ciganos e outros grupos de seres humanos.

Harris trabalhando no Comando de Bombardeiros.

Apesar disso, no entanto, o horror em relação à figura de Arthur Harris permaneceu. E ele ajudou bastante em tudo isso!

O ex-comandante dos bombardeiros lançou um livro com as suas memórias da Segunda Guerra. Intitulado “Bomber Offensive”, veio com muitas justificativas para as suas ações e entre estas existe a seguinte agem: “Apesar de tudo o que aconteceu em Hamburgo, o bombardeio era um método de guerra relativamente humano“.

Arthur Harris provavelmente nunca se considerou um humanitário, mas sim um comandante militar encarregado de matar alemães, fossem eles soldados ou civis.

Quando Arthur Harris faleceu, uma aeronave Lancaster sobrevivente realizou um sobrevoo sobre o cemitério onde acontecia o sepultamento.

Faleceu discretamente no dia 5 de abril de 1984, oito dias antes de completar 92 anos. Um preservado Lancaster sobrevoou o seu sepultamento e anunciou a homenagem final da RAF ao último de seus grandes comandantes da Segunda Guerra Mundial.

Quando foi decidido erigir uma estátua de Harris do lado de fora da igreja de St. Clement Danes, em Westminster, Londres, houve amplas objeções e severas críticas.

O homem se foi, mas a controvérsia que o cercava ainda persiste.

NOTAS ————————————————————————


[1] Essas pinturas brancas existentes nesses aviões Lancaster que vieram para o Brasil foram feitas para os Avro Lancaster do Comando de Bombardeiros Britânico que estavam destinados a atacar alvos no Japão. Essa foi uma oferta de Winston Churchill aos Estados Unidos para que 40 esquadrões de Lancaster fossem disponibilizados para uso na área do Oceano Pacífico e esse grande grupo de bombardeiros foi denominado “Tiger Force”. Durante a Segunda Guerra o esquema padrão do Comando de Bombardeiros Britânico em ação na Europa era a parte inferior preta e a parte superior com tons verde e marrom. Já nos Lancaster da “Tiger Force” a parte inferior preta foi mantida, mas a parte superior foi pintada de branco para refletir o calor. Com o lançamento das bombas atômicas sobre o Japão e a rendição desse país, a ideia da “Tiger Force” foi colocada de lado.

[2] Em 1926 Walter Pretyman sagrou-se campeão com a sua equipe em um badalado torneio de polo no Rio e a taça de vencedor foi entregue pelo então Presidente da República Arthur Bernardes.

[3] E ainda sobre essa história da entrega dessa comenda existe uma situação interessante. Antes da chegada de Arthur Harris ao Brasil, esteve em nosso país o general norte-americano Mark Clark, que foi o comandante do 5º Exército dos Estados Unido, que atuou na Campanha da Itália e tinha sob seu comando a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ocorre que Clark, que inclusive nessa ocasião veio ao Brasil para assistir a chegada do 1º escalão da FEB no Rio, não recebeu essa mesma honraria e desconheço a razão disso. Clark só veio a receber essa comenda em maio de 1975, das mãos do Presidente Ernesto Geisel.

[4] Dionísio Filgueira estava recepcionando o comandante Arthur Harris em razão da ausência de Natal do general Antônio Fernandes Dantas, o Interventor Federal do Rio Grande do Norte na época.

[5] O Comando de Transporte Aéreo (em inglês Air Transport Command – ATC) era o setor da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (United States Army Air Force – USAAF) que durante a Segunda Guerra Mundial organizou e operou os transportes aéreos do exército americano em todo o mundo.

[6] Essa base aérea era a famosa Parnamirim Field, que se subdividia em uma base área da força aérea do exército americano e outra da marinha dos Estados Unidos, que trabalhavam em parceria com a base aérea brasileira, a chamada Base Aérea de Natal, todas na mesma região. O coronel Price havia assumido esse posto recentemente, substituindo o coronel Léo F. Post.  

PRÁTICAS ANTIGAS DE HIGIENE QUE SÃO EXATAMENTE O OPOSTO DE LIMPEZA

Raios-X eram usados para depilação

Hoje em dia, quando as pessoas querem que seus pelos sejam removidos, elas geralmente optam por vários métodos como o uso de lâmina, cera e tratamentos a laser. Mas esses métodos nem sempre estiveram disponíveis, então o que as pessoas faziam anos atrás? A resposta é: raios-X! No início de 1900, os raios-X eram usados como meio de depilação. Você se sentaria na frente do equipamento de raios-X e terminaria em poucos minutos. Mal sabiam eles o quão prejudicial era a radiação.

As pessoas não conheciam os efeitos nocivos que os raios-X causavam, como úlceras e câncer induzidos pela radiação. Isso faz você se perguntar o que as pessoas estão fazendo hoje em dia que será considerado horrível em algumas décadas.

Os anos 1700 foram há muito, muito tempo atrás e tinham algumas práticas de beleza bizarras e repulsivas. Enquanto hoje as pessoas usam principalmente produtos de maquiagem como lápis e pós para preencher as sobrancelhas, as mulheres do século XVII tinham algo muito diferente: muitas usavam adesivos feitos de peles de rato como sobrancelhas. Esses adesivos eram considerados incrivelmente elegantes e bonitos, mas no mundo de hoje, isso é considerado nojento e assustador.

Esses adesivos faciais eram feitos para dar a impressão de sobrancelhas perfeitas completas mas, em última análise, servem como um lembrete de como algumas das coisas que as pessoas do ado faziam eram desagradáveis.

Depois de comer alho ou talvez beber uma xícara de café, você pode querer refrescar o hálito. O que você busca? Muito provavelmente um enxaguante bucal que contém um pouco de álcool e aromatizante de hortelã. Mas na verdade havia um tipo muito diferente de enxaguante bucal popular no século XVIII que continha xixi, porque a amônia também atua como um desinfetante. O uso deste tipo de enxaguante bucal pode ser rastreado até os tempos romanos.

Diziam que este enxaguante bucal limpava a boca e clareava os dentes. Quem diria que a urina poderia ter tantos usos nojentos?

Quando alguém morre nos dias de hoje, seu corpo geralmente é cremado ou colocado em um caixão, mas houve um tempo em que as pessoas mergulhavam os cadáveres em mel. Esse processo, chamado de melificação, essencialmente transformava um ser humano em uma múmia coberta de mel. O corpo seria colocado em um caixão embebido em mel e durava por até cem anos. Mas a pior parte é que às vezes as pessoas o comeriam.

Aparentemente, a mistura de humanos de 100 anos embebidos em mel deveria ser incrivelmente curativa. As pessoas acreditavam que a combinação poderia curar doenças e consertar membros quebrados.

Houve um tempo em que as pessoas iam todas juntas ao banheiro, completamente expostas. O local tornou-se até mesmo um ponto de encontro para conversar e socializar. Também não havia papel higiênico naquela época, então eles usavam coisas como palitos embrulhados em pano e mergulhados em água ou até mesmo folhas. Isso soa doloroso, estranho e bastante insalubre no mundo de hoje. Embora hoje as pessoas ainda usem o banheiro juntas em lugares públicos, pelo menos existem divisórias para tornar a experiência mais privada.

No geral, a configuração do banheiro romano dificilmente poderia ser considerada higiênica pelos padrões de hoje. E se você fosse o responsável por sua limpeza, sua vida seria horrível.

Nos dias vitorianos, as mulheres consumiam giz de verdade. Não porque era algo saboroso, mas sim porque era conhecido por tornar os lábios brancos, o que aparentemente era uma tendência de beleza na época. As mulheres até espalhavam o pó de giz em seus rostos: quanto mais pálidas elas parecessem, melhor. No entanto, essas mulheres vitorianas não sabiam que seus produtos de beleza eram altamente viciantes e até venenosos. A beleza realmente era uma dor para elas.

Felizmente, essa tendência acabou morrendo quando os efeitos colaterais foram trazidos à atenção das pessoas. Mas não demoraria muito para que a próxima coisa grosseira ou venenosa surgisse.

Olhando para trás no tempo, não há dúvida de que a higiene pessoal, os tratamentos médicos e as escolhas de beleza das pessoas eram totalmente repugnantes. Outra prática grosseira dos anos 1700 tem a ver com a maneira como estilizavam os cabelos. Era altamente elegante para as pessoas usarem seus cabelos com muito volume. Mas como elas conseguiam esse penteado? O cabelo permanecia no lugar com a ajuda de uma pomada, geralmente feita de banha de porco ou de ovelha.

Elas espalhavam a banha de porco no cabelo, semelhante ao gel de cabelo moderno, e avam dias sem lavá-lo, atraindo insetos e liberando um odor fétido.

A era elisabetana foi uma época cheia de técnicas de beleza bizarras e, quando se trata de cabelo, a lista de práticas grosseiras é interminável. Quando as mulheres daquela época queriam clarear o cabelo, elas precisavam de algo com amônia. Por que? Bem, a amônia atua como um agente de branqueamento que ilumina as madeixas. Mas o que continha amônia naquela época? A urina. O bom e velho xixi.

As mulheres encharcavam o cabelo com xixi apenas para conseguirem uma cor mais clara, que simplesmente soa absurdo atualmente. As distâncias que as pessoas percorriam pela beleza eram surpreendentes.

No mundo moderno, muitas vezes somos encorajados a clarear os dentes, pois isso é um sinal de limpeza. No entanto, nem sempre foi assim. Na verdade, era popular nos países do Sudeste Asiático e no Japão tingir os dentes de preto. Embora possa parecer assustador para a maioria das pessoas, elas usavam uma substância semelhante a um esmalte que deveria preservar os dentes e impedi-los de apodrecer. Acreditava-se até ser extremamente bonito.

Embora essa prática quase não exista mais, em alguns lugares esse costume continua em uso. Os padrões de beleza ocidentais chamariam isso de tabu.

Normalmente a visão de um castelo é de tirar o fôlego, e o fosso que o rodeia parece ser um pequeno lago sereno e bonito. Mas há um segredo que a maioria das pessoas não sabe: os fossos que cercavam os castelos não estavam apenas cheios de água. Era prática comum despejar dejetos humanos na água, transformando-a efetivamente em um esgoto. Isso resultava em fossos com um cheiro horrível que você preferiria evitar a todo custo.

Não havia drenagem adequada ou sistema de esgoto durante os tempos medievais, então os fossos faziam esse trabalho. Os empregados também despejavam comida e lixo neles.

Nos anos 1500, a sífilis, uma doença sexualmente transmissível, surgiu em toda a Inglaterra, e seus efeitos colaterais eram cruéis. As pessoas experimentavam feridas, cegueira, demência e até mesmo perda de cabelo extrema. Muitas tinham vergonha de terem ficado carecas, então o uso das perucas popularizou. Luís XIV chegou a contratar 48 pessoas diferentes cuja especialidade era a confecção de perucas, e isso se tornou a mais nova moda. As perucas consistiam em cabelo humano e, às vezes, de cavalos e cabras.

As perucas poderiam servir a múltiplos propósitos: esconder os efeitos da sífilis e da calvície, e servir como um símbolo do pertencimento à classe alta.

Quando as pessoas ricas perdiam os dentes, elas tinham a opção de substituí-los por próteses dentárias. Mas não apenas uma prótese regular qualquer, mas sim feitas de dentes reais. Nos anos 1800, elas foram apelidadas de “dentes de Waterloo” porque a maioria dos dentes dos soldados mortos na Batalha de Waterloo foram usados. Era um processo bastante horrível: as pessoas andavam pela cena da batalha e colhiam dentes dos cadáveres dos soldados e depois os vendiam.

Dentaduras com dentes reais, pertencentes a soldados mortos, no entanto, são perturbadoras e assustadoras de se pensar hoje em dia. No entanto, os ricos da época não tinham nenhum problema em usá-las.

Muitas pessoas ostentam sua riqueza com mansões gigantescas, carros esportivos de luxo, joias caras e roupas de grife. Mas você acreditaria que houve um tempo em que um sinal de riqueza era ter dentes podres? Acredite ou não, dentes podres eram populares e serviam como símbolo de status, pois significava que a pessoa consumia açúcar. O açúcar era uma mercadoria cara e rara que tinha que ser importada, e as pessoas comuns não podiam pagar por ele.

A rainha Elizabeth I era conhecida por sofrer de dentes podres, e as pessoas de classe baixa começaram a manchar as suas gengivas e dentes para imitar a sua aparência.

Os engraxates estavam por toda parte durante toda a era vitoriana. Muitas vezes você os via com um pequeno bloco para você colocar seu sapato que eles poliam, limpando toda a sujeira da rua fazendo-os parecer novos. No entanto, a graxa de sapato mais popular e ível usada era um produto químico forte: o nitrobenzeno, que poderia causar sérios problemas de saúde, especialmente após exposição repetida.

O nitrobenzeno era tão venenoso, que podia fazer com que as pessoas desmaiassem e, para quem trabalhava diariamente com ele, podia levar à morte – um preço considerável a pagar por sapatos limpos.

A sífilis foi difundida em 1500, e os médicos descobriram o que pensavam que seria a cura. Dosar as pessoas com mercúrio parecia fazer o truque. Os pacientes seriam esfregados com pomada de mercúrio várias vezes ao dia, apesar dos intensos efeitos colaterais. O tratamento duraria anos. No entanto, era conhecido por causar úlceras, perda de dentes e insuficiência renal. O tratamento com mercúrio sozinho poderia matar os pacientes antes que a doença o fizesse.

É uma loucura pensar que antigamente era considerado como se fosse uma boa ideia o uso do mercúrio para se livrar de uma doença geral. Dá para ficar pior do que isso?

Hoje não é incomum que as pessoas acordem e se dirijam direto ao banheiro para escovar os dentes, geralmente usando pasta e escova de dente. No entanto, os antigos gregos e romanos usavam ossos esmagados, carvão e cérebros de ratos para limpar os dentes. Isso mesmo, cérebros de ratos. Embora repulsiva e assustadora para uma pessoa moderna, esta era uma prática comum usada por muitos quase diariamente como uma forma de higiene dental.

Essa descoberta só leva ao pensamento de que não há dúvida de que o hálito daquelas pessoas devia ser inável. Esta é uma prática de higiene que nunca mais deve voltar.

Era uma prática comum usar sanguessugas para tratar várias condições médicas. Havia uma obsessão com esses vermes sugadores de sangue, que seriam mantidos em frascos e vistos como a ferramenta médica mais confiável e valiosa. As sanguessugas eram colocadas na pele de um paciente e deixadas para sugar o seu sangue por longos períodos de tempo. Aparentemente, isso livraria a pessoa do sangue contaminado e, portanto, libertaria a pessoa da doença.

Os médicos muitas vezes prescreviam sanguessugas como tratamento. No entanto, hoje em dia isso é conhecido por causar mais mal do que bem. Aqueles tempos eram muito sombrios, e as suas práticas bizarras parecem nunca acabar.

O parto é uma experiência intensa e dolorosa, mas durante a Idade Média era um pesadelo. Era muito comum que as mulheres morressem durante o processo, embora as parteiras fizessem tudo o que pudessem para aliviar a dor. Uma prática desta época que se acreditava ajudar era esfregar uma mistura de fezes de águia e água de rosas nas coxas da mulher, pois acreditavam que isso aliviaria qualquer dor e ajudaria o parto a ocorrer sem problemas.

É difícil acreditar que qualquer um desses métodos realmente funcionava como pretendido. O pensamento de esterco de águia espalhado pelas pernas soa muito nojento.

Ao longo da história, os médicos tinham uma crença generalizada de que as dores de dente eram o resultado de um verme roendo os dentes. Obviamente, os médicos do ado não entendiam muito sobre cáries e, em vez disso, confiavam em suas superstições. Eles compilaram muitos tratamentos para combater esses minúsculos vermes dentários. Um tratamento consistia em encher a boca com a fumaça de um cigarro ou de uma vela que em seguida seria cuspida em uma tigela de água morna.

Dizia-se que esta era a única maneira de se livrar dos vermes dos dentes. Pelo bem de seus dentes, fique feliz por viver no século XXI com a medicina moderna.

Você já acordou no meio da noite com um súbito desejo de ir ao banheiro? Séculos atrás, eles tinham uma solução para isso. As pessoas mantinham potes perto de suas camas e os usavam durante toda a noite. E então, de manhã, você o despejaria. Ou se você tivesse sorte, seus servos o esvaziariam para você, e você nunca veria nada. Não muito sanitário, mas bastante conveniente.

Se os potes de urina e fezes ficassem debaixo da cama por horas a fio, o cheiro ficaria incrivelmente desagradável. No entanto, essas práticas de higiene só pioram.

Você deixaria um barbeiro ou cabeleireiro arrancar seus dentes? Essa parece ser uma pergunta estranha, certo? Bem, era comum há centenas de anos ter esses serviços feitos no mesmo lugar. Os barbeiros eram vistos como capazes de realizar diferentes ofícios e realizavam pequenas cirurgias. Eles cortavam o cabelo, arrancavam dentes em decomposição e até aplicavam sanguessugas para tratar doenças. É tão estranho que esses serviços fossem feitos no mesmo lugar.

Mas novamente, a maioria das práticas daqueles tempos não faz sentido para a pessoa moderna. Então, quanto mais estranho pode ficar?

Os antigos gregos e romanos tinham um amor pela planta Silphium. Eles a usavam para tratar muitas doenças como cáries dentárias, mordidas, inchaços, e até mesmo como uma forma de controle de natalidade. Muitas mulheres bebiam uma mistura desta erva, alegando que era um afrodisíaco. Os romanos aram a amar tanto esta planta, que ela acabou extinta. Provavelmente isso foi uma coisa boa, no entanto, uma vez que esse não era um método adequado para o controle de natalidade.

Teorizou-se que a forma da semente da amada planta parecia um coração, o que inspirou a forma usada na moeda romana.

Lavar suas roupas geralmente consiste em jogá-las em uma máquina de lavar com um pouco de sabão e deixá-la fazer todo o trabalho. Se você tiver sorte, também tem uma secadora e suas roupas são lavadas, secas e limpas em poucas horas. No entanto, houve um tempo em que as pessoas limpavam suas roupas à mão e as encharcavam com urina envelhecida. A amônia na urina tiraria quaisquer manchas presentes na roupa.

Embora isso pareça nojento, era a maneira mais eficaz de limpar roupas na época. Apenas fique feliz por isso ser uma coisa do ado.

Pentear o cabelo faz parte da rotina diária da maioria das pessoas, mas em 1800, a maioria dos pentes e escovas eram feitos de marfim. Isso os tornava iníveis inicialmente, porque o marfim era muito caro e, no início dos anos 1900, uma alternativa foi criada. Os pentes começaram a ser produzidos com um material chamado celuloide. Só que havia um grande problema com esses novos pentes: eles pegavam fogo e explodiam com frequência.

O celuloide nem precisava ser tocado por uma chama para pegar fogo. Se estivesse perto de uma fonte de calor, entraria em combustão. Infelizmente, algumas pessoas morreram enquanto penteavam suas barbas ou cabelos.

Todo mundo pode atestar que uma das coisas mais irritantes é quando uma mosca fica te circulando e zumbindo no seu ouvido. Os faraós egípcios não eram estranhos a isso, mas chegaram a uma solução, embora estranha e ligeiramente grosseira. A fim de manter as moscas e outros insetos longe do Faraó, seus servos teriam que ar mel em todo o corpo. Isso atrairia todos os insetos para eles, mantendo-os longe de seu governante.

Esta solução pegajosa funcionava, mas devia ser absolutamente inável. Os servos provavelmente ficavam pegajosos por dias e os banhos, como você os conhece hoje, ainda não existiam.

Os anos 1500 foram uma época estranha, cheia de práticas preocupantes. E quando se trata de controle de natalidade para mulheres, não é surpresa que as técnicas usadas eram inacreditáveis. As mulheres bebiam uma poção tão horrível, que apenas ouvir sobre ela fará seu estômago revirar. A bebida era uma mistura de luar com testículos moídos de castor. É uma triste e perturbadora realidade que estas eram as medidas que as mulheres tinham que usar para evitar a gravidez.

Embora você possa ficar em dúvida se esse método realmente funcionava, é bom saber que as alternativas modernas não incluem partes do corpo de um pobre castor.

Conversar com alguém da era vitoriana devia ser difícil por conta dos cheiros. Escovar os dentes não era muito comum e, considerando que mesmo quando as pessoas o faziam elas usavam urina, ervas queimadas e vinho, é difícil imaginar que cheiravam bem. Muitas vezes elas usavam uma combinação de ervas queimadas como alecrim ou até mesmo vinho gargarejado como enxaguante bucal. Não há como alguém se sentir revigorado depois disso, então a prática é bastante intrigante.

Parece que a maioria das práticas de higiene que as pessoas usavam no ado fazia mais mal do que bem. Felizmente, temos a pasta de dente hoje em dia.

A vida na Idade Média parecia desconfortável e bastante repugnante. Como absorventes e tampões ainda não tinham sido inventados, as mulheres tinham que improvisar sempre que menstruavam, usando algo que se assemelhava a roupas íntimas forradas com trapos. Se fossem particularmente pobres, os trapos eram encharcados de musgo para absorver o sangue. Não é uma experiência divertida, sanitária ou reconfortante. As mulheres que viveram durante esse tempo devem ter sido muito infelizes.

As mulheres medievais não tinham o luxo de ir à farmácia para comprar absorventes ou tampões. Seus métodos de sobrevivência eram necessários, porém, infelizmente terríveis.

As pessoas de 1800 não tinham preocupação ou medo de germes e bactérias. Quando se tratava de realizar qualquer tipo de cirurgia, os médicos nunca esterilizavam as ferramentas usadas. Isso não foi sequer um conceito trazido à atenção das pessoas até o final do século. Isso colocava as pessoas em alto risco de infecção, porque os mesmos instrumentos não limpos eram usados de pessoa para pessoa e podiam muito bem espalhar doenças potenciais.

Se isso não fosse assustador o suficiente, também não havia um anestésico decente, então quando você era cortado, você sentia a dor do corte. Realmente algo saído de um filme de terror.

As mulheres sempre compram produtos diferentes para melhorar as suas aparências. Os padrões de beleza estão mudando constantemente, mas inevitavelmente sempre visam as mulheres, e os séculos 16 e 17 não foram diferentes. Uma tendência da época era ter pupilas grandes e dilatadas e bochechas rosadas puramente para fins estéticos, mesmo que a única maneira de conseguir isso fosse comendo uma planta muito venenosa chamada beladona. Os efeitos colaterais eram horríveis, mas, novamente, a beleza dói.

As mulheres arriscariam sofrer dos efeitos colaterais graves da ingestão desta planta como insuficiência cardíaca, alucinações, úlceras e dor de estômago severa. Valia a pena?

A calvície de padrão masculino é experimentada no mundo inteiro. No entanto, pode fazer com que muitos sintam vergonha com a perda de cabelo. No século XVI, a busca por uma solução começou e as coisas que as pessoas inventavam eram perturbadoras. Para aqueles que não gostavam de usar uma peruca, uma solução que pudesse ser aplicada à cabeça careca era a próxima melhor aposta. Você consegue adivinhar qual era a mistura que eles inventaram?

Eles achavam que uma mistura de excrementos de frango e potássio misturados e aplicados como loção em sua cabeça estimularia o crescimento do cabelo, embora isso nunca tenha realmente dado certo.

Quando as mulheres não têm o ao controle de natalidade, as soluções podem se tornar perigosas. As mulheres eram frequentemente usadas como cobaias para testar se várias substâncias funcionavam ou causavam algum efeito colateral. Neste caso, Lysol, uma solução desinfetante de limpeza, foi anunciada como efetiva. O controle de natalidade nos Estados Unidos não era legal, mas os anúncios para este produto promoviam seu uso como um salvador para a gravidez e todos os outros problemas de higiene feminina.

Como você pode ter adivinhado, o desinfetante agressivo não era bem sucedido ou seguro para ser usado nas regiões íntimas. Apenas o pensamento pode causar arrepios na espinha.

A rainha Elizabeth I era conhecida por ostentar uma aparência não natural e muitas vezes usava maquiagem à base de chumbo para parecer extremamente branca. Durante essa época, a pele pálida era muito popular e muitos a copiaram, esforçando-se para replicar sua pele pálida. O ato de ar chumbo na cara para conseguir isso era muito comum e incrivelmente ruim para a saúde. Acredita-se até que a rainha Elizabeth acabou morrendo de envenenamento por chumbo.

Muitos pensavam que a rainha cobria seu rosto com este pó facial feito de chumbo para cobrir cicatrizes de varíola e manchas. Em última análise, aqui está outro exemplo de beleza que causava dor, ou neste caso, morte.

Como você se sentiria se toda vez que fosse tomar banho, usasse uma grande piscina com todos os seus amigos? Meio estranho, né? Bem, na Idade Média isso não era algo incomum. Os balneários eram uma maneira comum de se limpar e socializar. Claramente, as pessoas que viveram durante esse tempo tinham visões distorcidas de limpeza. Sentar em uma piscina quente cheia de sujeira não parece uma ótima ideia.

Talvez até seja divertido tomar banho com um grupo de amigos, mas ter um banho privado é muito melhor. Não há exagero quando se diz que a higiene naquela época era essencialmente inexistente.

Pisos de junco foram populares durante toda a Idade Média até o século XVI. Era uma combinação de ervas e gramíneas compactadas e espalhadas pelo chão como um tapete. Seu objetivo era fornecer isolamento e encher as casas com uma fragrância doce. Infelizmente, também eram um terreno fértil para bactérias e insetos. Na maioria das vezes, tinham resíduos animais e restos de alimentos e bebidas.

A camada superior seria trocada semi-regularmente, mas era comum apenas jogar grama fresca no topo, deixando a camada inferior imunda. Podia levar décadas até que fosse devidamente removido e substituído.

Como todos sabemos, perder muito sangue pode levar à morte. Então, nos velhos tempos, as pessoas tinham que descobrir maneiras de parar o sangramento de ferimentos graves antes que as vítimas sangrassem e morressem. A solução era cauterizar as feridas usando um pedaço de metal segurado sobre um fogo para que estivesse fervendo. No entanto, as queimaduras causadas por isso eram tão intensas, que se a pessoa não morresse pela perda de sangue, morreria da dor da cauterização.

Esta era soa como pura dor, nojo e horror. Se já houve um momento para sermos gratos por vivermos com as invenções modernas, é agora.

É surpresa que as pessoas cheirassem mal durante a era vitoriana? Certamente, seres humanos têm odores corporais independentemente do período em que vivem ou viveram, mas com a falta de práticas adequadas de higiene, as cidades cheiravam absolutamente mal. Uma maneira de combater isso era carregando buquês de flores perfumadas. Dessa forma, você poderia andar e cheirar as flores o dia todo sempre que sentisse algum cheiro ruim. O que acontecia com bastante frequência, como você pode imaginar.

Especialmente em um dia quente, a cidade estaria cheia de cheiros pútridos que poderiam ser absolutamente ináveis, por isso, se você tinha algo para cheirar como flores ou um lenço perfumado, você era uma pessoa de sorte.

É bastante sabido que antigamente as pessoas não comiam com utensílios, e em muitas partes do mundo, até hoje esta é uma prática comum. Mas isso é particularmente nojento porque as pessoas da Idade Média não estavam interessadas em lavar as mãos. Portanto, quando comiam sem utensílios, comiam com as mãos cheias de bactérias e germes. Parece apetitoso, não?

Apenas tente não pensar muito sobre as mãos cobertas de sujeira não lavadas alcançando pratos comuns de comida. Os tempos medievais eram realmente sombrios.

Hoje as sardas são vistas como charmosas e bonitas. Mas houve um tempo em que as pessoas pensavam que eram feias e as comparavam a verrugas e manchas. Portanto, era uma prática comum tentar livrar o rosto usando enxofre. Esta não é a primeira vez que as pessoas colocaram produtos estranhos em seus rostos na esperança de atender a algum padrão de beleza. Felizmente, sardas não são algo que as pessoas queiram remover hoje em dia.

Esfregar enxofre na pele é uma maneira fácil de se queimar, por isso, se aquelas pessoas já não estivessem sofrendo o suficiente, adicione essa prática estranha à lista.

O envenenamento por chumbo era um destino comum para os antigos romanos. Seu principal suprimento de água ava por canos feitos de chumbo, por isso não é surpresa que a exposição constante os deixasse muito doentes. As consequências dessa exposição repetida levavam a coisas como náuseas, infertilidade, dor de estômago e até morte. Apesar dos efeitos horríveis, eles continuaram a usar chumbo porque era incrivelmente barato e ível – apenas outra coisa para adicionar à lista das práticas antigas e mortais.

A conveniência da água corrente provavelmente superou qualquer outro fator durante esse tempo. Mais uma vez, outra razão para sermos gratos pelas práticas modernas.