CAICÓ DOS PRIMEIROS TEMPOS

MATERIAL DA REVISTA “RN/ECONÔMICO”, Nº 124, JUNHO/JULHO 1981, PÁGS. 12 a 16.

Segundo o pesquisador da história de Caicó, Benedito Alves dos Santos, o povoamento inicial da cidade está íntima e inseparavelmente ligado à de toda a região seridoense e à de alguns municípios do Estado da Paraíba. Entretanto, é de crer-se que os fundamentos iniciais da colonização tenham sido lançados por volta de 1700, pelos batedores paraibanos, que chegaram à região para darem caça aos índios caicós que habitavam nas proximidades da confluência do Rio Barra Nova com o Seridó.

Com a expulsão dos indígenas, vieram os plantadores de fazendas, ajudados pelo negro, continuar a obra de desbravamento, esquadrinhando o território e fazendo surgir os primeiros núcleos demográficos, fundamentalmente ligados à criação de gado bovino. A povoação era conhecida em 1748, conforme é citada através de uma carta dirigida a Dom José Tomáz de Melo, governador de Pernambuco, datada de 1787 e subscrita pelo desembargador Antônio Felipe Soares de Andrade Brederodes, defendendo a elevação da povoação ao predicamento de vila. A região pertencia à freguesia de Piancó, Paraíba.

Catedral de Santana, Caicó, em 1981.

A esse tempo já a povoação era sede de distrito istrativo, criado por alvará de 1748 e também freguesia que fora criada em 15 de abril de 1748. De par com a denominação de Seridó existia também o topónimo Caicó, que vem citado em um documento atinente à instalação da freguesia, de 1748, registrado no Livro de Tombo da Catedral de Caicó e também mencionado em uma concessão de sesmaria feita em 7 de setembro de 1736, ao capitão Inácio Gomes da Câmara.

LENDAS

São várias as lendas que se conta sobre o nascimento do município, todas de uma beleza infinita, mas a mais interessante e a mais bela de todas é a colhida por Manuel Dantas: “Quando o sertão era virgem, a tribo dos Caicós, célebre pela sua ferocidade, julgava-se invencível, porque Tupan vivia ali, incarnado num touro bravio que habitava um intrincado mufumbal, existente num local onde está hoje edificada a cidade de Caicó. Destroçada a tribo, permaneceu intacto o misterioso mufumba, morada de um Deus, mesmo selvagem.

Sertão do Seridó – Foto – Liberanilson Martins da Costa, de São José do Seridó-RN.

Certo dia, um vaqueiro inexperto, penetrando no mufumbal, viu-se de repente, atacado pelo touro sagrado, que iria, indubitavelmente, matá-lo. Rapidamente inspirado, o vaqueiro fez o voto a Nossa Senhora Santana de construir ali uma capela, se o livrasse de tamanho perigo. Como por encanto, o touro desapareceu. O vaqueiro destruiu a mata e iniciou, logo, a construção da capela. O ano era seco e a única aguada existente era a de um poço do rio Seridó. O vaqueiro fez novo voto a Santana para o poço não secar antes de concluída a construção da capela. O poço de Santana, como ficou desde então denominado, nunca mais secou.

Reza a lenda que o espírito do Deus índio, expulso do mufumbal, foi se abrigar no poço, encarnando-se no corpo de uma serpente enorme que destruirá a cidade, ou quando o poço secar, ou quando as águas do rio, numa cheia pavorosa, chegarem até o altar-mor da matriz (hoje catedral) de Caicó onde se venera a imagem da mãe de Nossa Senhora.

ORIGENS

Belezas naturais da região do seridó – Foto – Liberanilson Martins da Costa, de São José do Seridó-RN.

O conhecimento do território ou município só pôde ser feito após os índios Caicós se dispersarem pelo Seridó. Disso resultou o propósito de colonização por parte dos primeiros desbravadores. Existem algumas crônicas escritas que dão conta da existência de uma fazenda fundada em 1624 por José Francisco Rangel, porém é muito racional que se firme a data da primeira, entrada um pouco antes de 1700, já que os batedores paraibanos conquistaram definitivamente com a expulsão dos índios. Aos primeiros descobridores do Seridó não ou despercebida a riqueza da terra em pastagens e aguadas, surgindo daí a ideia das primeiras fazendas.

Requeridas as primeiras datas e espalhada a notícia da “limpeza” (o índio era empecilho ao domínio dos povoadores) de uma nova paragem propícia à criação, acorrem os caçadores de terras paraibanos, pernambucanos e até mesmo alguns portugueses de nascimento, a fim de situarem seus gados nas novas áreas dominadas. Daí surgem as primeiras fazendas e a multiplicação dos núcleos demográficos por toda a ribeira, registrando-se os nomes do capitão Inácio Gomes da Câmara, Manoel de Souza Forte, tenente José Gomes Pereira como os mais antigos povoadores conhecidos.

O Seridó – Foto – Liberanilson Martins da Costa, de São José do Seridó-RN.

O RECONHECIMENTO

predominância da antiga povoação do Seridó. que se manifestava principalmente pela opulência das fazendas de gado da região seridoense, começou a ser reconhecida pelos poderes políticos e eclesiásticos a partir de 1748, ano em que foi constituída em sede de distrito istrativo e da freguesia. A criação do município veio um pouco depois, por alvará

ou ordem governamental de 28 de abril de 1788. elevando-se a aludida povoação ao predicamento de vila, isso, ao tempo em que o Estado era governado pelo Senado da Câmara de Natal, presidido por João Barbosa de Gouveia. A instalação do município teve lugar a 31 de julho de 1788.

Centro de Caicó em 1981.

Nos primeiros tempos a região do Seridó, Caicó, inclusive, esteve sujeita ou ligada ao Estado da Paraíba, pelo menos no que se relaciona com a vida religiosa, de onde se desligou em 1748. Dentro do Estado do Rio Grande do Norte, deve ter pertencido ao município de Natal. Primitivamente, Caicó esteve ligado à Comarca da Paraíba, até 1818 quando ou a pertencer ao Rio Grande do Norte, da qual se desligou para fazer parte da Comarca de Assu (Princesa), até a criação da Comarca do Seridó, pela Lei Provincial número 365, de 19 de julho de 1858.

A designação da Comarca foi mudada para Caicó, por Decreto número 33, de 7 do julho de 1890. O João Valentino Dantas Pinagé. No tocante à divisão eclesiástica, Caicó pertenceu algum tempo à Freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Piancó (PB) de onde foi desmembrada em 15 de abril de 1748, por ato do visitador Manuel Machado Freire, de ordem do reverendíssimo Frei Luiz de Santa Tereza, Bispo de Pernambuco, para constituir-se Paróquia com a invocação de Nossa Senhora de Santana, na qual estavam abrangidos, além da Ribeira do Seridó, Patos e Cuité, na Paraíba. A Freguesia foi instalada pelo padre Francisco Alves Maia. cura da Freguesia, em 26 de julho do mesmo ano de 1748, abrange atualmente, apenas o município de Caicó.

FATOS MARCANTES

Uma pesquisa feita por alunos do CERES, Antônia Figueiredo, Maria Bernadete, Marly Medeiros, Francisca Neuza, Francisca Porfírio e Maria Sueli, mostra os primeiros fatos e acontecimentos importantes para a história do município.

Pórtico defronte a Catedral de Santana – Foto – Rostand Medeiros.

Segundo a pesquisa o movimento do “Quebra Quilo” aco9nteceu em 5 de dezembro de 1874 e foi contra a aceitação da introdução do novo Sistema Métrico Decimal. Caicó foi iluminada pela primeira vez em 1909, com lampiões a querosene, pelo dr. Jose Augusto Monteiro e a 21 de abril de 1925 foi inaugurada a luz elétrica, sendo na época prefeito o senhor Joel Damasceno.

Já o primeiro jornal nascido em Caicó chamou-se “O Povo” e o primeiro número circulou no dia 4 de março de 1889, pertencente a José Renaut. Tinha a direção do dr. Diógenes Santiago da Nóbrega e de Olegário Vale.

O primeiro rádio que chegou a Caicó foi em setembro de 1932 e pertencia a uma sociedade. Já o primeiro telegrama foi recebido pelo senhor Gedeão Delfino, então da Mesa de Rendas. Na época as e encomendas dos Correios e Telégrafos era enviada de Natal a Caicó por meio de burros e cavalos. Mas em 1928, com a inauguração de uma linha rodoviária ligando Natal a Caicó, esse transporte ou a ser feito por ônibus de ageiros, conhecidos como “sopa”, e a agência dos Correios ou a receber a correspondência com maior rapidez e assiduidade.

O primeiro telegrafista foi José Antunes Torres, que exerceu o cargo, ininterruptamente, desde 19 de março de 1917 a 15 de agosto de 1932. O primeiro avião que sobrevoou Caicó era pilotado pelo francês André Depecker e trazia como ageiro o dr. Juvenal Lamartine, Governador do Estado e George Piron. O campo de aviação, situado no sítio “Baixa do Arroz” foi inaugurado em 19 de março de 1917. O primeiro automóvel que chegou à cidade foi durante o carnaval de 1919 e a primeira pessoa a avistar o auto foi Daniel Diniz. O proprietário era Coriolano de Medeiros, natural de Natal.

Interessante texto do historiador Luís da Câmara Cascudo escreve sobre Caicó no jornal natalense “A República” em 26 de março de 1929.

Manuel Batista Pereira foi o construtor do primeiro Mercado Público, mais ou menos em 1860, no local onde hoje está edificada a Praça da Liberdade. Na falta de uma estação de rádio, o primeiro alto-falante a transmitir informações em Caicó pertenceu ao Cel. Celso Dantas tendo sido ouvido pela primeira vez a 8 de julho de 1938. Em 1876 a cidade teve sua primeira banda de música, que foi organizada pelo maestro Tertuliano, mas a primeira retreta, realizada na avenida Seridó, realizou-se a primeiro de janeiro de 1908 e foi organizada pelo professor Manuel Fernandes.

A 24 de dezembro de 1938 chegava à cidade o primeiro “Snooker”(sinuca), trazido pelo cel. Celso Dantas. Em 1906 chegava mais uma diversão à Caicó: era o carrossel de Francisco Azevedo. Na Festa de Santana de 1910, no prédio da Prefeitura Municipal, funcionou a primeira sessão de cinema mudo. Só no dia 27 de dezembro do ano de 1936 o cel. Celso Dantas inaugurava o cinema falado moderno. No dia 22 de janeiro de 1922 acontecia o primeiro jogo oficial de futebol entre as equipes do Caicó Futebol Clube e Brasil Esporte Clube e só três anos mais tarde, a 21 de abril de 1925, jogava pela primeira vez na cidade, um time de fora.

Primeira turma de seminaristas do Seminário Diocesano de Caicó.

O dr. Washington Luiz foi o primeiro presidente a visitar a cidade. Isso aconteceu no dia 6 de agosto de 1926 e o dr. Pedro Velho foi o primeiro governador, exatamente a 5 de julho de 1901.

VILA DO PRÍNCIPE

A sede municipal teve inicialmente o nome de Seridó, ou, quando da criação do município, à denominação de Vila Nova do Príncipe, conservada pela Lei número 612, de 1868, que elevou à categoria de cidade. A velha denominação de Seridó, voltou a ser imposta pelo decreto número 12, de 1 de fevereiro de 1890 e, só em 7 de julho do mesmo ano é que recebeu o nome atual.

Castelo de Engady em foto de 2015 – Foto – Rostand Medeiros.

Caicó está edificada entre os rios Barra Nova e Seridó, que correm bem próximos, sendo caracterizados pelas seguintes coordenadas geográficas: Latitude Sul 6o 27′ 00″; Longitude W. Gr. 37° 02′ 00″. Rumo (em relação a capital) 030. Distância da Capital do Estado, em linha reta,

218 quilômetros e altitude de 157 metros e limita-se com algumas cidades desse Estado e com uma da Paraíba. São seus limites: ao Norte, Jucurutu; a Leste, Florânia, Cruzeta, Jardim do Seridó e Ouro Branco; ao Sul, Santa Luzia (PB), São João do Sabugi, e Serra Negra do Norte; a Oeste com Timbaúba dos Batistas, Jardim de Piranhas e São Fernando.

Antigo jornal de Caicó informando sobre o ataque de Lampião a Mossoró em junho de 1927.

Nenhum plano urbanístico orientou a construção da cidade e, nem tampouco existe qualquer trabalho de sistematização, a não ser o relativo cuidado com que a istração municipal orienta as novas construções. Entretanto o traçado das ruas é mais ou menos regular, apesar do acidentado terreno. As construções são na maioria do tipo colonial e de um meio termo entre colonial e moderno. Nota-se, entretanto, nas construções recentes, uma predominância

de linhas tipicamente modernas.

LIDERANÇAS

A população de Caicó, pelos seus líderes, nunca deixou de tomar parte nos acontecimentos que empolgaram a vida nacional. Em fins de 1831, formou-se em Caicó uma expedição guerreira para dar combate ao coronel de milícias Joaquim Pinto Madeira, que havia se assenhorado da Província da Paraíba.

1955 – Visita a Caicó do candidato a Presidente da República Juscelino Kubitschek.

O comando que foi composto de figuras da maior representação da zona, deu mostras de grande heroísmo, batendo-se valentemente em diversos encontros, sob a chefia do cel. José Teixeira, destacando-se pela bravura de que deram mostras o Alferes Canuto e os soldados Firmeza, Zuza da Cachoeira e Tomaz Cazumba. Quando da “Guerra do Paraguai”, formou-se também em Caicó um corpo de voluntários, a fim de combater em defesa da dignidade nacional, tendo por chefes José Bernardo e Manuel Basílio de Araújo. Esses voluntários, chegando ao Rio de Janeiro, foram dispensados de combater, regressando em seguida a terra natal. Também na Revolução Comunista, em 1935, Caicó armou um contingente de paisanos sob as ordens do senador Dinarte Mariz, Monsenhor Walfredo Gurgel e Eduardo Gurgel de Araújo, a fim de dar combate aos comunistas que haviam ingressado no interior. Esse contingente, no encontro da Serra do Doutor, conseguiu bater valentemente os revoltosos, numa emboscada estratégica, saindo plenamente vitorioso.

Governador Lavoisier Maia descerra uma placa na inauguração do 1º Batalhão de Engenharia e Construção (1º BEC) de Caicó..

Na política, floresceram vários partidos em Caicó, tanto monarquistas como republicanos, sobressaindo-se os chefes políticos locais pela preponderância que sempre exerceram no estado. Entre os grandes chefes políticos históricos, citam-se o padre Francisco Brito Guerra, José Bernardo de Medeiros, Joaquim Martiniano Pereira e Gorgônio Ambrósio da Nóbrega, José Augusto Bezerra de Medeiros e Dinarte de Medeiros Mariz.

Quando a luta pela libertação dos escravos ecoou pelo Brasil inteiro, organizou-se em Caicó uma comissão libertadora, dirigida por José Bernardo de Medeiros, Olegário Gonçalves de Medeiros Vale, Manuel Augusto Bezerra de Araújo, José Batista dos Santos Lula, padre Amaro Castor, Lindolfo Adolfo de Araújo, Salviano Batista de Araújo e outros. Esse comitê, empreendeu festas públicas em prol do movimento libertador e solenizava as cerimônias de alforria. Diz-se que ao ser decretada a Lei da Abolição da escravatura, já existiam poucos escravos em Caicó.

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1926 – CAICÓ ATRAVÉS DOS SEUS SERVIÇOS PÚBLICOS E PRIVADOS

Autor – Rostand Medeiros

Sabe-se que em toda aglomeração urbana, conforme avança o seu desenvolvimento ocupacional, vão surgindo diversos tipos de serviços públicos e privados que trabalham em prol das pessoas que ali vivem. Conhecer como era o funcionamento destes serviços, mesmo que de forma básica, faz com que exista a compreensão do dia a dia de uma cidade no seu ado (ou pelo menos de parte dela).

Até mesmo porque em muitos dos livros que tratam das histórias das cidades potiguares, encontramos mais à ação histórica de seus políticos, do que as características destas comunidades, ou o seu dia a dia.

Informações históricas de uma cidade não devem se restringir apenas a isso, até porque a história politica do Rio Grande do Norte é limitada quando se olha a competência de seus participantes, as suas qualidades pessoais, ou em relação as suas formações. O que vale na política do Rio Grande do Norte é somente o D.N.A. e o sobrenome.

Mas vamos ao que interessa.

Rotina

Ao lermos as velhas páginas do jornal “O Seridoense”, edição de 16 de julho de 1926, temos uma seção chamada “Informações”, que trata das repartições, atendimentos comerciais, dos profissionais liberais e outros serviços que existiam em Caicó, a principal cidade do Seridó Potiguar.

Na metade da década de 1920 do século ado o município de Caicó tinha uma população em torno de 25.000 mil habitantes, mas o núcleo urbano não tinha nem 8.000 almas. Apesar desta pequenez habitacional, Caicó já tinha um banco.

Aparentemente o tempo das velhas botijas para guardar valores estava acabando no Seridó. O fazendeiro e empreendedor Celso Dantas, além de possuir a única agência de automóveis da região, ainda tinha na sua agência bancária que representava o Banco do Brasil e o Banco de Natal na sua cidade e ficava localizado na então Rua Coronel Martiniano.

Se havia um banco, então havia muito dinheiro circulando. Se havia dinheiro, haviam bens patrimoniais sendo comparados e vendidos, então tinha que existir um cartório para sacramentar tudo. Este tabelionato ficava na Praça da Liberdade e o tabelião era o Sr. Elísio Dias de Medeiros.

Av. Seridó, centro e Caicó. Foto-José Eselino.

Se havia dinheiro e cartório certamente entre aqueles que tinham bens, uma hora ou outra haveria conflitos. Para dirimir problemas da elite local havia um juiz. Na época este era interino e o cargo estava entregue ao Dr. Eugenio Carneiro. Estranhamente o jornal “O Seridoense” não trás o endereço do Fórum, mas o da residência do ilustre magistrado.

Então ele despachava em casa?

Conflitos Jurídicos

Independente desta última questão, logicamente conflitos judiciais não existem sem os nobres advogados. Na Caicó de 1926, pelo menos listados neste jornal haviam quatro destes profissionais para resolver qualquer bronca.

Os ilustres doutores Pereira da Nóbrega (Praça da Liberdade), Renato Dantas (Rua Coronel Martiniano), Diógenes da Nóbrega (Rua Sete de Setembro) e Higyno Pereira (Rua Padre Sebastião) estavam a postos para defenderem o direito de quem lhes contratassem.

Nesta época de um Brasil extremamente agrário, uma grande demanda do judiciário de Caicó estava ligada a questão de terras. Eram comuns litígios para saber se uma fazenda tinha certo tamanho, ou sobre a divisão de terrenos em razão de uma partilha de propriedade. Então não é surpresa encontrar, logo após a lista de advogados, o nome do agrimensor local. Este era o Sr. Aureliano Gonçalves de Mello, que atendia em sua casa, na Rua Monte Petrópolis, número 11.

Prioridade na Saúde

Banco, dinheiro, cartório, justiça, advogados, divisão de terras poderiam ser sinônimos de problemas, stress, hipertensão, infarto, etc. Então seria hora de falar sobre os médicos e os boticários que atuavam na mais importante cidade do Seridó Potiguar.

Mas é aí que na nota do jornal surge algo muito interessante, pois em 1926, antes dos profissionais que cuidavam dos seres humanos, vem em destaque o nome do veterinário de Caicó. Estava esta função entregue ao Sr. Carlos Fonseca, residente a Praça da Independência, nº 26 e que, aparentemente, nem formado era. Comento isso, pois não aparece o tradicional “Dr.” dos bacharéis antes do seu nome. Se hoje certas “universidades” produzem uma enorme quantidade bacharéis que não sabem nada, naquele tempo no sertão, se um cidadão tinha um curso superior era para ser chamado de “Dotô”, pois realmente aprendia o que tinham estudado e, além do mais, havia pouca gente com nível superior. Mas para o Sr. Carlos Fonseca, se realmente ele não tinha curso superior, pelo menos para o jornal não fazia diferença.

Isso mostra que a saúde dos animais era mais importante do que a das pessoas na Caicó desta época?

Espero que não, mas a verdade é que o principal meio transporte ainda eram as alimárias e o gado vacum tinha vital importância na economia local.

Mas enfim, quem era que tomava conta da saúde do povo de Caicó nesta época?

Estão listados três médicos. Eram os doutores José da Silva Pires Ferreira, que tinha residência (e certamente o consultório) a Avenida Seridó, Aderbal de Figueiredo, que atendia a Rua Ferreira Chaves e Gil Braz de Figueiredo Araújo, na Praça da Matriz, em um “sobrado”.

Já as boticas, que nesta época já eram conhecidas como “pharmácias”, existiam duas, a “Nóbrega” e a “Gurgel”. O primeiro estabelecimento ficava na Rua Felipe Guerra e respondia pelo atendimento o “Pharmacêutico Chimico” Homero Nóbrega. O também “Pharmacêutico Chimico” José Gurgel de Araújo respondia pela outra farmácia, que ficava na Avenida Seridó. O jornal informava que ambos os estabelecimentos era abertos a qualquer hora do dia ou da noite.

Interessante era a atitude do dentista local, o Dr. Gorgônio Arthur, que atendia na Praça da Liberdade e tinha enorme confiança no que fazia, pois colocou textualmente no jornal que “garantia a qualidade dos seus trabalhos, de contrário não aceitaria pagamento”.

Falando com o Mundo e Diversão

Nesta época Caicó já se comunicava com o Mundo, mas não era pelo rádio. O serviço era feito pelas linhas da “Estação Telegraphica”, que ficava a Rua Coronel Manoel Gonçalves Valle e era comandada pelo habilidoso telegrafista era José Antunes Torres.

Outra forma de comunicação era a Agência dos Correios e Telégrafos, na Praça da Liberdade e era comandada Belmira Benigna Valle, a única mulher listada em todos estes serviços públicos e privados da cidade naqueles tempos.

Cidade calma, pacata e tranquila, é de se perguntar o que o caicoense fazia a noite.

A edição de 16 de julho de 1926 de “O Seridoense” aponta uma situação positiva e interessante. A biblioteca Olegário Valle, situada na Associação Educadora Caicoense, localizada na Praça do Rosário, estava aberta todas as noites, de 18 às 21 horas, com vasta quantidade de livros para aqueles que desejassem aprender algo mais.

Na listagem surge um interessante personagem, muito pouco abordado nas páginas dos jornais caicoenses da época. Os negros no Seridó são mais lembrados pelas suas comunidades afastadas e suas danças, tendo pouca representatividade na história da elite caicoense. Mas José Eselino era um negro que havia conseguido extrema respeitabilidade na Terra de Santana com um atelier de fotografias, que inclusive ilustram este artigo. Seu trabalho, que teria produzido mais de 10.000 fotos, é verdadeiramente excepcional e a ele se deve grande parte do conhecimento iconográfico desta cidade e de sua região.

Certamente havia bares, cafés e, obviamente, os ambientes voltados para o sexo pago. Estes locais “semi-públicos” eram de conhecimento geral, onde todo mundo sabia a sua finalidade, onde estavam localizados, quem trabalhava neles e quem frequentava. Salvo engano, um deles era chamado de “Cabaré de Pedro Casé”.

Mas isso não se publicava nos jornais locais.

E o Governo Para Cobrar

Por fim não podia deixar de faltar o governo.

O Federal era representado pela “Colectoria Federal”, a atual Receita Federal. Ficava localizada na Rua Ferreira Chaves, sendo o coletor Manoel Etelvino de Medeiros.

No jornal, a mais importante repartição pública do Estado era Mesa de Rendas, cujo titular era Jerônimo Xavier de Miranda.

Já que falamos de governo, o “Presidente da Intendência”, como era antigamente conhecido o cargo de prefeito das cidades brasileiras, era o Coronel Joel Damasceno e a tesouraria da Intendência de Caicó estava nas mãos do Sr. Tasso Dantas.

Centro de Caicó, década de 20 do século ado. Foto – José Eselino

Interessante notar que nessa época o governo, pelo menos até onde o informativo mostra, se fazia mais presente em Caicó para cobrar impostos.

Não podemos esquecer que a região ainda possuía uma grande produção algodoeira e evidentemente que estes produtos não poderiam sair da região sem pagar a parte que cabia ao governo.

Estes são alguns dados do dia a dia da principal cidade do Seridó Potiguar a oitenta e cinco anos atrás.

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