“QUEREMOS BOLSOS!” — GRITAVAM AS MULHERES HÁ 137 ANOS

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Moda da Era Vitoriana: apertada e sem bolsos Foto:Wikimedia Commons

Em 1881, na era do espartilho, Sociedade Por Vestimentas Racionais ou a encorajar as mulheres a usarem peças largas e confortáveis. E com bolsos

Letícia Yazbek

Fonte – https://tokdehistoria-br.informativoparaibano.com/noticias/reportagem/a-campanha-por-bolsos-nas-roupas-femininas.phtml?utm_source=facebook.com&utm_medium=facebook&utm_campaign=facebook

A luta pela liberação feminina sempre ou pelas roupas. Quando as sufragistas pediam pelo voto, no final do século 19, também pediam pelo fim das roupas extremamente opressivas da época. Anquinhas ficaram para trás e espartilhos podem se só um fetiche hoje. Mas uma questão nunca foi resolvida: onde estão os bolsos?

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Reunião de mulheres vestidas de acordo com as ideias da RDS – Domínio Público

Em 1881, a organização Rational Dress Society (“Sociedade por Vestimentas Racionais”) foi fundada em Londres, com o objetivo de lutar contra peças como espartilhos e sapatos de salto alto, que deformavam o corpo feminino e impediam os movimentos. Elas encorajava as mulheres a vestirem peças largas e confortáveis. E com bolsos.

A escritora Charlotte Perkins Gilman publicou no The New York Times em 1905: “As mulheres têm carregado bolsas, às vezes costuradas dentro das roupas, às vezes amarradas na cintura, às vezes carregadas nas mãos, mas uma bolsa não é um bolso”. Em 1920, Coco Chanel, que ajudou a popularizar as calças femininas e o fim do espartilho, começou a costurar bolsos em suas jaquetas.

A história de uma ausência

Quando um homem anda por aí com as mãos nos bolsos costuma ser visto como uma pessoa despojada, sem preocupações. O que se acharia de uma mulher assim, mal temos como saber. 

As peças masculinas são cheias de bolsos grandes e robustos, feitos realmente para carregar objetos. Aparecem em jaquetas, escondidos na parte de dentro dos paletós, em camisas, calças e, às vezes, até dentro de outros bolsos. Enquanto isso, as roupas femininas raramente têm bolsos. E, quando têm, eles são frágeis e rasos, muito mais costurados para efeito decorativo do que para ser úteis.

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No século 15, camponeses usavam bolsas penduradas em cintos Reprodução

O bolso é uma novidade histórica. Na Idade Média, homens e mulheres carregavam pequenas bolsas, que eram penduradas nos cintos ou amarradas ao redor da cintura. Por volta do século 16, com o crescimento dos centros urbanos e a necessidade de esconder os pertences de possíveis ladrões, as bolsas aram a ser costuradas na parte de dentro das jaquetas masculinas e das anáguas femininas.

Na Revolução Industrial, as pessoas aram a ter mais objetos para carregar, e os bolsos foram permanentemente incorporados a jaquetas, coletes e calças masculinas. Mas as mulheres continuaram usando bolsas, que balançavam, cheias de pertences, presas ao corpo.

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No fim do século 17, as mulheres aram a levar as bolsas nas mãos Reprodução

Na Era Napoleônica, a saia comprida e volumosa da era do Iluminismo entrou em decadência e em seu lugar entraram vestidos que revelavam a silhueta. Não havia mais como esconder as bolsas na parte de dentro das roupas. Então, as mulheres foram obrigadas a usar bolsas externas, ocupando eternamente um dos braços.

O desconforto provocado pelas bolsas fez com que as mulheres se manifestassem a favor de peças femininas mais confortáveis.

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Na Segunda Guerra, as roupas ganharam praticidade Reprodução

Durante a Segunda Guerra, quando as mulheres tiveram que assumir trabalhos tradicionalmente masculinos, aram a usar roupas mais práticas. As calças e jaquetas com bolsos se tornaram comuns, principalmente com a popularização do jeans, nos anos 1960. Mas os próprios jeans logo se separaram por gênero: os femininos ganharam bolsos pequenos e rasos, se não meramente decorativos.

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Coco Chanel usando calças com bolsos Wikimedia Commons

Alguns antropólogos acreditam que a falta de bolsos é uma estratégia para vender mais bolsas às mulheres, enquanto outros afirmam que o problema está relacionado à dominância masculina na indústria da moda dominada por homens. Apesar dos avanços conquistados nas últimas décadas, as roupas femininas continuam sendo fabricadas para serem bonitas, não úteis.