LINDBERGH E O PRIMEIRO VOO SOLITÁRIO ATRAVÉS DO OCEANO ATLÂNTICO

Charles Lindbergh

Adrienne B. Price – REVISTA AERONÁUTICA – JULHO-AGOSTO- 1977, Páginas 7 e 8.

“Lembro-me quando me achava sobre a relva, contemplando as nuvens, e pensava como seria divertido voar. Não pensava nos perigos – só estava interessado e chegar às nuvens”. Era esse o sonho de um rapazinho norte-americano, Charles Augustus Lindbergh, que crescia em Minnesota, onde seus avós se haviam estabelecido depois de emigrarem da Suécia.

O desejo de Lindbergh continuou com ele a vida inteira, e levou-o um dia a uma das aventuras mais dramáticas da humanidade: no dia 21 de maio de 1927, Charles Lindbergh tornou-se a primeira pessoa a realizar um voo sem escalas através do Oceano Atlântico, de Nova York a Paris.

A viagem durou 33 horas e meia, numa distância de 6.100 quilômetros. Esta façanha, que custara anteriormente a vida a seis homens que a haviam tentado, foi ainda mais incrível porque Lindbergh realizou um voo solitário, sem ajuda de navegador, de paraquedas ou de rádio.

O aviador norte americano Charles Lindbergh. Ele esteve em Natal na década de 1930, realizando um Raid em um hidroavião monomotor, junto a com a sua esposa.

Durante a juventude de Lindbergh a aviação era algo inteiramente novo. Hábil piloto, Lindbergh reconheceu o potencial dos voos aéreos. E isto o levou a demonstrar que os voos a grandes distâncias eram possíveis e práticos.

O pensamento de voar a Paris ocorreu-lhe em 1926, durante seus voos conduzindo correio para a companhia Robertson Aircraft, de Saint Louis, Missouri. Sua grande oportunidade surgiu quando um prêmio de 25.000 dólares foi oferecido por Raymond Orteig, um dono de hotel na cidade de Nova York e franco-americano. O ricaço colocou o prêmio a disposição em 1919 e ganharia o primeiro que realizasse um voo sem escalas entre Nova York e Paris, ou vice-versa. O prêmio era tentador, mas Lindbergh se sentiu atraído principalmente pela aventura do voo. Sabia que um resultado positivo influiria de forma substancial no futuro da aviação.

O Spirit of St. Louis em exposição no Museu do Ar e Espaço, em Washington – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Spirit_of_St._Louis#/media/Ficheiro:BottomofSpiritofStLouis.JPG

Lindbergh estava certo de que o voo teria êxito. Tinha vários anos de experiência como piloto, iniciada em 1922, quando cursou uma escola para aviadores, dirigida pela Nebraska Aircraft Company, em Lincoln, Nebraska. Depois adquiriu experiência ao trabalhar com Erold Gahl, um dos precursores dos voos acrobáticos, como mecânico, piloto, acróbata e assistente. Posteriormente tornou-se piloto acrobático e viajou por todo o meio oeste dos Estados Unidos, onde recebeu o apelido de “Lindbergh, o destemido”.

Em 1924, cursou uma escola de voo do Exército e foi nomeado segundo-tenente. Depois ingressou na Guarda Nacional de Missouri, onde recebeu o posto de capitão. Como desejava contar com um emprego como piloto, ingressou na Robertson Aircraft Company em 1925, para fazer o transporte da mala postal da empresa. Com essa experiência, na idade de 25 anos, Lindbergh confiava em poder realizar o voo de Nova York a Paris.

Nariz do Spirit of St. Louis, com o motor Wright Whirlwind Radial visívell. O Spirit of St. Louis tinha bandeiras pintadas em seu nariz para representar os países que Charles Lindbergh visitou após seu histórico voo solo transatlântico em 1927 – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Spirit_of_St._Louis#/media/Ficheiro:Spirit_of_St._Louis2.jpg

Uma vez decidido a tentar a aventura, Lindbergh começou a ver se conseguia dinheiro para adquirir um avião. Após várias pesquisas, conseguiu o apoio financeiro dos homens de negócios de St. Louis. A empresa aérea Ryan Airlines, Inc., de San Diego, Califórnia, ofereceu sua estrutura para construir o aparelho. O monoplano prateado foi desenvolvido de acordo com as especificações de Lindbergh e realizou seu primeiro voo em 28 de abril de 1927. A fuselagem era de metal, enquanto as asas foram feitas de madeira. A cabina, equipada com um único assento, estava situada em um nível tão baixo que só era possível ver a frente por meio de um periscópio. O avião tinha um tanque de gasolina com capacidade para 1.608 litros, mais do que o suficiente para chegar a Paris.

Depois de várias provas e pequenas mudanças, Lindbergh ficou satisfeito com o avião, que recebeu a denominação de ” Spirit of St. Louis” (O Espírito de St. Louis). A 1 O de maio, foram dados os primeiros os no rumo do histórico voo, quando Lindbergh voou de San Diego a St. Louis, estabelecendo um novo recorde de 14 horas e cinco minutos para a distância de 2.720 quilômetros. A 12 de maio ele voou 1.615 quilômetros, de St. Louis a Nova York, em 7 horas e 15 minutos, quebrando o recorde anterior estabelecido pelos tenentes Oakley G. Kelly e John A. MacReady, em 1923.

Depois de detalhada preparação com o uso de cartas e mapas, inclusive o estudo das informações meteorológicas do Oceano Atlântico, achava-se pronto para partir.

Dia 20 de maio de 1927, o tempo estava bom. Lindbergh decidiu que era o momento de decolar. Às 7:45 da manhã, aquele piloto estava a caminho de converter-se em um imortal da história da aviação.

O voo solitário trazia-lhe algumas vantagens, entre as quais a de que suas decisões não importavam na responsabilidade pela vida de outra pessoa. Mas importava em muitos problemas a superar. Como ser seu próprio navegador, era essencial manter-se alerta para não se desviar do rumo. Sua tarefa parecia ainda mais difícil porque, com o propósito de economizar espaço para levar mais combustível, Lindbergh omitiu alguns instrumentos que outros pilotos utilizavam tradicionalmente. Entre estes o sextante, que permitia determinar a latitude e a longitude, e o derivômetro, que determinava o ângulo de desvio de um avião quando voando com vento contrário. Portanto, Lindbergh navegava por estimativa, dependendo de bússolas e mapas, e de seu próprio julgamento e perícia pessoal.

Outro obstáculo que teve de vencer foram as condições meteorológicas. Algumas vezes, para evitar tormentas, teve de voar a três metros acima da água e outras vezes a uma altitude de pouco mais de 3.000 metros. Em outras ocasiões, teve de voar através das tormentas. Também encontrou nevoeiro ao ar sobre a Terra Nova, Canadá, mas nada impediu seu voo.

Um problema que o atormentou durante várias horas foi a necessidade de dormir, já que não conseguira conciliar o sono na noite anterior à partida. Dormir nos controles por tempo apreciável poderia ter significado o fracasso, ou talvez a morte. Algumas vezes Lindbergh não conseguiu livrar-se do sono, e seu avião saiu ligeiramente da rota. Mas ele foi capaz de acordar a tempo de fazê-lo voltar ao rumo certo.

Durante 33 horas e meia o jovem piloto superou com o seu monoplano os problemas encontrados, com ponderado profissionalismo e calma. Embora algumas pessoas se tenham referido a ele como “Lucky Lindy” (Lindy de sorte), ele sempre insistiu em que a sorte nada teve a ver com o resultado do voo. Acreditava ter o melhor avião e os melhores instrumentos para a viagem.

Sozinho em seu avião Lindbergh, entretanto, no pensamento de milhões de pessoas. O seu voo foi cuidadosamente observado e reportado à medida em que o mundo aguardava ansioso pelas notícias.

Finalmente, a 21 de maio, o monoplano prateado apareceu sobre a França e em breve desceu no campo de Le Bourget, perto de Paris. Uma multidão calculada em cerca de 100.000 pessoas rompeu os cordões de isolamento e cercou o avião. Lindbergh descreveu a massa como um mar humano.

Lindbergh morreu em 1974, mas ainda hoje o mundo lembra da “Águia Solitária”.