HISTÓRIA MILITAR DO RIO GRANDE DO NORTE – PARTE 1 – AS LUTAS

Felipe Nery de Brito Guerra – Publicado originalmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, 1927, Volumes XXIII e XXIV, páginas 218 a 228.

* Informação do Blog Tok de História – Busquei atualizar alguma coisa da ortografia do texto do Desembargador Felipe Guerra, escrito em agosto de 1920, sem, contudo, alterá-lo. Devido a sua extensão, foi necessário dividi-lo em duas partes, uma dedicada as lutas e outra aos combatentes potiguares, que será a nossa próxima publicação.

Escrever a história militar do Rio Grande do Norte desde o início de sua colonização, principiada em fins do século XVI seria, pelo menos até princípios do século XVIII, escrever a história do Rio Grande do Norte, porquanto esse espaço de tempo, abrangendo um período de cerca de dois séculos, foi preenchido por sangrentas agitações, lutas e guerras.

A dominação sa, exercida então por piratas, aventureiros, desclassificados, sem outros ideais a não ser o lucro mercantil, sempre receosos e a espera de ataques dos portugueses. O que é certo, porém, é que essa permanência constante e demorada dos ses, embora sem estabelecimento conhecido, representava um perigo para as vizinhas e próximas capitanias, principalmente a Paraíba, de onde haviam sido repelidos.

“O mal vem do Rio Grande”, dizia-se em Pernambuco e na Paraíba. E assim, para acabar com esse mal, foi resolvida a conquista do Rio Grande, da qual foi incumbido Manoel Mascarenhas Homem, tendo Jerônimo de Albuquerque alcançado melhor êxito na empresa.

Piratas ses no Brasil – Fonte – httpswww.goianarte.com

Não tinham então os ses regulares instalações. Viviam, entretanto, em estreitas relações com os selvagens, habitando mesmo suas aldeias. É o que se depreende da célebre “História do Brasil” de Frei Vicente do Salvador, escrita em 1627, e onde se lê que logo ao chegar Manoel Mascarenhas Homem “ali desembarcaram e se entrincheiraram de varas de mangue para começarem a fazer o forte e se defenderem dos Potiguaras que não tardaram muitos dias. Vieram uma madrugada, infinitos, acompanhados de cinquenta ses, que haviam ficado das naus no porto dos Búzios e outros que ali estavam casados com Potiguaras”.

Manoel Mascarenhas Homem, que lutou no Rio Grande do Norte contra os ses – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia

E assim ofereceriam os selvagens, auxiliados por seus aliados ses, tenaz resistência. O que não impediu, entretanto, a fundação do “Forte dos Reys”, permitindo a criação da povoação do Natal dois anos depois — 25 de dezembro de 1599. Foi celebrada a paz com os Potiguaras, conseguida por Jerônimo de Albuquerque com a mediação de um selvagem “principal e feiticeiro”, chamado ILHA GRANDE.

A conquista do litoral brasileiro havia sido começada do norte para o sul, sendo depois continuada do sul para o norte, tendo, principalmente esta última, contado com eficaz cooperação dos naturais da terra, já representados por brancos, filhos de portugueses, por mestiços e pelos selvagens que, subjugados e pacificados pelos portugueses, eram aproveitados como seus aliados.

Os selvagens constituíam sempre o grosso das forças conquistadoras, embora não fossem, em regra, os elementos mais resistentes nos combates. Eram, entretanto, os mais resistentes às longas marchas, aos transportes e aos mais serviços exigidos em campanhas rudes e aventurosas, em que não podia se contar com auxílios minguadíssimos e retardados, senão impossíveis.

Forte dos Reis Magos, por Frans Post (1638)
– Fonte – http://noisnafolia.no.comunidades.net/pontos-turisticos

Os Potiguares, que dominavam o litoral do Rio Grande do Norte, uma vez pacificados, foram valiosos e fortes elementos para a conquista do norte. Não existindo mais o “mal vindo do Rio Grande», que ara para o Ceará e para o Maranhão, foi resolvida a conquista desses pontos, onde os ses procuravam se firmar. Ainda foram os Potiguares elementos preponderantes para a conquista do primeiro daqueles territórios.

Expulsos os ses do litoral, de Paraíba ao Maranhão, as novas populações que procuravam se estabelecer não ficaram na tranquilidade da paz. Nem todas as tribos haviam feito amizade com os colonizadores; e mesmo no meio daquelas tidas como amigas, surgiam ataques e desconfianças que traziam para a região um verdadeiro estado de guerra, rompendo a duvidosa paz, sempre de curta duração..

Veio depois a guerra holandesa. O Rio Grande do Norte foi duramente sacrificado na luta. Tomada a Fortaleza dos Reis Magos (12 de dezembro de 1533) por uma força holandesa guiada por Calabar, sofreu o Rio Grande do Norte com o invasor até o final da guerra holandesa no Brasil. Esteve assim esta terra dezenove anos sob o domínio batavo.

Florin holandês de ouro. Essa foi a primeira moeda a conter o nome Brasil e foi produzida pelos holandeses durante a ocupação de Recife – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Dutch_guilder

Calabar conseguira angariar para os holandeses a amizade dos Índios Janduís, que unidos aqueles praticaram horríveis massacres. Fácil é de imaginar o que seria a guerra movida por selvagens açulados por aventureiros da pior espécie, como parece que eram os holandeses enviados para o Rio Grande do Norte. Chegaram a negociar prisioneiros como animais para o corte, destinado a pasto dos antropófagos Janduís.

Finda a guerra holandesa pela expulsão dos invasores, continuou a luta no Rio Grande contra os Índios, sempre dispostos a defender sua vida selvagem e sem peias. Houve mesmo uma rebelião generalizada dos nativos que durou longos anos, nada respeitando, nem a vida nem os habitantes do Rio Grande, que já contava elementos de prosperidade. Foi calculado que os índios mataram “perto do trinta mil cabeças de gado grosso e mais de mil cavalgaduras”. Essa rebelião durou de 1688 a 1720, quer dizer, 32 anos, talvez mais, porquanto não se acha bem estudado esse ponto da história. Foi um movimento sério e perigoso. Pedidos insistentes de socorro partiram para Pernambuco, para a Bahia, e até diretamente seguiu um emissário para Lisboa, levando uma representação do Senado da Câmara ao Rei, tais as delongas do auxílio reclamado.

“Cena da Expedição do Tenente-Coronel Affonso Botelho”, aquarela do artista Joaquim José de Miranda (1771) que retrata o confronto entre indígenas e bandeirantes. Provavelmente cenas como essa ocorreram no Rio Grande do Norte – Fonte – https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revolta/guerras-barbaras/

Do litoral ao alto sertão era grande o perigo que ameaçava a própria Natal, sendo, o ponto culminante da rebelião a ribeira do Assú. Vieram em excursões guerreiras tropas da Paraíba, de Pernambuco e da Bahia. Vieram os ”terços paulistas” que haviam lutado em Palmares, vieram companhias do Batalhão de Henrique Dias. Essas forças, os melhores elementos de luta então disponíveis pelo Governo do Brasil, subiram até as cabeceiras do rio Assú, foram às ribeiras do Seridó, do Apodi até ao Jaguaribe, em perseguição dos índios que foram afinal pacificados, isto é, aniquilados, escorraçados, sendo tomada a providência de aldear os restantes. Ainda em tais aldeamentos apareciam insurreições dos índios motivadas por excessivos rigores e injustiças. Nenhuma condescendência havia para o infeliz selvagem, a quem de fato era negado qualquer direito.

Seguramente Miguel Joaquim de Almeida Castro, o Padre Miguelinho, foi o potiguar que mais expresivamente tomou parte na revolução de 1817 e acabou sendo fuzilado. Em junho de 1906, no 89º aniversário do fuzilamento, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, promoveu uma série de homenagens em Natal . Houve uma sessão solene no então Teatro Carlos Gomes, atualmente Teatro Alberto Maranhão, na noite de 12 de junho de 1906, onde um coro feminino cantou o “Hino de Miguelinho”, letra de Henrique Castriciano e música de Luigi Maria Smido, cuja a capa da partitura apresentamos acima – Fonte – https://gamfrente.blogspot.com/2017/03/padre-miguelinho-luz-do-rio-grande-do.html

Na revolução de 1817, não é ignorado o papel que representou o Rio Grande do Norte. Pode-se dizer que essa página luminosa da história nacional se caracteriza no seu conjunto mais pela pureza de seus chefes, pelo estoico heroísmo dos que nela figuram, pela elevação dos ideais, pelo pendor doutrinário, do que por feitos militares e ação guerreira. E foi essa seguramente uma das causas que apressaram o fracasso da revolução.

Em agitações partidárias ou a Província as fases da Independência Nacional. Tomou parte na revolução da “República do Equador”.

Os corajosos e mal organizados destroços das forças revolucionárias de 1824 seguiram por terra, em dificultosa marcha por ínvios sertões de Pernambuco ao Ceará, procurando junção com as forças que nessa Província apoiavam o movimento revolucionário. Foi uma verdadeira retirada de cerca de três mil pessoas, conduzindo duas peças de artilharia, arrastadas por caminhos impraticáveis e arrostando todas as dificuldades que podem acompanhar forças sem disciplina, sem organização militar, sem recursos e sem alentadoras esperanças.

Quadro “Estudo para Frei Caneca”, de Antônio Parreiras (1918), mostrando o padre revolucionário em seu julgamento – Fonte – https://en.wikipedia.org/

Atravessaram o sertão do Rio Grande do Norte entrando pelo Seridó, seguindo para Pau dos Ferros pelos limites entre Rio Grande do Norte e a Paraíba. No Seridó, onde o presidente provisório da Paraíba deixou sua família, que com ele vinha acompanhando a expedição, da qual também fazia parte o nobre, elevado e culto espírito que era Frei Caneca, não foram hostilizadas as forças. Em Caicó, demoraram-se oito dias, concertando as carretas das peças que eram puxadas por bois. Em Patu de Fora, começou a expedição a sofrer hostilidades e também a hostilizar. Foram incendiadas algumas casas e fazendas.

Em Torrões (ou Torões), Patu, houve forte tiroteio, morrendo mais de trinta pessoas de parte a parte. Parece que batalhões irregulares de Portalegre organizaram guerrilhas, unindo-se depois com as forças legalistas do Rio do Peixe (PB).

Foto – Rostand Medeiros.

Serenada a luta pela submissão dos rebeldes, seguiram-se o martírio e as exageradas punições de infelizes chefes rebeldes, sonhadores antecipados dos ideais republicanos, vítimas da crueldade das juntas militares, tão tristemente célebres na história pátria.

Os habitantes do Rio Grande do Norte conservaram sempre prontos para qualquer emergência, chegando a formar batalhões de tropas irregulares, contra os reacionários de 1832, apoiando a política do então ministro da justiça e depois Regente do Império, padre Diogo Antônio Feijó.

Iniciada no Ceará em dezembro de 1831, com a proclamação de Joaquim Pinto Madeira, essa revolta obedecia aos ideais do Partido Restaurador, ou Caramuru, apoiado pelos portugueses. Formou-se no sertão do Rio Grande do Norte batalhões de tropas irregulares que marcharam para o Crato contra os revolucionários. De Martins e Portalegre seguiu um batalhão sob o comando do coronel Agostinho Pinto de Queirós. Conta-se que na primeira noite de marcha dois soldados de família do Martins, os irmãos Patrícios, tentaram voltar para casa, sendo por isso, ao amanhecer, sumariamente fuzilados. O comandante da tropa foi processado por esse fato e depois, por prescrição, isento da pena.

Pintura em azulejo de Armando Lopes Rafael (2010), representando Joaquim Pinto Madeira – Fonte – https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revista/a-guerra-dos-cacetes-bentos/

Sob o comando do coronel José Teixeira se organizou um batalhão no Seridó, do qual faziam parte os homens válidos das principais famílias. Incorporada à força combatente e reunida em Caicó, o padre Francisco de Britto Guerra, então vigário da cidade e representante da Província na Câmara Temporária, onde entrara como suplente, intimamente relacionado com o padre Feijó, e talvez o principal fator do movimento, promoveu uma grande solenidade cívico-religiosa por ocasião da partida da força. Seguiram todos montados para Pombal onde se uniram as forças da Paraíba, principiaram a receber instrução militar ministrada pelo alferes Canuto, de tropa de linha do Ceará.

Nas várzeas do Rio do Peixe (PB), houve o primeiro encontro entre esse batalhão do Seridó e as forças de Pinto Madeira, tendo estas atacado de surpresa, procurando tomar o valioso comboio dos víveres e munições dos seridoenses. O resultado foi as forças de Madeira retirando-se do combate com a perda de doze homens.

Manuel de Assis Mascarenhas, presidente da Província do Rio Grande do Norte ente 1838 a 1841, em cujo governo concedeu a patente de Coronel Comandante ao seridoense Joãop Gomes da Silva, pela sua capacidade de luta nos combates contra as forças de Pinto Madeira em 1831 – https://pt.wikipedia.org

O batalhão do Seridó continuou em marcha afim de reunir-se com as forças legalistas que no Ceará procuravam abafar a revolta, havendo pelo caminho alguns encontros. Terminada a luta, voltou a tropa ao Caicó, onde foi recebida com festas, aclamações, Te Deum na igreja, etc. Por ocasião dessas festas da chegada, foi aclamado pelos soldados o comandante das forças o quartel mestre João Gomes da Silva, que se havia distinguido na expedição, aclamação que anos depois no governo de Manoel de Assis Mascarenhas (1838 – 1841) foi confirmada com a patente de Coronel Comandante.

Muito é de notar que em todas essas lutas político-partidárias, os sertanejos do Rio Grande do Norte, serenados os ânimos, evitavam ódios inúteis, crueldades, perseguições e delações contra os vencidos.

A tradição narra mesmo o fato de haver Simão Gomes de Britto, capitão de milícias em Campo Grande, recebido ordem superior para prender o Coronel Cavalcante, implicado na revolução de 1817. Mas este apresentou a ordem de prisão ao seu amigo e pediu para que tomasse suas precauções. Acrescentou: — “Dê no que der, não o prenderei, porque sei que não cometeu crime”. E efetivamente não tentou fazer a prisão. Entretanto, o Coronel Cavalcante, ou porque se julgasse inocente, ou por altivez de caráter, ou ainda para evitar a responsabilidade do amigo, foi se entregar, e sofreu os rigores daqueles horríveis cárceres, onde foram martirizados os patriotas de 1817.

Óleo sobre tela de Eduardo de Martino, que retrata a troca de tiros que culminaram na primeira agem de navios brasileiros por o de Tonelero em 1851, onde os argentinos construíram fortificações que bloqueavam a navegação no Rio Paraná. Domínio público, Revista de História da Biblioteca Nacional – Fonte – https://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/historia-do-brasil/brasil-monarquico/8979-quest%C3%B5es-platinas-a%C3%A7%C3%B5es-militares-no-segundo-imp%C3%A9rio

Nas guerras contra as repúblicas do Rio da Prata numerosos filhos do Rio Grande do Norte acudiram em defesa da pátria.

Quatro meses depois de declarada a Guerra do Paraguai, embarcou em Macau um contingente de mais de sessenta voluntários, dos quais trinta e três eram do Assú, além de onze de Campo Grande, que haviam seguido diretamente para a Capital. É conhecido o fato de haver o Dr. Olinto José Meira de Vasconcelos, então Presidente da Província (1863 – 1866), dirigido a palavra na capital, a grupos que se achavam em manifestações em frente ao quartel, apelando para o patriotismo de todos e pedindo dar um o à frente aqueles que quisessem seguir para a guerra. Mais de 400 voluntários moveram-se para a frente. De todos os pontos da Província seguiram Voluntários da Pátria, sendo também crescido o número de recrutados. E o papel que na guerra desempenharam os rio-grandenses-do-norte ajudou ao merecido renome adquirido pela infantaria do norte.

O brasileiro Symphonio dos Santos uniformizado para combater na Guerra do paraguai – Fonte – http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=92142

Na proclamação da República, na revolução federalista do sul, na revolta da armada, em Canudos, os filhos do Rio Grande do Norte cumpriram sempre seu dever.

Sob as ordens de Plácido de Castro, nas lutas acreanas, encontraram-se também inúmeros rio-grandenses-do-norte, destemidos e audazes pioneiros da colonização e conquista das mais recuadas fronteiras da Pátria, os quais tangidos do torrão natal por atormentadoras secas, forneceram, com seus irmãos de outros Estados, por igual vítimas da calamidade, os elementos vitais, talvez os únicos possíveis para o colossal empreendimento da colonização da Amazônia.

De fato, outras populações vivendo certamente sob um clima mais doce e uma natureza mais amena, não estariam, como os nossos sertanejos, tão habituados a receber e aguentar o choque e a destruição das mortíferas forças da natureza amazônica, com a mesma resignação, com o mesmo esforço e coragem com que encaram e recebem as furiosas cargas das nossas devastadoras secas.

Na execução da recente lei do serviço militar (1916) raro é o sorteado dessa terra que deixa de acudir ao chamado: talvez nenhum listado da União apresente menor número de insubmissos.

Eis aqui, a largos traços, a vida militar do Rio Grande do Norte: lutas constantes durante dois séculos, sempre aceso o sentimento de patriotismo, de abnegação, de sofrimento. E por isso mesmo, apesar de uma bissecular educação guerreira, os filhos do Rio Grande do Norte têm acentuadamente o caráter pacífico: o banditismo, o caudilhismo, e as lutas por fanatismo nunca encontraram apoio entre eles.

Para conhecerem a biografia de Felipe Guerra é só ar esse link – https://fatosdefelipeguerra.blogspot.com/2019/10/felipe-guerra_31.html 

1876 – QUANDO UMA DESESPERADA MENSAGEM CHEGOU DENTRO DE UMA GARRAFA NA PRAIA DE MURIÚ

Rostand Medeiros – IHGRN.

Publicado originalmente no site tokdehistoria.com em 25/06/2016.

Em um tempo quando o mar não trazia tanto lixo para a terra e um vasilhame de vidro usado tinha certo valor comercial, à beira mar da bela praia potiguar de Muriú alguém encontrou uma garrafa que continha uma mensagem com um conteúdo diferente[1].

Típica garrafa inglesa do final do século XIX com uma mensagem.

É quase certo que quem a encontrou, em fins de novembro de 1876, não tinha a menor ideia do que ali estava escrito, já que nessa época grande parte dos norte-rio-grandenses era analfabeta.

É provável, como seria normal deduzir, que a pessoa que realizou este achado fosse um pescador, mas talvez não! Apesar da comunidade de Muriú já existir[2], a beira mar era uma ótima alternativa como via de circulação de pessoas montadas em alimárias, em carroças, ou até mesmo a pé[3].

Praia de Muriú na atualidade. Local aprazivel, ainda com uma comunidade de pescadores, visitado por milhares de turistas que circulam pelo local no eio de buggys e ótima praia de veraneio – Fonte – http://www.praiasdenatal.com.br/praia-de-muriu/

Fosse uma pessoa livre, ou um escravo que sofria nos engenhos de cana de açúcar da região de Ceará Mirim, é provável que esta pessoa tenha levado aquela garrafa com sua mensagem para ser lida por alguém mais instruído. Naqueles tempos anteriores a criação de comunicação, a descoberta deste tipo de mensagem requeria atenção e normalmente era encaminhada a autoridades.

Sabemos que o objeto chegou lacrado no litoral, provavelmente com betume utilizado para calafetar embarcações[4], mas não sabemos se ela foi aberta antes de percorrer as cinco léguas de distância que separavam Muriú da pequena Natal, que neste tempo tinha superado pouco mais de 20.000 habitantes[5].

Letras Desesperadas

Acredito que na capital potiguar a mensagem e a garrafa foram encaminhadas às autoridades portuárias e alfandegárias, onde certamente haveria algum funcionário afeito ao idioma bretão, pois não era incomum a presença de barcos ingleses no porto da Cidade dos Reis.

Após aberto o recipiente surgiu uma mensagem que foi publicada na íntegra pelo pouco conhecido jornal natalense O Atalaia, na sua edição de 2 de dezembro de 1876, na página três, conforme reproduzimos na fotografia abaixo[6].

Em 29 de setembro daquele ano um tripulante, ou ageiro, escreveu que estava a bordo de um barco inglês, que os jornalistas potiguares designaram como “galera”, e que se chamava Collingrone. Este barco aparentemente se encontrava na costa sudoeste da África (ou “suéste”, como está descrito no texto original)[7].

Quem escreveu narrou que um “Máo tempo” tinha destruído a vela bujarrona e outras velas do barco. Mais grave ainda era a informação de que quatro pessoas a bordo já tinham perecido “pela febre”.

Em meio a este cenário um tanto caótico, em um texto onde a desesperança e o medo são claros, a mensagem encontrada em Muriú é bem direta ao apontar a objetiva finalidade do autor – Que alguém que porventura encontrasse a missiva, a destinasse para a mãe de quem escreveu. A destinatária seria a esposa de Mr. John Bryce, que vivia na Fountain House, na pequena cidade de Loanhead, próximo a Edimburgo, a capital da Escócia[9].

Dia festivo em Loanhead, Escócia, 1879 – Fonte – http://lothianlives.org.uk/category/photographs/

Pesquisando na internet descobri que Loanhead possui na sua área algumas localidades e casas históricas que utilizam a denominação “Fountain” (Fonte), mas não especificamente algum ponto conhecido como “Fountain House” (Casa da Fonte).

Ao pesquisar algo sobre um certo John Bryce, ou sua esposa, que viviam em Loanhead na metade da década de 1870, esbarrei em um verdadeiro paredão de nomes similares, que só me levavam a becos sem saída.

Como a edição do periódico “O Atalaia”, conforme podemos ver na foto aqui mostrada, nada mais trazia informações sobre o tema eu fui procurar em outros jornais da época. Infelizmente nada encontrei no material arquivado na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, ou nos jornais potiguares digitalizados e disponíveis na Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional.

A história toda era muito limitada e necessitava de novas pesquisas para responder a vários questionamentos. Tais como a natureza deste veleiro e quem escreveu a mensagem? Qual a nacionalidade do barco? Qual era sua rota marítima? O que aconteceu com esta nave e o autor da mensagem?

Mastros que poderiam chegar a alturas de um prédio de vinte andares

Pessoalmente eu tenho uma grande iração pela Grã-Bretanha, principalmente pelo prazer que os súditos da Rainha Elizabeth II têm pela sua história e pelo intenso esforço que instituições britânicas fazem para democratizar preciosas informações históricas guardadas em seus arquivos através da internet. Assim, sem maiores contratempos, é possível ar os arquivos do Lloyd , uma organização de classificação marítima que remonta a 1760[10].

O clipper Collingrove – Fonte – collections.slsa.sa.gov.au

Mas ao pesquisar neste arquivo altamente acurado não encontrei nenhuma referência sobre algum veleiro denominado Collingrone, registrado na Inglaterra e que navegava na década de 1870. Mas sempre esbarrava na referência de um grande clipper denominado Collingrove. E comecei a suspeitar que 140 anos atrás os membros da redação de O Atalaia haviam reproduzido equivocadamente o nome do barco.

O Collingrove era uma embarcação do tipo clipper, foi construído em 1869 pelo estaleiro de Sir James Laing & Sons Ltd., em Deptford Yard, na cidade de Sunderland, Nordeste da Inglaterra. Tinha 861 toneladas brutas, 181,4 metros de comprimento, 33,5 de largura e foi registrado em Londres no início dos anos 1870 para a empresa de navegação A. L. Elder & Co.

O barco estava envolvido no comércio de carga e transporte de imigrantes entre a Inglaterra e o sul da Austrália, se destinando principalmente para a cidade de Port Adelaide e retornando a Londres. Podia transportar 75 ageiros e carga geral.

Outra imagem do Collingrove – Fonte – collections.slsa.sa.gov.au

O Clipper Collingrove fazia parte de uma classe de barcos que marcou época, sendo os mais rápidos, elegantes e imponentes veleiros desenvolvidos no século XIX. Estas belas naves começaram a ser construídos a partir da década de 1830 e várias qualidades definiram a história deste tipo de veleiro. Um clipper era tecnicamente um navio com três mastros, que possuía uma grande extensão de velas quadradas, muito rentável em longas distâncias e que desenvolviam alta velocidade. Com mastros que poderiam chegar a ser tão altos quanto um prédio de vinte andares, linhas de casco longas, combinados ao enorme poder de condução das velas, fazia com que a maioria deles percorressem 250 milhas náuticas em um único dia. Os melhores atingiam velocidades que cobriam 400 milhas por dia.

Um típico clipper, mostrando toda sua imponência e elegância – Fonte – http://www.oilpaintingsframes.com

Já o Collingrove era considerado um barco muito regular e seguro. Relatos apontam que seu tempo mais rápido entre Londres e Port Adelaide foi de 65 dias e os mais lentos 85, com uma média de 74 dias por viagem. Era comum nestas grandes viagens que os clippers seguissem com um médico a bordo para atender os ageiros e não era incomum haver em alguns destes barcos uma vaca para fornecer leite fresco. Como o tempo de viagem era longo, sem escalas, era normal o incentivo para que os ageiros que tinham algum dom artístico, realizassem apresentações. 

Medo de Viajante

Descobri através dos arquivos do Collingrove que em 1876 o seu comandante, ou Mestre, como os ingleses designavam, era H. Angel, um veterano navegador, sem máculas em sua ficha e com extrema capacidade profissional.

Nota de jornal mostrando uma das partidas do Collingrove em 1876.

Aparentemente o que a carta na garrafa significou foi apenas o medo de uma pessoa pouco experiente com viagens marítimas, em meio a uma tempestade que danificou, mas não afundou o Collingrove. Certamente esta pessoa também estava extremamente estressada diante das mortes em decorrência de uma febre em um ambiente limitado, em um tempo onde as pessoas pouco compreendiam a possibilidade de contrair esse tipo de doença.

Infelizmente nada encontrei que apontasse que no final de 1876 este barco tenha se envolvido em uma tempestade que o deixou com danos de tal ordem que significasse um perigo real de afundamento e nada sobre mortes provocadas por um surto de febre.

O clipper Collingrove anhcorado na Austrália – Fonte – collections.slsa.sa.gov.au

Como notas finais desta história marítima posso comentar que o Collingrove continuou navegando por mais 24 anos sem maiores alterações, até ser vendido no ano de 1900 em Xangai.

Já o experiente comandante H. Angel, em outro barco da empresa A. L. Elder & Co., comandou o mais famoso dos tripulantes de barcos clippers. Este foi o imigrante polonês chamado Józef Teodor Konrad Korzeniowski, que na Inglaterra ou a ser conhecido como Joseph Conrad.

O escritor Joseph Conrad. Por conta de sua experiência de trabalho em clippers, muitas das suas obras centram-se em marinheiros e no mar.

Considerado um dos maiores romancistas a escrever no idioma inglês, foi um mestre da prosa que trouxe uma sensibilidade diferenciada para a literatura inglesa. Nas suas obras Conrad escreveu contos e romances, muito destes baseados na sua larga experiência náutica, enquanto explorava profundamente a psicologia humana, retratando através de ensaios um universo imível, inescrutável.

Um visitante regular para Port Adelaide a partir do momento que ela foi construída até o final de 1890.

FONTES NA INTERNET 

https://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_Conrad

http://collections.slsa.sa.gov.au/resource/PRG+1373/2/18

https://en.wikipedia.org/wiki/Torrens_(clipper_ship)

http://www.findboatpics.net/zpel.html

http://s.adam.com.au/easby/Chapter%205%20-%20The%20Clarkes,%20Grays%20and%20Adams.html

http://engersinhistory.sa.gov.au/node/943903


NOTAS

[1] Enviar garrafas com mensagens pelo mar não é nada recente na história da humanidade. o primeiro registro de uma mensagem lançada ao mar foi realizado pelo filósofo grego Theophrastus que, por volta de 310 a.C. jogou garrafas ao Mar Mediterrâneo para tentar provar que as águas deste mar eram formadas por um fluxo que vinha do Mar Atlântico. Este pensador é considerado o sucessor imediato de Aristóteles, por quem foi nomeado como sucessor e guardião de toda a biblioteca de seu mentor! Sobre este tema ver – http://tcmuseum.org/collections/message-in-a-bottle/

[2] Nesta época Muriú já tinha um quadro populacional que necessitava de uma escola primária. Nas páginas 45 e 46 da Coleção de Leis Provinciais do Rio Grande do Norte para os anos de 1872 e 1873, encontramos a Lei nº 667, sancionada pelo então Presidente da Província João Bandeira de Mello Filho, em um exemplar existente na biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, se lê no seu Artigo 1º que “Ficam criadas cinco cadeiras de instrução primaria para o sexo masculino nossa lugares Muriú e Capela, do município de Ceara Mirim, Poço Limpo, do Natal, Laranjeiras, do de São José de Mipibu, e praia do Tibau, do de Goianinha”. Vale frisar que grande parte das comunidades de pescadores que conhecemos hoje entre a capital potiguar e a cidade litorânea de Touros também já existiam.

[3] Em 25 de maio de 2016, junto com o pesquisador argentino, radicado em Natal, German Zaunseder, ao realizar uma pesquisa sobre a chegada de um grupo de náufragos ingleses na cidade litorânea de Rio do Fogo em 1941, entrevistamos o Sr. Miguel Alves de Souza, nascido nesta comunidade em 18 de setembro de 1921. Sobre a carência de estradas e transportes para as comunidades do litoral potiguar, ele comentou que até sua juventude era normal as pessoas da localidade seguirem principalmente em barcos para Natal. Mas não era incomum que muitos realizassem este trajeto pela beira mar em lombo de animais e até mesmo a pé. 

[4] Popularmente conhecido como piche, é uma mistura líquida de alta viscosidade, cor escura e inflamável. É formada por compostos químicos (hidrocarbonetos), e que pode tanto ocorrer na natureza como ser obtido artificialmente, em processo de destilação do petróleo. Produto conhecido desde a Antiguidade é considerado uma das melhores opções para acabamento e calafetagem para impedir vazamentos de cascos de barcos de madeira. Ver – http://lojadoimper.blogspot.com.br/2014/11/primeira-referencia-sobre.html

[5] A população de Natal em 1876 se equivaleria atualmente ao do município de Monte Alegre. Ver – https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_municípios_do_Rio_Grande_do_Norte_por_população . Sobre números da população de Natal ao longo de sua história ver – http://www.webcitation.org/6OL6BlLnX

[6] O jornal O Atalaia era um jornal de apenas quatro páginas, publicado duas vezes por mês, sendo apresentado como “Literário, crítico, noticioso e dedicado aos interesses da liberdade, igualdade e do progresso”. Tinha a sua sede na Rua Correia Telles, número 29, Ribeira e era impresso na tipografia Independência, na Rua Santo Antônio. Só encontrei apenas um exemplar deste jornal, disponível nos jornais potiguares digitalizados e disponíveis na Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional.

[7] É possível que este barco não estivesse tão próximo da costa africana. Pois a garrafa teria sido lançada ao mar em 29 de setembro de 1876 e chegou à praia de Muriú cerca de um mês após.

[9] Na atualidade Loanhead é uma pequena comuna onde habitam pouco menos de 7.000 escoceses e fica localizada a cerca de dez quilômetros ao sul da dinâmica cidade de Edimburgo. Ver https://en.wikipedia.org/wiki/Loanhead

[10] Para pesquisar sobre antigos barcos nos registros do Lloyds, e http://www.lrfoundation.org.uk/public_education/reference-library/-of-ships-online/

FOI REDESCOBERTO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO NO AMAPÁ, UM AVIÃO AMERICANO B-26 PERDIDO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Na última semana membros do Exército Brasileiro redescobriram o local da queda de um avião de bombardeiro americano B-26 Marauder, que caiu em 1945 no Amapá. Essa aeronave já havia sido encontrada por indígenas da região do Oiapoque em 1946 e os militares mortos foram recolhidos por soldados americanos. Os corpos dos cinco tripulantes estão enterrados nos Estados Unidos.

Autor – Rostand Medeiros – INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – IHGRN

Revisão – German Zaunseder.

Fonte – O Viajante – Facebook.

Na última semana um grupo de militares do Exército Brasileiro, pertencentes ao 34° Batalhão de Infantaria de Selva, com auxílio de três indígenas que moram na região, reencontraram uma velha aeronave no meio da sela no Amapá. Consta através da página do Facebook “O Viajante”, que os militares sabiam da existência da aeronave sinistrada e em 2012 e até tentaram chegar a ela nessa época, mas não conseguiram.

Martin B-26 Marauder.

Os destroços se encontram na região da Aldeia Santa Isabel, próxima ao Oiapoque, extremo norte do Amapá. Informações apontam que a área possui uma selva alagada e o grupo de militares, cujos nomes não foram revelados, era formado por um tenente, três sargentos, quatro cabos e três soldados, tendo levado três dias para chegar até os destroços. Consta que o local do acidente não foi divulgado, para evitar depredação do local. Uma atitude reconhecidamente muito positiva. 

Fonte – O Viajante – Facebook.

Os militares brasileiros fotografaram parte da cauda, de uma das asas, além dos restos de uma metralhadora Browning calibre .50, a mesma que até hoje é utilizada pelas Forças Armadas Brasileiras. Os militares e indígenas encontraram também nos destroços um dos dois motores radiais Pratt & Whitney Wasp R-2800.

Qual Avião?

Os destroços pertencem a um Martin B-26G Marauder, cujo número de registro na Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (United States Army Air Force) era 44-68105, fazendo parte do 387º Grupo de Bombardeio (387Th Bomb Group). O desastre ocorreu, conforme mostram documentos da época, em 25 de janeiro de 1945, durante um voo de traslado desde os Estados Unidos ao front de guerra.

Relatório original da queda do B-26 do Amapá.

A rota dessas aeronaves ava pelo Caribe e, no caso especifico do 44-68105, ele pousou em Atkinson Field, na antiga colônia inglesa da Guiana (atual República Cooperativa da Guiana). Depois, como era normal para essas aeronaves, sua rota seguiria para Belém do Pará e depois para a Base de Parnamirim, em Natal, Rio grande do Norte. Na sequência esse avião deveria cruzar o Atlântico Sul em direção a África Ocidental e depois seguir para a linha de frente na Europa, ao qual havia sido designado. No caso desse avião seria Inglaterra. Existe a informação no relatório dos americanos que o B-26 44-68105 decolou de Atkinson Field pelas 07:18 horas da manhã (10:18 Zulu).

Fonte – O Viajante – Facebook.

Esse bombardeiro B-26 Marauder fazia parte de um grupo de dezenove aviões. Consta no relatório de perda dessa aeronave, do qual possuo uma cópia, que eles encontraram uma forte tempestade e a tripulação chegou a enviar uma última comunicação por rádio, em uma posição a meio caminho entre a Guiana Inglesa e Belém. Tempos depois, com o sumiço do B-26, a tripulação foi declarada morta.

Fonte – O Viajante – Facebook.

Um ano e meio após o acidente, em junho de 1946, indígenas trouxeram a informação de terem encontrado um avião na região do Oiapoque. A informação foi reada para os militares da antiga estação do Exército dos Estados Unidos em Belém. A partir daí os militares americanos realizaram 565 horas de buscas por ar e terra do que sobrou da aeronave e os restos mortais dos tripulantes.

Fonte – O Viajante – Facebook.

Encontrando a Tripulação

Após encontrarem a aeronave durante as pesquisas realizadas em 1946, os militares descobriram que um corpo havia sido atirado (ou se atirou) para fora dos destroços e foi identificado como sendo o sargento Wesley W. Fulton, de Norfolk, Nebraska. O desastre foi tão intenso que um outro corpo não foi identificado em um primeiro momento. Apenas através de sua placa de identificação (Dog Tag), foi possível saber de quem eram os restos mortais.

Os cadáveres foram levados para a Base de Val de Cans, em Belém, e enterrados com honras militares no lote nº 2 do Exército dos Estados Unidos, provavelmente no Cemitério Nossa senhora da Soledade, um dos mais antigos e tradicionais da capital paraense.

Lápide onde estão enterrados os restos mortais dos tripulantes do B-26 Marauder 44-68105, recentemente redescoberto por membros do Exército Brasileiro – Fonte – https://pt.findagrave.com/memorial/3300083/theodore-thomas-handley

Somente no ano seguinte, 1947, os restos dos tripulantes do B-26 foram exumados e enviados primeiramente para o Post Cemetery, em Fort Buchanan, Porto Rico. Depois eles foram levados para os Estados Unidos e foram enterrados no dia 7 de maio de 1948 no Cemitério Nacional Zachory Taylor, em Louisville, no estado do Kentucky. A tripulação era composta pelo primeiro tenente Theodore T. Handley (piloto), o segundo tenente Raymond J. Carson (copiloto), o oficial de voo James E. Johnson Jr. (navegador), sargento Wesley W. Fulton (engenheiro de voo e atirador) e o cabo George M. Bodin (operador de radar e atirador).

O militar da foto é o oficial James E Johnson Jr., que pereceu nesse acidente – Fonte – https://www.honorstates.org/index.php?id=589284

O 387º Grupo de Bombardeio havia sido criado em 25 de novembro de 1942 e ativado em 1º de dezembro na Base de MacDill, em Tampa Bay, Flórida. Depois foi enviado para a Inglaterra, onde seus membros e suas aeronaves participaram de várias batalhas na Europa ocupada pelos nazistas. Ao final do conflito o 387º Grupo de Bombardeiro ou 21 meses em ação, executando 396 missões de combate, onde lançaram 16.280 toneladas de bombas contra alvos inimigos, estabelecendo no processo um excelente recorde de precisão de bombardeio. Quase 100 das aeronaves do grupo foram derrubadas ou danificadas. Infelizmente mais de 300 aviadores foram mortos ou dados como desaparecidos em ação e outros 217 ficaram feridos.

Relação original dos tripulantes da aeronave.

O B-26 Marauder reencontrado agora pelo Exército Brasileiro no Amapá, certamente seguia para recomplementação de unidades perdidas. Mas eles não chegaram lá!

B-26 na Segunda Guerra

A Companhia Glenn L. Martin, de Baltimore, Maryland, desenvolveu o B-26 em resposta a uma especificação emitida pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos em 25 de janeiro de 1939. Devido ao ritmo acelerado de desenvolvimento, o primeiro exemplo de produção do B-26 Marauder voou em 25 de novembro de 1940. As primeiras aeronaves Marauder voaram em missões de combate no Teatro de Operações do Pacífico, logo após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

Esse B-26 Marauder pertencia ao 387º Grupo de Bombardeiros, o mesmo do avião perdido nas selvas do Amapá – Fonte – NARA.

Entretanto, um crônico problema de mau funcionamento do motor e da hélice, uma inadequada preparação da tripulação e as características e exigentes maneiras de voar o B-26, levaram a uma alta taxa de acidentes em treinamento e logo a aeronave foi apelidada de “Widow Maker” (Fabricante de Viúvas). Sua reputação ficou marcadamente manchada, ao ponto da produção ter sido quase interrompida em várias ocasiões.

Entretanto, com os devidos reparos e apesar de toda a má-fama, o B-26 deu a volta por cima e se tornou um ótimo avião combate dos americanos durante a Segunda Guerra Mundial.

Agradecimentos aos amigos Edér José Barosh, de Altamira, Pará, e José Henrique de Almeida Braga, de Fortaleza, Ceará, pela informação sobre essa redescoberta.

MEMBROS DO CORPO DIPLOMÁTICO DOS ESTADOS UNIDOS NO BRASIL VISITARAM A CIDADE DE RIACHUELO PARA CONHECER A HISTÓRIA DO DESASTRE DE UM HIDROAVIÃO CATALINA OCORRIDO DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

VIERAM IGUALMENTE DEBATER SOBRE AS HOMENAGENS À TRIPULAÇÃO DESSA AERONAVE, QUANDO ESSE EPISÓDIO HISTÓRICO COMPLETARÁ 75 ANOS EM 10 DE MAIO PRÓXIMO.  

Foto de um hidroavião PBY-5A Catalina, do VP-45, junto com militares desse esquadrão de patrulha aérea da Marinha dos Estados Unidos – Fonte – NARA – através do pesquisador Rostand Medeiros.

Fonte – Prefeitura Municipal de Riachuelo-RN

Em 29 de março de 2019, estiveram em Riachuelo o diplomata Daniel A. Stewart e funcionário do Consulado Geral dos Estados Unidos em Recife Stuart Alan Beechler.

A Prefeita Mara Cavalcanti junto ao diplomata americano Daniel A. Stewart, do Consulado Geral dos Estados Unidos em Recife- Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Entre os objetivos da visita estava um encontro com a prefeita Mara Cavalcanti para conhecer aspectos gerais o município e buscar detalhes sobre o acidente de um hidroavião modelo PBY-5A Catalina da Marinha dos Estados Unidos, ocorrido em 10 de maio de 1944, em pleno período da Segunda Guerra Mundial.

Nesse dia a quase 75 anos, em um dia bastante nublado, por volta das 3 da tarde, antigos membros da nossa comunidade testemunharam a queda e destruição dessa aeronave a cerca de 20 quilômetros da pequena Riachuelo, onde então viviam cerca de 200 habitantes.

Foto da época da Segunda Guerra Mundial de um hidroavião Catalina, igual ao que se acidentou próximo a Riachuelo– Fonte – NARA – através do pesquisador Rostand Medeiros.

No desastre pereceram dez aviadores navais americanos, entre eles o oficial Calder Atkinson, Comandante do esquadrão de patrulha antissubmarino VP-45, que nesse período tinha base em Belém, estado do Pará. Nessa época as forças armadas brasileiras lutavam em conjunto com militares dos Estados Unidos contra as ações beligerantes dos submarinos alemães e italianos no Oceano Atlântico, que atacaram e destruíram vários navios mercantes brasileiros e de outros países. O Catalina do VP-45 que caiu próximo a nossa cidade era uma das aeronaves que participavam das ações de combate.

Outra visão de um Catalina– Fonte – NARA – através do pesquisador Rostand Medeiros.

Em meio aos destroços foram encontrados os corpos desfigurados do Comandante Calder Atkinson e nove outros tripulantes. Mesmo diante do quadro sinistro, os nossos anteados tiveram todo o cuidado para trazer esses restos mortais para o cemitério da cidade, onde foram enterrados com todo o respeito, dignidade e atenção.

Foto do Comandante Calder Atkinson, que pereceu na queda do Catalina em 10 de maio de 1944– Fonte – NARA – através do pesquisador Rostand Medeiros.

Essa atitude honrada do povo riachuelense chamou à atenção de Daniel Stewart e Stuart Beechler, que informaram que o Consulado Geral dos Estados Unidos em Recife vai participar das homenagens planejadas pela nossa istração municipal para marcar os 75 anos desse episódio. Nessa ocasião estará presente em nossa cidade o Sr. John Barrett, atual Cônsul Geral dos Estados Unidos na capital pernambucana.

Os visitantes que estiveram em Riachuelo. Da esquerda para a direita vemos os Srs.
Stuart Alan Beechler e Daniel A. Stewart , do Consulado Geral dos Estados Unidos em Recife, seguido de Rostand Medeiros , escrito e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e o Capitão de Mar e Guerra Fuzileiro Naval (R.R.) Edison Nonato de Faria
– Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Além dos membros dessa representação diplomática e do executivo municipal, vão participar das homenagens a Marinha do Brasil, que estará presente com a Banda de Música do Corpo de Fuzileiros Navais e uma representação oficial do Terceiro Distrito Naval de Natal. Apoiando esse importante intercâmbio entre a Marinha e a Prefeitura de Riachuelo, contamos com a inestimável participação do Capitão de Mar e Guerra Fuzileiro Naval (R.R.) Edison Nonato de Faria, que também esteve junto aos americanos na visita a nossa cidade.

Reunião dos visitantes junto com a Prefeita Mara Cavalcanti – Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Esse episódio histórico é bastante conhecido dos habitantes da nossa comunidade. Mas recentemente o escritor e pesquisador Rostand Medeiros, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN esteve em Riachuelo em busca de maiores informações sobre o acidente. Esse pesquisador desejava conseguir mais subsídios para o desenvolvimento de um livro sobre a Segunda Guerra no Rio Grande do Norte. Na realização dessa pesquisa Rostand Medeiros contou com o apoio de Aílton de Freitas Macedo, Secretário de istração de Riachuelo, que buscou ajudar com todas as informações possíveis.

O Secretário de istração Aílton Freitas apresentando um dos possíveis locais para a realização do evento dia 10 de maio– Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Uma das últimas testemunhas diretas desse episódio é o Sr. José Lourenço Filho, que foi entrevistado, como também moradores da zona rural e sítios da região. O resultado dessa pesquisa é um dos capítulos do livro “Sobrevoo – Episódios da Segunda Guerra Mundial no Rio Grande do Norte”, lançado em 2 de abril do corrente na sede estadual do SEBRAE-RN, que apoiou a confecção dessa obra.

Livro onde está inserido o episódio da queda dessa aeronave próximo a Riachuelo em 1944. Segundo Rostand Medeiros esse livro faz parte da coleção “A participação do Rio Grande do Norte na Segunda Guerra Mundial”, coleção de três livros produzida pela editora Caravela Selo Cultural e apoio do SEBRAE-RN. Fazem parte dessa coleção os livros “A engenharia norte-americana em Natal na Segunda Guerra Mundial”, de Leonardo Dantas de Oliveira, Osvaldo Pires de Souza e Giovanni Maciel de Araújo Silva., além da obra “Observações sobre a Segunda Guerra Mundial no Rio Grande do Norte”, reunindo artigos científicos e organizados pelo escritor e editor da Caravela José Correia Torres Neto .

Rostand Medeiros igualmente esteve acompanhando Daniel Stewart e Stuart Beechler nessa visita.

Por volta de oito da manhã eles chegaram à sede da prefeitura, onde mantiveram uma reunião preliminar com a Prefeita Mara Cavalcanti, Secretário de istração Aílton Freitas e Sara Gardênia, Secretária Adjunta. Nesse contato ficou definido como será a realização do evento de caráter histórico/educativo do próximo dia 10 de maio e foram tratados aspectos como a localização da cerimônia e a participação das entidades envolvidas. Depois os visitantes percorreram vários locais da cidade, seguindo para um encontro com o Sr. José Lourenço Filho, que bastante emocionado recebeu a todos e narrou alguns fatos relativos ao episódio corrido em maio de 1944.

O Sr. José Lourenço Filho rememorando para os americanos o episódio de 10 de maio de 1944
– Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Depois a comitiva seguiu para o Cemitério Municipal, onde os funcionários americanos desejaram conhecer o local onde foram depositados pelos Riachuelenses os restos mortais dos dez aviadores navais. A cova coletiva ficava na área antiga dessa necrópole, junto ao muro da parte posterior desse local. Um dado interessante narrado pelo pesquisador Rostand Medeiros é que na atualidade esses aviadores navais se encontram sepultados em um cemitério militar no estado de Illinois, Estados Unidos, onde seus despojos estão reunidos em um único túmulo, tal como em Riachuelo. 

O grupo de visitantes, tendo à frente o Secretário Aílton Freitas visitando o local onde os aviadores navais do seu país foram enterrados em 1944 – Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Antes do grupo seguir para o local onde a aeronave Catalina caiu, de forma surpreendente eles puderam conhecer um objeto original oriundo dos destroços: uma colher de prata com o símbolo da Marinha dos Estados Unidos e bastante conservada. Essa verdadeira relíquia histórica atualmente está de posse de uma família riachuelense, que tem enorme respeito pela peça e a preserva da melhor maneira possível.

Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Na sequência todos seguiram por estradas da zona rural, circulando por áreas que estão recebendo boas chuvas neste ano de 2019. O grupo foi até a área da queda do Catalina, onde debateram aspectos históricos do episódio.

Daniel Stewart , Stuart Beechler, Aílton Freitas e Rostand Medeiros na área do desastre do Catalina – Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

No retorno a sede de nossa prefeitura, houve um novo encontro com a Prefeita Mara Cavalcanti e ficaram acertadas várias deliberações para o evento que ocorrerá em 10 de maio próximo.

A Prefeita Mara Cavalcanti recebendo um presente do diplomata Daniel A. Stewart
– Foto – Charles Franklin de Freitas Gois.

Com essa atividade a Prefeitura Municipal de Riachuelo honrará de forma digna a memória dos militares aliados que sacrificaram suas vidas em prol da liberdade, bem como a dos nossos anteados que souberam com extrema dignidade e atenção conceder a esses aviadores navais o descanso em solo riachuelense.

O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE COMPLETA 116 ANOS

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No próximo dia 12 de abril de 2018 o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, a mais antiga instituição cultural do estado, vai comemorar 116 anos de fundação. Na ocasião ocorrerá o lançamento da Revista do Instituto Histórico de número 96 e do Catálogo do IHGRN. Também serão entregues de vários títulos da instituição a autoridades, beneméritos e amigos do IHGRN e será dado posse a novos sócios-efetivos.

O evento será realizado no Centro Pastoral Dom Heitor de Araújo Sales, na Rua da Conceição 615, ao lado da sede do IHGRN.

A TRISTE SITUAÇÃO DO RICO ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

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Rostand Medeiros – Escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN

Desde 2005 que eu frequento o nosso Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte e desde essa época ele está localizado na antiga sede do extinto supermercado “Superete Queiroz”, na esquina da Avenida Coronel Estevam, antiga Avenida “9”, com a Rua Dr. Alfredo Lyra, no Alecrim.

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Também desde 2005 existe a promessa de mudança do Arquivo para uma sede definitiva, mas nada até o presente momento foi feito. Acompanhei nesta época o trabalho árduo, mas infelizmente infrutífero, do Promotor de Justiça João Batista Machado na busca de uma solução para o local.

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Em agosto de 2017 eu solicitei ao então Diretor da casa, o Professor Claudio Augusto Pinto Galvão, para fotografar alguns exemplares do jornal “A República” para uma pesquisa que atualmente realizo. Durante este trabalho eu testemunhei o esforço do Professor Claudio e dos abnegados funcionários da casa solicitando apoio a Secretaria da istração do Estado para a solução dos problemas ali existentes. Mas nada vi de solução durante o período que lá estive.

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E que problemas são estes?

Muito mofo, estrutura deficiente, o gesso do teto prestes a cair, falta de pessoal, de material, muitas goteiras que formavam poças na parte interna e outros mais! 

Os problemas são tantos e tão visíveis, que prefiro lhes trazer as fotos que fiz no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte em setembro ado.

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Recentemente o Sobre o Professor Claudio Galvão me enviou um vídeo de uma verdadeira “cachoeira” dentro do Arquivo. A gravação foi realizada recentemente, neste último período de chuvas mais fortes que atingiram Natal agora em fevereiro. 

Veja o vídeo neste link

https://www.youtube.com/watch?v=WcI1Eh0lUL8&feature=youtu.be

 

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Se nada for realmente feito, tudo ali corre perigo.

Às vezes penso que o atual estado do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte é uma ação deliberada de grande parte da classe política do nosso estado. 

Bem eu acredito que todos no Rio Grande do Norte sabem que grande parte da estrutura política potiguar é tradicionalmente formada por oligarquias. Sendo assim, penso que no intuito de evitar que  pesquisadores mostrem através de suas pesquisas históricas os erros dos membros mais velhos destas oligarquias ao longo de sua trajetória política, o melhor era que o Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte e seu acervo fossem totalmente destruídos.

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Grande parte da memoria estadual, inclusive do judiciário, repousa naquele local. A quantidade de tesouros ali existentes é fenomenal. Creio que a perda deste patrimônio será um duro golpe na memória e na formação do pensamento do povo potiguar sobre sua própria existência.

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Enfim não podemos esquecer que para muitos políticos a melhor maneira de conduzir seus eleitores como se fosse gado, ocorre quando esse povo não tem nenhuma noção sobre a História e a formação do seu lugar, nem como essas pessoas se enquadram no contexto histórico de sua região. Como resultado desse desconhecimento o povo dessa terra acaba por não ter muito orgulho do seu lugar, de suas tradições e de sua herança cultural.

No final esse povo acaba sem saber quem ele realmente é, de onde veio e a razão do porque está aqui.

A CIDADE DE SÃO MIGUEL E O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – IHGRN

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Da esquerda para direita vemos Gustavo Sobral (Diretor da biblioteca do IHGRN), Betânia Ramalho (Vice-presidente do IHGRN), Ormuz Somonetti (Presidente do IHGRN), José Gaudêncio Torquato (Prefeito de São Miguel), Rostand Medeiros e Edgar Dantas (Sócios efetivos do IHGRN).

Rostand Medeiros – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Desde 2010 eu tenho uma relação muito positiva com a cidade de São Miguel e seus habitantes. Naquela boa terra do Oeste Potiguar fiz muitos amigos, conheci um município de pessoas altivas, orgulhosas e que valorizam muito sua terra.

Por esta razão fiquei realmente muito feliz quando o amigo José Gaudêncio Torquato, atual Prefeito de São Miguel, atendendo um convite formulado por Ormuz Simonetti, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN visitou essa que é a principal casa da memória potiguar.

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Tive a oportunidade de participar deste encontro, juntamente com Gustavo Sobral – Diretor de Biblioteca e Museu, Betânia Ramalho – Vice Presidente do IHGRN e Edgar Ramalho Sócio efetivo do IHGRN.

José Gaudêncio Torquato foi um dos prefaciadores do meu livro “João Rufino-Um visionário de fé”, junto com o cantor cearense Raimundo Fagner, lançado em 2011 e que tras a biografia do Sr. João Rufino, criador do grupo empresarial que produz os cafés Santa Clara e Três Corações.

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José Gaudêncio conhecendo o acervo do IHGRN.

O prefeito de São Miguel trouxe vários e interessantes documentos sobre a História da sua cidade e buscou junto aos membros do IHGRN outras informações históricas sobre sua terra. Logo surgiram interessantes e positivas ideias de parcerias, que certamente deverão gerar muitos e proveitosos frutos, que serão divulgados no momento certo. Nesse primeiro momento esse contato entre o Prefeito de São Miguel e a direção do nosso Instituto Histórico foi extremamente salutar

Independente dessa questão e da amizade que eu tenho por José Gaudêncio, o melhor é ver um prefeito potiguar extremamente interessado em buscar informações sobre a História do seu município, mesmo que neste município já exista, pelo menos em minha opinião, uma acentuada percepção da valorização de sua História.

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Pessoalmente acredito que um dos caminhos do desenvolvimento pessoal e coletivo a também pela preservação e divulgação de sua memória histórica e cultural. Conhecendo de forma positiva esses elementos eu acredito que as pessoas tem uma maior tendência de compreender a importância de manter vivo muito dos seus valores tradicionais, os valores de suas origens e sua identidade. Identidade essa que ajuda a se definir enquanto cidadão, sabendo situar-se na sociedade, sem se perder no meio de uma multidão sem conexões.

Alguém já disse que “Nós não precisamos ser conservadores, nem devemos estar presos ao ado. Mas precisamos ser legítimos e só as raízes nos dão legitimidade”. Assim aqueles que não conhecem suas raízes perdem muito do sentido de suas vidas.

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Por incrível que pareça para muitas pessoas nos dias atuais, de pensamentos sempre tão rápidos e imediatistas, o futuro não existe sem o ado. ado esse que não deve se restringir apenas como uma lembrança e sim ser usado para o crescimento no presente, em direção ao futuro.

Por isso eu valorizo muito e apoio a ação de José Gaudêncio Torquato em buscar parcerias com o IHGRN para a sua amada São Miguel.

SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – UMA GRANDE HONRA!

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Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, fundado em 29 de março de 1902 – Fonte – ormuzsimonetti.blogspot.com

Autor – Rostand Medeiros

Recentemente eu recebi a informação que meu nome havia sido aprovado pelo Conselho de issão e Sindicância do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IHGRN e que no próximo dia 27 de outubro me tornarei sócio efetivo desta instituição, a mais antiga instituição cultural do Rio Grande do Norte.

Confesso que para mim foi uma grata surpresa essa indicação e só me trouxe alegrias.

Enfim eu frequento o nosso Instituto Histórico desde que me entendo por gente. Pois a lembrança mais antiga que tenho daquela casa é de ter sido levado pela mão da minha mãe, quando tinha sete anos de idade, para uma simples visita. Nunca esqueci o como fiquei fascinado com aquele ambiente, os livros nas prateleiras e os quadros pendurados com as imagens dos ilustres homens do ado.

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Foi lá que se formou em minha mente o gosto e o desejo de escrever sobre História, principalmente sobre a História da minha Terra e da minha Região.

Nesta casa, fundada em 29 de março de 1902, estão arquivados acervos documentais que guardam grande parte das fontes da história colonial, imperial e republicana do Rio Grande do Norte.

Neste local descobri muitos momentos fantásticos e saborosos da terra potiguar e das pessoas que no ado fizeram parte de sua História ao ar as páginas amareladas dos antigos jornais.

A importância desta instituição para a nossa gente é enorme e fico muito orgulhoso de ter o meu nome inscrito no seu quadro de sócios efetivos.

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Está naquele ambiente sempre foi para mim uma fonte de enorme prazer e satisfação e, tão importante quanto descobrir os interessantes caminhos de nossa História foi a grata satisfação dos muitos amigos que fiz nesta casa.

Perdi as contas de quantas vezes procurei a ajuda das amigas Antonieta Souza e Lúcia, duas abnegadas funcionárias da casa, sempre dispostas a ajudar os que ali buscam fontes históricas pra desenvolver milhares de pesquisas. Não me esqueço de Lucia Lima com seu amplo sorriso e alegria infinita, ou do sempre prestativo Manuel Bezerra, ou do grande José Maria Fernandes de Lima, o Zé Maria do computador, e todos aqueles que ali trabalham com dedicação e zelo.

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Convite para discussão dos estatutos do IHGRN em 1902, ano de sua criação.

Não posso olvidar a figura do nobre Professor Olavo Medeiros, grande pesquisador, autor de vários e importantes livros sobre Rio Grande do Norte e de sua gente. Como eram maravilhosos os papos que tivemos naquela valiosa casa da Rua da Conceição, nº 622.

Outra figura importante nas lembranças que tenho da minha agem pelo Instituto Histórico é a do primo Antônio Luís de Medeiros, um dos maiores genealogistas potiguares, que me mostrou a importância daquela casa para a preservação da nossa memória.

Já ao dileto amigo Gutemberg Costa tenho o mais profundo agradecimento por ter tido a iniciativa de ter colocado meu nome junto ao Conselho de issão e Sindicância do IHGRN, uma instituição com 114 anos de atividade.

Ao presidente Ormuz Barbalho Simonetti, ao vice-presidente Roberto Lima e a Odúlio Botelho de Medeiros, membro da diretoria do IHGRN, tenho a certeza que sei que vou fazer valer esta indicação que tanto me honra, pois o respeito e devoção pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte eu já tenho de longa data.

A PRAÇA PADRE JOÃO MARIA

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Fonte – http://www.pitombas.blog.br/2016/03/desinformacao-turistica-parte-15-praca.html

Berilo Castro 

Recentemente, fui ao Centro da Cidade para fazer uma visita ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), do qual fui honrosamente convidado para compor o seu quadro de sócios efetivos.

Estacionei o carro na rua Vigário Bartolomeu, em um estacionamento privado. Na verdade, não existe mais local de estacionamento público em Natal. Parece até que a cidade encolheu e, sem sombra de dúvidas,  os veículos aumentaram  em proporções nunca vistas. Deixa pra lá! É o crescimento urbano já esperado. São os tempos modernos.

Sou avisado pelo funcionário do estacionamento para ter cuidado com o celular e a carteira de dinheiro.

OK! Tomei  os devidos cuidados.

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Fonte – http://www.pitombas.blog.br/2016/03/desinformacao-turistica-parte-15-praca.html

Caminho lentamente em direção à Praça Padre João Maria. Vejo e relembro de anos ados a casa dos Procópio: Jario, Kerubino e Manoel Filho. Paro um pouco em frente do Mercado São Cristovão,  do meu grande amigo, meu diretor de futebol, da época de ouro do Alecrim FC-1963/1964, João Bastos Santana – Seu Basto. Sinto saudades! Chego à esquina e me defronto com o Banco do Nordeste e recordo dois grandes amigos que trabalharam lá: Jorge Alberto Motta e o meu contador Lourival (em memória). As calçadas todas semidestruídas, muito lixo nas redondezas e, ao seu redor, alguns sem tetos e sem nada, ainda deitados em bancos semidestruídos, e alguns no chão quente. Percorro um pouco mais e observo o prédio onde funcionou ou funciona ainda a Irmandade do os que, em seu primeiro andar, foi sede de um dos primeiros  cursinhos de pré-vestibular da cidade, o do professor/farmacêutico Luís Herculano, com sua bem dotada e eloquente voz, que chegava a chamar à atenção daqueles que circulassem pela praça.                                    

Ainda na lenta caminhada me deparo com algumas barracas (se podem ser chamadas de barracas, pela grande pobreza e abandono com que se encontram) sendo consumidas dia a dia pelos famintos cupins. Triste, muito triste, observar tudo aquilo abandonado e em ruínas.   

Procuro por um artesão por nome de Aderbal, lateral esquerdo que jogou comigo no Alecrim FC nos anos de 1960. Lamentavelmente, fui informado da sua morte por Dengue há três meses. Rezei por ele.

Caminhei um pouco mais e cheguei à sede provisória do IHGRN, um pouco atrasado, e não encontrei os meus amigos Odúlio Botelho e Augusto Coelho Leal – o Guga-, tinham saída há pouco tempo.

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Fonte – http://www.pitombas.blog.br/2016/03/desinformacao-turistica-parte-15-praca.html

Imaginei: será que esse pedaço de terra tão pequeno e tão abençoado pelo Padre João Maria, vem sofrendo  essa  destruição e esse abandono por tanto tempo, sem nunca ter sido visto pelas autoridades municipais, pelos nossos representantes na Câmara Municipal? Não posso acreditar!  Fico indignado e perplexo diante de tanta falta de amor à Cidade.  Será que o Prefeito nunca foi informado da triste degradação que vem  ando aquele pequeno espaço santificado? Será?  Será que o seu  Secretário de Urbanismo nunca ou pela Praça?

Deixo aqui um apelo às autoridades municipais: Não deixem a praça Padre João Maria no abandono total, como se encontra hoje. Aquele pequeno recanto sagrado é parte rica da nossa cidade que não pode e não deve ser destruída, nem entrar  no   esquecimento da nossa história.