O MARCO TOPOGRÁFICO DE RIACHUELO – UMA RELÍQUIA DA SEGUNDA GUERRA NO AGRESTE POTIGUAR

Próximo à Cidade de Riachuelo, no Alto da Serra Azul, Existe um Antigo Marco Topográfico, Aparentemente o Último do Seu Tipo Ainda Existente no seu Ponto Original, Que Foi Colocado Pelo Exército Brasileiro Durante a Segunda Guerra Mundial e Foi Utilizado Como Instrumento Para a Defesa do Nosso Litoral.

Rostand Medeiros – https://pt.wikipedia.org/wiki/Rostand_Medeiros

Nos últimos meses de 2018, através das indicações existentes em um livro sobre a vida e a obra do escritor e pesquisador potiguar Oswaldo Lamartine, junto com os dados encontrados em um documento originalmente produzido em 1944 pela US Navy (Marinha dos Estados Unidos), me desloquei ao município de Riachuelo, no Agreste Potiguar, para pesquisar sobre um acidente com uma aeronave de combate.

Rostand Medeiros, José Lourenço e Aírton Freitas, Secretário de istração de Riachuelo e grande batalhador pela história de sua comunidade. Foto realizada em 2018 quando realizamos a pesquisa do desastre do Catalina em 1944 – Foto: José Correia Torres Neto.

Nesta cidade, distante 80 quilômetros de Natal, encontrei uma interessante história sobre a queda de um hidroavião bimotor Consolidated PBY-5A Catalina no dia 10 de maio de 1944. Encontrei também testemunhas extremamente interessadas em ajudar, tendo conseguido acumular muitas informações e elementos ligados a esse episódio.

Livro Sobrevoo: Episódios da Segunda Guerra Mundial no Rio Grande do Norte.

Os resultados da nossa pesquisa foram extremamente promissores, gerando inclusive um dos capítulos do meu livro Sobrevoo: Episódios da Segunda Guerra Mundial no Rio Grande do Norte (2019), além de um interessante contato com a Embaixada dos Estados Unidos, conforme os leitores podem saber mais ando os links abaixo… 

https://br.usembassy.gov/pt/relembrando-riachuelo/

Durante esses trabalhos conheci o professor Airton Freitas de Macedo, que na época era Secretário de istração da Prefeitura Municipal de Riachuelo e muito ajudou em nossas pesquisas e nos desdobramentos que ocorreram junto ao pessoal da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e do consulado desse país sediado em Recife.

Registro quando ocorreu a visita dos membros do Consulado dos Estados Unidos de Recife a cidade de Riachuelo em maio de 2019. Da esquerda para a direita vemos os Srs. Stuart Alan Beechler e Daniel A. Stewart , do Consulado Geral dos Estados Unidos em Recife, seguido de Rostand Medeiros , escrito e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e o Capitão de Mar e Guerra Fuzileiro Naval (R.R.) Edison Nonato de Faria. Foto: Charles Franklin de Freitas Gois. 

Em nossas visitas e entrevistas, Ailton me falou sobre a existência de uma espécie de “marco” que havia sido colocado próximo a Riachuelo, no alto de uma elevação chamada Serra Azul, às margens da BR-304, a mesma estrada que liga Natal a Mossoró. Ailton me informou que a colocação desse marco ocorreu na época da Segunda Guerra e foram militares do Exército Brasileiro os responsáveis pela colocação. Apesar de ter sido convidado por Airton para visitar esse marco, essa visita não pôde ser concretizada naquela época. 

Na hora que eu soube dessa informação, acreditei que essa verdadeira relíquia tinha ligação com um marco topográfico colocado pelo Exército no alto do Morro do Navio, ou Morro Vermelho, perto da localidade de Pium, município de Nísia Floresta, próximo ao litoral potiguar e a cerca de 25 quilômetros de distância do centro de Natal.

O autor desse texto e o falecido jornalista Luiz Gonzaga Cortez, realizando medições no marco do Morro do Navio em 2013.

Eu estive neste local em 2013 e vi esse marco de concreto junto com o falecido jornalista Luiz Gonzaga Cortez. Na sequência escrevi em nosso blog TOK DE HISTÓRIA um texto sobre essa visita e sobre o vandalismo que esse objeto sofria na época [1].

Esse marco no Morro do Navio possuía um orifício na ponta, tinha em torno de 1,50 m, sendo 40 centímetros só na base. Em uma de suas laterais encontramos as inscrições “1942”, “S.G.H.E.” e “45”. Na época eu acreditei que esse marco estava relacionado a alguma missão militar realizada na década de 1940, provavelmente destinado a utilização na área de levantamento cartográfico do Serviço Geográfico do Exército (SGEx).

O marco do Morro do Navio totalmente desenterrado.

Em 2013 eu busquei ajuda com um amigo historiador sobre a possível origem desse marco do Morro do Navio e, segundo ele, a hipótese mais correta era que este material estava ligado a missão de um grupo de cartógrafos/topógrafos militares, que realizaram o levantamento do litoral nordestino, mediante a necessidade de operações de guerra que iriam se desenvolver em nossa região. Para cumprir tal missão foi organizado o Destacamento Especial do Nordeste (DEN), chefiado pelo então Tenente-coronel Djalma Poly Coelho, contando com um número superior a trinta oficiais engenheiros e sargentos topógrafos.

Apesar do desejo em ajudar, essas eram as informações básicas que esse amigo historiador me ou sobre esse marco. 

PARA DETALHES SOBRE A HISTÓRIA DO MARCO DO MORRO DO NAVIO, EM PIUM, MUNICÍPIO DE NÍSIA FLORESTA, CLIQUE NO LINK ABAIXO. 

Surpresa 

Em setembro de 2022 eu recebi um e-mail do Capitão Othon Amorim Barbosa, então Chefe da Seção de Comunicação Social do 3º Centro de Geoinformação (3º CGEO), também conhecido como “Centro de Geoinformação General Poly Coelho”, sediado em Olinda, Pernambuco.   

Serra Azul, no município de Riachuelo.

Logo mantivemos um proveitoso contato telefônico, onde o Capitão Othon me relatou ter encontrado na internet o nosso texto sobre o marco do Morro do Navio. Ele então me transmitiu alguns detalhes interessantes sobre a história do 3° CGEO e do trabalho do Tenente-coronel Djalma Poly Coelho no início da década de 1940 no Nordeste brasileiro. Em meio ao nosso interessante diálogo, lhe relatei sobre a existência de um marco no município de Riachuelo, que poderia ter relação com a história do trabalho do Serviço Geográfico do Exército em nossa região.

Detalhe da Serra Azul.

A nossa conversa então tomou outro rumo, onde o Capitão Othon se mostrou interessado em enviar um militar do 3° CGEO até a região para visitar a Serra Azul e fotografar o marco ali existente.

Logo entrei em contato com o amigo Ailton Freitas em Riachuelo, que se colocou à inteira disposição para a realização dessa visita e prometeu ajudar no que fosse possível.

ando na sede da propriedade a caminho do alto da serra.

Em um sábado, 8 de outubro de 2022, eu segui para Riachuelo com o Subtenente Severino Alves Neto, um profissional de alto gabarito, pessoa de primeiríssima qualidade, que me transmitiu muitas e interessantes informações sobre o trabalho da atual Diretoria de Serviço Geográfico do Exército (DSG), sucessora do Serviço Geográfico do Exército. De forma muito tranquila o Subtenente Alves Neto delineou a atuação das unidades militares vinculadas a essa diretoria e a atuação desse ramo do Exército Brasileiro em todo território nacional.

Trilha para o alto da serra no meio da mata.

Confesso que nada sabia da atuação da DSG, da importância prática do seu atual trabalho para os diversos níveis da máquina estatal, do nível de desenvolvimento das atividades cartográficas do Exército Brasileiro e outros temas. A troca de informações proporcionada pelo Subtenente Alves Neto foi tão interessante, que o tempo para percorrer os 80 quilômetros de trajeto entre Natal e Riachuelo me pareceu ter ado muito rápido.

O Professor Airton fotografando um abrigo soba rocha existente na Serra Azul.

Nessa cidade que sempre me traz boas energias, estivemos na casa do amigo Ailton, que nos apresentou os irmãos Ariel e Urias Teixeira da Silva, que nos ajudaram na empreitada e nos conduziram através das trilhas da Serra Azul. Após um cafezinho, seguimos todos para esse local, distante cerca de dois quilômetros de Riachuelo. 

Trecho após o abrigo natural.

Uma Relíquia da Segunda Guerra no Agreste Potiguar 

O o a Serra Azul é feito por uma propriedade às margens da BR-304, onde fomos muito bem recebidos pelas pessoas que moram por lá. Depois iniciamos a trilha, que logo chegou ao setor mais próximo da elevação propriamente dita. Então iniciamos o caminho por uma área com boa preservação natural e a trilha seguia para o alto, onde teríamos que chegar ao topo desta serra com cerca de 300 metros de altitude.

Da esquerda para direita Urias, Rostand, Ariel e Alves Neto.

Apesar de em alguns trechos a mata ser relativamente densa, ela pode ser realizada de maneira tranquila, sem maiores percalços. No caminho os guias Ariel e Urias não deixavam escapar nenhum detalhe sobre a trilha e a natureza ao redor. Realmente eles são dois guias natos, muito bem preparados e extremamente dispostos a ajudar.

No meio do caminho tivemos de contornar um grande bloco esférico de granito, que de tão grande forma na sua base um interessante abrigo natural, que percebemos serem utilizados por pequenos animais.

Visual na subida da serra.
Belezas da Serra Azul.

Em alguns momentos a trilha é feita basicamente sobre o granito, onde a vegetação é naturalmente ausente, mas o visual da região se torna então muito interessante. Na verdade, essa trilha bem poderia ser utilizada como um atrativo turístico da cidade de Riachuelo e da Região do Agreste Potiguar.

No final da trilha chegamos ao alto da serra e encontramos o marco.

Grupo reunido junto ao marco topográfico.

Ele se encontra rachado e, segundo fomos informados, por pessoas que acreditavam que no seu interior haveria algum tipo de “tesouro”, o que nunca existiu.

Nesse marco encontramos uma marca triangular, que apontava em direção leste, a mesma de Natal e do litoral do Rio Grande do Norte. Essa marca é um ponto trigonométrico.

Marca triangular onde provavelmente havia uma placa de bronze com marcações topográficas.

Segundo o Subtenente Alves Neto esse triângulo no marco da Serra Azul poderia conter uma placa de bronze, com várias marcações para serem utilizadas naquela época pelos topógrafos do Serviço Geográfico do Exército.

O interessante, conforme é possível ver na imagem abaixo, esse triângulo é reproduzido dentro de uma marcação semicircular que significa uma elevação, com o número “254” ao lado, indicativo de sua referência de nível. Esse sinal é reproduzido no mapa em escala de 1:100.000, Folha SB25–V–C–IVMI–977, confeccionado pela DSG em 1983. Infelizmente essa possível placa de bronze foi perdida.

No detalhe a localização da Serra Azul no mapa em escala de 1:100.000 que mostra uma parte do município de Riachuelo.

Na lateral, tal como no marco do Morro do Navio de Pium, encontramos a sigla “S.G.H.E.” e o número “40.

Segundo o amigo Ariel Teixeira da Silva, na época da colocação desse objeto no alto da Serra Azul, ficou na memória dos moradores da pequena Riachuelo, então um arruado com poucas casas, que os homens que implantaram esse marco seriam “alemães”, por muitos deles serem brancos, altos e loiros. Mas a maioria dos membros do Exército que realizaram essa atividade no Nordeste eram oriundos do Rio Grande do Sul e muitos eram descendentes de italianos e alemães.

As letras “S.G.H.E.” e o número “40”.

Concluímos então a visita realizando inúmeras fotos desse marco histórico. 

ATENÇÃO – Para quem desejar percorrer a trilha que leva ao marco histórico do Exército Brasileiro no alto da Serra Azul, em Riachuelo, liguem para o amigo Urias Teixeira da Silva, no telefone celular e WhatsApp número – 84 99612 3048. 

Reconhecimento 

Nos dias posteriores a nossa visita, fiquei sabendo que os resultados obtidos em campo foram positivamente apreciados pelo Tenente-coronel Rodrigo Wanderley de Cerqueira, comandante do 3° CGEO, bem como pelo General de Brigada Marcis Gualberto Mendonça Junior, Diretor do Serviço Geográfico do Exército (DSG), cuja sede fica em Brasília.

Entrada do 3° CGHEO, em Olinda, Pernambuco.

Então todos os civis que participaram dessa atividade na zona rural de Riachuelo foram convidados para se fazerem presentes na sede do 3° CGEO em Olinda, no dia 17 de outubro de 2022, para comemorar o Dia do Topógrafo e recebemos diplomas e uma lembrança dessa atividade junto a essa unidade militar.

Nesse dia, uma segunda-feira, me fiz presente e representei meus amigos de Riachuelo. Na ocasião visitei o Centro de Memória do 3° CGEO e participei da cerimônia militar alusiva ao Dia do Topógrafo.

O autor deste texto ao lado do Tenente-coronel Rodrigo Cerqueira, comandante do 3° CGEO.

O Tenente-coronel Rodrigo Cerqueira, o Major Daniel da Costa e Silva, subcomandante da unidade, além dos oficiais e subalternos foram extremamente atenciosos e me receberam de maneira muito digna nessa unidade militar.

Formatura pela cerimônia do Dia do Topógrafo.

Durante a cerimônia recebi das mãos do comandante do 3° CGEO meu diploma e uma lembrança contendo o brasão da unidade e a esfinge do General de Brigada Djalma Poly Coelho. Na ocasião me foram entregues os diplomas dos amigos Airton Freitas de Macedo, Ariel e Urias Teixeira da Silva.

Materiais que foram entregues pelos militares do 3° CGEO aos civis que participaram da visita ao marco topográfico da Serra Azul.

Foi um momento muito positivo, onde conheci muitos topógrafos dessa unidade que atualmente se encontram na reserva e com eles soube das difíceis missões topográficas realizadas em tempos ados pelo interior do Nordeste.

Me vi entre militares que têm uma formação técnica extremamente apurada, um senso de satisfação na realização de suas missões que muito me impressionou, um enorme respeito pelos membros veteranos da unidade e acima de tudo percebi que esses homens e mulheres do 3° CGEO possuem a certeza que todo o trabalho que realizam tem uma enorme utilidade para a sociedade brasileira. Embora essa mesma sociedade desconheça os resultados dos seus relevantes trabalhos.

Entrega dos diplomas.

Essas pessoas trazem no desenvolvimento de suas atividades uma tradição que começou no final do século XIX, onde a missão principal dos militares que iniciaram os trabalhos cartográficos no Exército Brasileiro era criar mapas para uma imensa nação que quase não tinha mapas.

O Exército e a Cartografia

Em 2 de junho de 1890 saiu na primeira página do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, a notícia que três dias antes havia sido criado pelo Exército Brasileiro um “serviço geographico”. Essa atividade seria exercida por militares com especialização em engenharia, oriundos da tradicional Escola Polythecnica do Rio [2]. Já os membros que fariam parte desse serviço e não tinham essa formação, realizaram cursos junto aos cientistas do Observatório Nacional, também no Rio, com foco em atividades de levantamento geográfico [3].

Texto de criação do “serviço geographico” no Exército em 1890.

As razões para a criação desse tipo de atividade no Exército Brasileiro, seis meses após a Proclamação da República, ava por uma ideia de modernização da força terrestre brasileira e encerrar uma situação onde o conhecimento geográfico do território nacional era muito limitado. Havia muitos erros nos mapas disponíveis, que geravam incertezas sobre as localizações de limites de fronteiras com outros países e nos próprios estados brasileiros, além do traçado dos rios e até a localização de capitais e cidades [4]. 

Naquele período entre a década de 1890 e a virada do novo século, ocorreram no Brasil várias crises internas, onde algumas delas se tornaram lutas sangrentas, que atrasaram o desenvolvimento do país. Na arma terrestre não foi diferente, tendo o seu “serviço geographico” só começado a desenvolver projetos de maior vulto nos primeiros anos do século XX [5].

Mapa da Baía da Guanabara, Rio de Janeiro.

Em 1903 foi elaborado pelo Estado-Maior do Exército o “Projeto Carta Geral do Brasil”, através de uma comissão específica, que tinha então o objetivo de elaborar o maior mapeamento possível do país. Contudo, lendo um amplo texto existente em um relatório com as atividades do Ministério da Guerra de 1908, esse trabalho basicamente se concentrou na implantação da rede geodésica e no mapeamento do estado do Rio Grande do Sul, principalmente a região de fronteira com o Uruguai e a Argentina [6].

As razões para esse incremento na elaboração de mapas nesse setor do país, era tanto a demarcação definitiva da fronteira com essas duas nações, como elaborar estratégias militares visando a nossa defesa para o caso de algum ataque vindo principalmente da Argentina, que dentro dos processos estratégicos brasileiros da época era considerado o nosso potencial e principal inimigo.

Autoridades civis e militares na Fortaleza do Morro da Conceição.

A partir da metade do ano de 1917 essa área especializada do Exército Brasileiro ou a ser denominado Serviço Geográfico Militar, tendo sua sede na antiga fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, um bastião defensivo construído pelos portugueses em 1718 no Morro da Conceição, Rio de Janeiro [7]. Segundo notícia de um periódico carioca, em 3 de agosto de 1917 o General Bento Manuel Ribeiro Carneiro Monteiro, então Chefe do Estado Maior do Exército, reuniu um grupo de deputados e jornalistas para visitar as dependências daquela instituição na fortaleza [8].

General Bento Ribeiro apresenta o serviço Geográfico a políticos e a imprensa carioca.

Em 14 de outubro de 1920 desembarcou no Rio de Janeiro a hoje quase desconhecida Missão Cartográfica Imperial Militar Austríaca, tendo à frente o General e Barão Arthur Herr Von Hübl, do Imperial Instituto Geográfico Militar de Viena. Os austríacos introduziram no país o levantamento topográfico à prancheta, os métodos estereofotogramétricos de emprego de fotografias terrestres e aéreas e a impressão offset, além de ajudarem na criação da Escola de Engenheiros Geográficos Militares [9].

Em 1923, percebendo que as dependências da Fortaleza do Morro da Conceição não comportavam a apliação do Serviço Geográfico Militar, o Exército adquiriu o Palácio da Conceição (foto abaixo), que fica nos fundos da antiga fortaleza. Esse local serviu de sede do bispado até 1915, quando este foi transferido para o Palácio Arquiepiscopal São Joaquim, no bairro da Glória [10].

Antigo Palácio da Conceição.

O Serviço Geográfico Militar e a Comissão da Carta Geral continuaram ao longo dos anos atuando de forma independente, com o primeiro executando mapeamentos em áreas no Rio de Janeiro e o segundo continuando a realização de levantamentos no Rio Grande do Sul. A partir de 1932 o Serviço a a denominar-se Serviço Geográfico do Exército (SGE), e a então Comissão da Carta Geral dá origem à Primeira Divisão de Levantamento, tendo sua sede em Porto Alegre e sua criação se deu através do decreto nº 21.883, de 29 de setembro de 1932 [11].

Símbolo do serviço Geográfico.

O Serviço Evolui

No ano seguinte foram designados para a Divisão de Levantamento dois aviões Bellanca CH-300 Special Pacemaker (Foto abaixo).

A antiga Aviação Militar do Exército Brasileiro havia adquirido treze exemplares dessa aeronave, que eram construídos nos Estados Unidos, sendo monoplanos utilitários típicos da década de 1930. Possuíam asa alta, trem de pouso fixo, capacidade para seis pessoas, sendo movidos por um motor Wright J-6s de 300 H.P. e foi uma aeronave que se tornou conhecida por sua resistência e grande autonomia de voo, que superava as cinco horas [12].

Avião utilizado pelo Serviço Geográfico.

Em 27 de setembro de 1933 os Bellanca decolaram do Rio para Porto Alegre pilotados pelo Capitão Clóvis Travassos e o Tenente Burgmann [13]. Com a ideia de apoiar as atividades dessas aeronaves em terras gaúchas, o então governador Flores da Cunha mandou construir um hangar na cidade de Cruz Alta, liberando para os militares 400 caixas de gasolina, 48 de óleo e até dinheiro para diárias de manutenção das equipes, sendo o fato noticiado em todo país [14].

Devido a importância e especialidade de suas missões, o Serviço Geográfico do Exército conseguia até mesmo superar certas diferenças internas no Exército, criadas em decorrência das lutas políticas ocorridas no Brasil na década de 1930. Um exemplo disso ocorreu com o Tenente-coronel Jaguaribe Gomes de Mattos, que se encontrava exilado na Europa por ter participado da Revolução Constitucionalista de 1932 ao lado dos paulistas. Mesmo assim esse oficial recebeu permissão do Ministério da Guerra para a atuar pelo Exército, com os seus devidos vencimentos, acompanhando a impressão dos mapas da região do Mato Grosso junto ao Exército Francês a [15].

Informativo sobre o serviço Geográfico.

Em 1937 o Serviço Geográfico do Exército se viu diante da missão de encerrar as várias pendências em relação à demarcação das fronteiras estaduais. A situação chegou a tal ponto que a Constituição Brasileira outorgada pelo presidente Getúlio Vargas em 10 de novembro daquele ano tinha um artigo específico para tratar do assunto, com a designação do Serviço Geográfico do Exército nessa função, conforme podemos ler abaixo [16]. 

Art. 184 – Os Estados continuarão na posse dos territórios em que atualmente exercem a sua jurisdição, vedadas entre eles quaisquer reivindicações territoriais.

§ 1º – Ficam extintas, ainda que em andamento ou pendentes de sentença no Supremo Tribunal Federal ou em Juízo Arbitral, as questões de limites entre Estados.

§ 2º – O Serviço Geográfico do Exército procederá às diligências de reconhecimento e descrição dos limites até aqui sujeitos a dúvida ou litígios, e fará as necessárias demarcações [17]

Para se ter uma ideia da quantidade de pendências dos limites estaduais no Brasil até o final da década de 1930, veja abaixo esse resumo publicado na Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro (páginas 33 e 34, edição de 1937).

Pela relação é possível compreender como a questão dos limites estaduais no Brasil foi complicada no ado.

Pelo final da década de 1930, ou início da de 1940, o Exército mudou a denominação do Serviço Geográfico do Exército, pra “Serviço Geográfico e Histórico do Exército”, daí surge a sigla “S.G.H.E.” que vi nos marcos do Morro do Navio e da Serra Azul. Agora a razão dessa alteração, a portaria informando a mudança e quando deixou de existir eu realmente não descobri.

Logo surgiram no horizonte nuvens negras vindas da Europa, onde começaram a se acumular notícias que mostravam que uma nova conflagração mundial era somente uma questão de tempo.

Topografando no Nordeste

Cerimônia na sede do Serviço Geográfico do Exército.

O Exército Brasileiro então começou a se preocupar com a defesa do chamado “Saliente Nordestino”, a parte da América do Sul mais próxima da África, com uma distância de 2.900 quilômetros entre os dois continentes, cujos pontos estratégicos em cada lado eram Natal, no Rio Grande do Norte, e Dakar, na antiga África Ocidental sa e atualmente capital do Senegal [18].

Um problema para a defesa do litoral dessa região era a quase total inexistência de mapas que ajudassem os comandantes a realizar suas ações militares no caso de uma invasão estrangeira. Foi então criado o Destacamento Especial do Nordeste do Serviço Geográfico do Exército e a chefia ficou a cargo do então Tenente-coronel Djalma Poly Coelho, que assumiu o posto em maio de 1941 [19].

Poly Coelho assumindo o comando do destacamento Especial do Nordeste.

Nascido em Curitiba, Paraná, em 17 de outubro de 1892, era filho do primeiro sargento José Manuel da Silva Coelho, lotado no 17º Batalhão de Infantaria, e da dona de casa Amália Poly Coelho. O jovem estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro na primeira década do século XX, ingressando depois na antiga Escola de Guerra do Realengo [20]. Em 1914 alcançou a patente de Aspirante, formou-se engenheiro geógrafo militar e encerrou sua carreira em 1952, no posto de General de Divisão [21].

Pelos jornais antigos existentes na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, descobri que em agosto de 1941 houve uma grande quantidade de publicações relativas a transferências de militares para Recife. Eram homens de diversas patentes, de várias partes do Brasil, alguns deles com ordens para servir no Destacamento Especial do Nordeste.

Pessoal do Destacamento Especial do Nordeste, tendo à esquerda o Tenente-coronel Poly Coelho – Fonte – 3° CGEO.

A missão era o levantamento aerofotogramétrico das regiões próximas à costa dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco e ao longo de três anos e meio esse Destacamento Especial trabalhou bastante.

Sabemos também que foram realizados levantamentos topográficos no Arquipélago de Fernando de Noronha e nas regiões salineiras do Rio Grande do Norte e do Ceará. Já em 1942 oficiais do Exército Brasileiro começaram a utilizar os primeiros mapas que o Destacamento Especial do Nordeste havia concluído.

Descobri que em janeiro de 1942 a área onde se aquartelou o pessoal do Serviço Geográfico do Exército em Recife, sofreu uma aparente ação de sabotagem.

Notícia da possível sabotagem em jornal do Rio de Janeiro.

A área onde os militares ficaram era no chamado Campo do Jiquiá, onde o Serviço Geográfico tinha uma grande instalação com pessoal, veículos e material de trabalho. O Jiquiá se tornou famoso por receber 65 vezes o pouso do grande dirigível Graf Zeppelin, da empresa alemã Luftschiffbau Zeppelinm G.M.B.H. Ocorre que na manhã de 12 de janeiro o capinzal existente na área pegou fogo repentinamente e houve preocupação com o avanço das chamas, mas os bombeiros recifenses apareceram no local e controlaram o fogo. O problema era que vizinho as instalações do Serviço Geográfico estava o depósito da companhia de navegação alemã Hermann Stoltz & Cia, uma empresa envolvida até o pescoço com espionagem nazista em vários locais do Nordeste e no sul do país. Seus gestores tinham o a informações privilegiadas sobre a navegação na costa brasileira e foram acusados de rear essas informações para Berlin, além de financiar uma grande rede de espionagem mantida por alemães e que utilizava brasileiros aliciados. Se o incêndio foi realmente uma sabotagem isso não ficou provado, mas as suspeitas das autoridades brasileiras em relação a Hermann Stoltz eram muito fortes, sendo episódio noticiado em todo país [22].

Mara que mostra as áreas topografadas pelo Destacamento Especial do Nordeste.

Naqueles anos o trabalho do Destacamento Especial do Nordeste contou com o apoio da recém criada Força Aérea Brasileira (FAB), que forneceu aeronaves que realizarem milhares de fotografias aéreas. Estas eram produzidas com as aeronaves percorrendo faixas específicas do terreno, na altitude de 3.500 metros, com um recobrimento longitudinal respectivamente de 66 e 30 por cento e cobrindo uma área de 40.000 quilômetros quadrados [23].

Poly Coelho e o Presidente Getúlio Vargas.

Em relação a presença de membros do Destacamento Especial do Nordeste o Rio Grande do Norte, apenas descobri que no final de março de 1942 chegou no município de Goianinha o Capitão João de Mello Moraes e sua equipe, sendo esse militar apontado como o responsável pelo levantamento geográfico no Rio Grande do Norte [24].

Mesmo sabendo a importância do trabalho do Destacamento Especial, para mim não foi nenhuma surpresa o fato de encontrar poucas referências sobre as atividades desse grupo de militares pelo Nordeste do Brasil. Enfim, o país estava em guerra e nesses momentos de extrema tensão o foco principal dos órgãos de imprensa se voltaram para as unidades de combate e seus feitos, sobrando muito pouco espaço para comentar algo sobre a realização das unidades técnicas e de apoio. Talvez por isso não encontrei referências sobre a colocação do marco da Serra Azul e da atuação do Destacamento Especial do Nordeste na região de Riachuelo.

Depois da Guerra

O General Poly Coelho apresentando trabalhos do Serviço Geográfico do Exército ao Presidente Gaspar Dutra.

Com o fim da guerra o agora General Poly Coelho ou a dirigir o Serviço Geográfico do Exército, onde ficou no cargo de 1946 até 1951.

Durante sua gestão, mais precisamente em 1947, foi criada uma comissão de estudos para determinar a melhor localização de uma nova capital brasileira a ser implantada no interior do país. A ideia do Rio de Janeiro deixar de ser a Capital Federal visou promover de maneira clara a ocupação de uma vasta região despovoada e praticamente sem desenvolvimento no Brasil e evitar possíveis ações futuras de nações estrangeiras pelo nosso rico território.

Apresentação dos trabalhos em 1953.

Essa comissão foi presidida por Poly Coelho e ao final do seu trabalho esse grupo ratificou as análises e o relatório final da pesquisa liderada pelo belga Louis Ferdinand Cruls, que em 1892 comandou duas expedições exploradoras no Planalto Central do Brasil, cujo objetivo foi descobrir um local adequado para abrigar uma nova capital do país, sendo esse trabalho o marco gerador da definitiva questão da mudança da capital.

Resultados apresentados as autoridades.

A frente do Serviço Geográfico do Exército o General Poly Coelho criou o Quadro de Topógrafos do Serviço Geográfico do Exército e o Curso de Topografia para Oficiais das Armas na Escola Técnica do Exército, hoje Instituto Militar de Engenharia – IME. 

O General Djalma Poly Coelho faleceu no Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1954.

O General Poly Coelho hasteando o pavilhão nacional na Fortaleza da Conceição.

NOTAS…………………………………………………………………………………………….


[1] O escritor e jornalista potiguar Luiz Gonzaga Cortez Gomes de Melo, morreu aos 70 anos, na madrugada de segunda-feira, 19/08/2019, em Natal. Trabalhou no Diário de Natal e na Tribuna do Norte, onde foi editor de Polícia na década de 1980. Atuou também como diretor de redação do semanário “Dois Pontos” e venceu dois prêmios em 1988, ao escrever sobre o Integralismo no Rio Grande do Norte e o Movimento Estudantil no Estado.

[2] A antiga Escola Polythecnica é a atual Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fundada em 1792, é a sétima escola de engenharia mais antiga do mundo e a mais antiga das Américas, assim sendo, a primeira instituição de ensino superior do Brasil.

[3] O Observatório Nacional é uma instituição científica localizada na cidade do Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil. O Observatório foi criado em 1827, sendo uma das instituições científicas mais antigas do país. A sua finalidade inicial foi a de orientar os estudos geográficos do território brasileiro e o ensino da navegação, por isso sua relação estreita com o exército na criação do “serviço geographico”.

[4] Ver Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, segunda-feira, 2 de junho de 1890, p. 1.

[5] Ver Diário da Tarde, Curitiba, sábado, 31 de maio de 1980, p. 4.

[6] Ver Relatório apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, pelo Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, Ministro de Estado da Guerra, em junho de 1908, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, págs. 34 a 45, 1908.

[7] A fortaleza de Nossa Senhora da Conceição foi erguida sobre os alicerces da antiga Bateria do Morro da Conceição, construída em 1711 pelo corsário francês René Duguay-Troin. Sobre a história dessa fortaleza, ver https://www.ipatrimonio.org/rio-de-janeiro-fortaleza-da-conceicao/#!/map=38329&loc=-22.899628000000018,-43.182856,17

[8] Ver Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, sexta-feira, 2 de agosto de 1917, p. 3.

[9] Sobre essa missão militar austríaca no Brasil ver SILVA, Eliane Alves da. 90 Anos da Missão Cartográfica Imperial Militar Austríaca no Exército Brasileiro – Relato Histórico da Fotogrametria (1920-2010). 1º Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica. Parati, 10 a 13 de maio de 2011. Ver também O Jornal, Rio de Janeiro, sexta-feira, 25 de fevereiro de 1944, pág. 4.

[10] Ver Última Hora, Rio de Janeiro, terça-feira, 9 de dezembro de 1958, pág. 14. Sobre o Palácio da Conceição vale comentar que o primeiro prelado que nele residiu foi o terceiro bispo do Rio de Janeiro, D. Francisco de São Jerônimo, que chegou ao Rio de Janeiro no ano de 1702. Quando de sua morte, em 1721, com fama de Santo, teve o seu corpo sepultado no interior da Capela do Palácio. Mais sobre o local ver https://www.ipatrimonio.org/rio-de-janeiro-palacio-episcopal/#!/map=38329&loc=-22.89964011290089,-43.18269073963165,17 

[11] Ver A Noite, Rio de Janeiro, quarta-feira, 6 de setembro de 1933, pág. 3.

[12] Sobre essa aeronave ver C. Pereira Netto, Francisco. Aviação Militar Brasileira 1916-1984. Editora Revista de Aeronáutica, 1984, pág. 126.

[13] Ver A Nação, Rio de Janeiro, quarta-feira, 27 de setembro de 1933, pág. 3.

[14] Ver Diário de Pernambuco, Recife, quinta-feira, 9 de novembro de 1933, pág. 1.

[15] Ver O Paiz, Rio de Janeiro, quinta-feira, 26 de julho de 1934, p. 4.

[16] A Constituição de 1937 é a quarta do Brasil e a terceira da república, de conteúdo pretensamente democrático, foi implantada no mesmo dia em que foi decretado o período ditatorial no Brasil, que ficou conhecido como Estado Novo. Era uma carta política eminentemente outorgada, mantenedora das condições de poder do presidente Getúlio Vargas. A Constituição de 1937, que recebeu o apelido de “Polaca” por ter sido inspirada no modelo semifascista polonês, era extremamente centralizadora e concedia ao governo poderes praticamente ilimitados.

[17] Para conhecer o texto desta Constituição ver https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm

[18] Sobre o “Saliente Nordestino” ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Saliente_nordestino

[19] Ver O Jornal, Rio de Janeiro, sexta-feira, 23 de março de 1945, págs. 1 e 2.

[20] Ver Diário da Tarde, Curitiba, sábado, 12 de fevereiro de 1944, p. 1.

[21] Sobre uma biografia mais elaborada do General Poly Coelho ver https://memoria.ibge.gov.br/historia-do-ibge/galeria-de-presidentes/20959-djalma-polli-coelho.html Ver também o jornal Diário da Tarde, Curitiba, sábado, 12 de fevereiro de 1944, págs. 1 e 2.

[22] Ver os jornais O Radical, Rio de Janeiro, quarta-feira, 14 de janeiro de 19425, pág. 6 e O Estado, Florianópolis, quinta-feira, 22 de janeiro de 1942, pág. 3.

[23] Ver O Jornal, Rio de Janeiro, sexta-feira, 23 de março de 1945, págs. 1 e 2.

[24] Ver A Noite, Rio de Janeiro, terça-feira, 31 de março de 1942, pág. 5.

O MARCO NO MORRO DO NAVIO, EM PIUM, NÍSIA FLORESTA, RIO GRANDE DO NORTE

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Autor – Rostand Medeiros

Uma situação que pessoalmente me deixa muito feliz é encontrar, trocar ideias e fazer amizade com pessoas que gostam de história. Mas esta situação se torna mais interessante é quando encontro pessoas interessadas em também proteger o nosso patrimônio histórico, tão vilipendiado e dilapidado que faz pena.

Bem, no último mês de março recebi um e-mail de um cidadão de nome Flávio Gameleira, um dentista, que curiosamente está terminando o curso de Gestão Ambiental. Em sua mensagem ele me trazia a notícia da existência de um estranho objeto de concreto, tombado no alto de uma duna no nosso litoral sul e que poderia ter haver com a Segunda Guerra Mundial.

Ele me enviou um link de um filme postado no You Tube em janeiro último e com pouco mais de um minuto de duração. Para evitar muita escrita, vejam o material clicando no link abaixo;

http://www.youtube.com/watch?v=q0KbAVM1Ln0

Então marcamos um encontro em minha casa, onde conheci Flávio e seu amigo Keber Kennedy e juntos trocamos ideias e teorias sobre aquele artefato.

Ligação com a Guerra

Flávio Gameleira me comentou que esteve no local com seus amigos Keber Kennedy e Március Vinícius no dia 4 de janeiro de 2013. Para chegar ao local ele contratou os serviços do Guia de Turismo chamado Marcelo.  Ele me revelou que havia um marco de concreto que havia sido fincado inicialmente no alto do morro e atualmente se encontrava cerca de 50 metros abaixo do local original. O Guia Marcelo lhe relatou que pessoas da região haviam informado que havia um ano gravado no marco: 1942 ou 1943.

No marco no Morro do Navio vemos Keber Kennedy (com a cãmera), Flávio Gameleira e Március Vivícius em janeiro de 2013
No marco no Morro do Navio vemos Keber Kennedy (com a cãmera), Flávio Gameleira e Március Vinícius em janeiro de 2013

Neste encontro Flávio me afirmou que ele e seus amigos tentaram desenterrar o marco, mas aquilo era uma tarefa muito pesada para ser realizada apenas com as mãos. Ele me comentou, e eu também achei o fato intrigante, saber que em um local de dificílimo o existia algo como aquilo e que a maioria das pessoas de nada saiba.

Para Flávio era importante saber quem, quando e porque foi colocado aquele marco naquele local , pois poderia se tratar de um patrimônio histórico.

Morro do Navio em abril de 2013, agora completamente desenterrado
Morro do Navio em abril de 2013, agora completamente desenterrado

O marco está na duna conhecida como Morro do Navio, ou Morro Vermelho, próximo a localidade de Pium, zona rural do município de Nísia Floresta a poucos quilômetros ao sul de Natal. Em meio a uma zona litorânea com ausência significativa de elevações naturais, este acidente geográfico se destaca na paisagem por possuir cerca de 350 metros de altitude. Ele é um pouco mais elevado que o famoso Morro do Careca, na Praia de Ponta Negra, este com uma altitude próxima de 340 metros.

Mas além da altitude o Morro do Navio é extremamente interessante para quem estuda a Segunda Guerra Mundial pela sua localização.

E como se encontrava em janeiro de 2013
E como se encontrava em janeiro de 2013

O morro fica exatamente entre o Aeroporto Internacional Augusto Severo/Base Aérea de Natal e o litoral. Evidentemente que durante a guerra muitos dos aviadores aliados que decolavam do movimentado Parnamirim Field tiveram oportunidade de ver este morro de suas aeronaves. Mas o Morro do Navio também é um ponto de localização muito visível para qualquer hidroavião que levantasse voo a partir da Lagoa do Bonfim.

Mas a questão era saber o porquê daquele objeto está ali no Morro do Navio?

Indicações

Para Flávio Gameleira uma das indicações estava no livro “Cartas da Praia”, do escritor potiguar Hélio Galvão.

Nesta obra o autor aponta que alguns morros mais altos na região de Tibau do Sul possuíam bases de concreto que eram utilizadas por geógrafos militares para comunicação com a utilização de espelhos, transmitindo sinais entre eles e chegando até a torre da igreja de São José de Mipibu.

Se este fato existiu realmente, este sistema de comunicação só poderia ser a conhecida heliografia e o dispositivo utilizado para enviar mensagens ópticas com a ajuda de luz solar era um heliógrafo.

A utilização da heliografia remonta à antiguidade, em que inúmeras culturas utilizavam a luz solar refletidas em materiais apropriados para enviar mensagens ou sinais através de distâncias consideráveis, além de inúmeras outras funções. Já o dispositivo de emissão de sinais consiste de um objeto brilhante montado sobre um e. Para usá-lo, o objeto pode ser girado ou fechado a fim de criar uma série de explosões de luz que podem ser lidas por um observador. Essas transmissões eram comumente feitas em código Morse, que utiliza uma série de transmissões longas e curtas para rear informações.

Seria então o tal marco, quando se encontrava no alto do Morro do Navio, utilizado para a transmissão de informações através de um heliógrafo? Ou teria outra utilidade?

Em meio a estas conjecturas, na mesma semana que me encontrei com o Flávio, me encontro casualmente com o jornalista Luiz Gonzaga Cortez na mais importante casa da memória potiguar, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Neste momento me recordei que Gonzaga Cortez estava realizando uma pesquisa sobre antigos marcos de memória relativos a Segunda Guerra Mundial e decidi lhe relatar o fato.

Morro do Navio ou Morro Vermelho
Morro do Navio ou Morro Vermelho

Ele gostou da informação de Flávio e propôs realizarmos uma visita ao Morro do Navio.

Na hora confesso que fiquei muito surpreso, pois aqui em Natal é difícil as pessoas que trabalham com assuntos históricos realizarem pesquisas em conjunto. Além do mais sempre tive um extremo respeito pelo trabalho de Cortez. Lembro-me que ainda garoto, em 1985, por ocasião do cinquenta anos da Intentona Comunista, o jornal O Poti, edição dominical do periódico Diário de Natal, publicou uma série de reportagens assinadas por Cortez sobre este tema. Depois ele reuniu este material e publicou o livro ”A Revolta Comunista de 35 em Natal”, do qual fui ao lançamento e tenho uma edição autografada do autor.

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No domingo (07/04/2013) seguimos para o morro. Junto com o autor deste artigo e Gonzaga Cortez, seguiram seu filho Cleando e seu neto. Flávio Gameleira foi contatado, convidado, mas não pode ir.

Visitando o Local

Ao chegarmos no local tivemos que deixar o carro a cerca de dois quilômetros de distância pela possibilidade do mesmo atolar na areia fofa. O problema é que chegamos tarde e nossa caminhada começou depois das onze da manhã, de um dia plenamente ensolarado e sem nenhuma nuvem no céu.

Neste ponto da trilha, a diferença no solo poderia indicar utilização de um trator para abrir este caminho em tempos ados?
Neste ponto da trilha, a diferença no solo poderia indicar utilização de um trator para abrir este caminho em tempos ados?

A trilha é larga, com muitas marcas de agens de veículos tipo 4×4. Percebi que em alguns pontos parecia que aquele caminho havia sido aberto por um trator equipado com uma lâmina de terraplanagem.

Finalmente chegamos ao marco.

Primeiramente fomos surpreendidos diante do fato da peça em questão está totalmente desenterrada em relação ao vídeo realizado por Flávio Gameleira em janeiro último. Também vimos na área muitas e muitas marcas de pneus de veículos tracionados.

O marco totalmente desenterrado
O marco totalmente desenterrado

Mais interessante era que comparando com o vídeo, o marco parecia ter sido movido. Só não sabíamos para que e por quem?

Em relação ao marco propriamente dito, este possui um orifício na ponta, tem em torno de 1,50 m, sendo 40 centímetros só na base. Em uma de suas laterais encontram-se as inscrições  “1942”, “S.G.H.E.” e “45”.

Certamente aquele era um marco histórico relacionado com alguma missão militar realizada na década de 1940, provavelmente destinado a utilização na heliografia, ou com a área de levantamento geográfico e cartográfico do Serviço Geográfico do Exército.

Algumas marcas estranhas no marco
Algumas marcas estranhas no marco parecendo que ele havia sido amarrado por algum cabo e acabou deixando marcas de soltura no início da peça e na lateral

Como na área de pesquisa histórica ninguém faz nada sozinho, busquei ajuda de um historiador militar, possuidor de um enorme e sólido conhecimento nesta área e que não nega ajuda a quem lhe busca informações.

Na foto um marco geodésico impkantado na década de 1930, localizado na Trilha do Travessão, na Serra do Cipó, em Minas Gerais. Apontando que que o marco do Morro do navio deve ter possuído uma destas peças informativas de bronze, que se encaixavam no orifício que agora está vazio. isso mostra que o vandalismo contra este marco histórico é bem antigo
Na foto um marco geodésico localizado na Trilha do Travessão, na Serra do Cipó, em Minas Gerais. Apontando que o marco do Morro do Navio deve ter possuído uma destas peças informativas de bronze, que se encaixavam no orifício que agora está vazio. Isso mostra que o vandalismo contra este marco histórico é bem antigo – Fonte – http://www.clubedosaventureiros.com

Ao responder nossa consulta ele acredita que provavelmente este marco foi colocado há mais de 70 anos pelo Serviço Geográfico do Exército (SGEx). Em sua opinião este material está ligada a missão de um grupo de cartógrafos/topógrafos militares que realizou o levantamento de parte do litoral nordestino (de Pernambuco ao Ceará, incluindo o arquipélago de Fernando de Noronha), mediante a necessidade de operações de guerra que iriam se desenvolver naquela região.

Djalma Polly Coelho, que comandou o trabalho topográfico no litoral nordestino em 1941. Nasceu em 17 Outubro de 1892, em Curitiba, Paraná, sentou praça em 1911 e chegou a Aspirante Oficial em 1914. Chegou ao generalato em 1946. Foi Diretor do Serviço Geográfico Militar, posteriormente Serviço Geográfico do Exército e promoveu a criação do Curso de Topografia da Escola Técnica do Exército, hoje Instituto Militar de Engenharia. Foi Presidente da Comissão para a localização da nova Capital do Brasil (1946 a 1948) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Faleceu em 18 Out 1954 na cidade do Rio de Janeiro - Fonte - http://portal.dgp.eb.mil.br/
Djalma Polly Coelho – Fonte – http://portal.dgp.eb.mil.br/

Para cumprir tal missão foi organizado, em meados de 1941, o Destacamento Especial do Nordeste (DEN), chefiado pelo então Tenente Coronel Djalma Polly Coelho, contando com um número superior a trinta oficiais engenheiros e sargentos topógrafos.

O Serviço Geográfico mobilizou o curso de geodesia da Escola Técnica do Exército (atualmente Instituto Militar de Engenharia, IME), convocando seus oficiais e alunos, juntos com os da 1ª Divisão de Levantamento, para inclusão no Destacamento, assim como seis primeiros-tenentes da reserva e engenheiros civis possuidores do curso complementar da Escola de Engenheiros Geógrafos Militares.

Na foto vemos um C-47 Dakota em Parnamirim Field. Certamente este marco ajudou na construção desta grande base aérea
Na foto vemos em destaque um bimotor de transporte C-47 Dakota, em Parnamirim Field. Certamente este marco ajudou na construção desta grande base aérea

Entre estes levantamentos estava a da região onde seria construída a Base Aérea de Natal. O fato do marco estar num ponto dominante serve justamente para a realização deste tipo de trabalho com base no movimento dos astros.

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Possivelmente a equipe que colocou o marco veio de Recife. Ainda segundo este nosso amigo historiador, é possível que na 3ª Divisão de Levantamento, com sede na capital pernambucana, ainda existam as coordenadas desse marco em algum documento antigo.

Protegidos Por Lei Federal…

Esses materiais são protegidos pelo DECRETO-LEI N° 243, DE 28 DE FEVEREIRO DE 1967, que fixa as diretrizes e bases da cartografia brasileira.

É interessante a leitura de um dos seus artigos:

CAPÍTULO VII

Dos Marcos, Pilares e Sinais Geodésicos

Art. 13 – Os marcos, pilares e sinais geodésicos são considerados obras públicas, podendo ser desapropriadas, como de utilidade pública, nas áreas adjacentes necessárias à sua proteção.

§ 1º – Os marcos, pilares e sinais conterão obrigatoriamente a indicação do órgão responsável pela sua implantação, seguida da advertência: “Protegido por lei” (Código Penal e demais leis civis de proteção aos bens do patrimônio público). .

§ 2° – Qualquer nova edificação, obra ou arborização, que, a critério do órgão cartográfico responsável, possa prejudicar a utilização de marco, pilar ou sinal geodésico, só poderá ser autorizada após prévia audiência desse órgão.

§ 3° – Quando não efetivada a desapropriação, o proprietário da terra será obrigatoriamente notificado, pelo órgão responsável, da materialização e sinalização do ponto geodésico, das obrigações que a lei estabelece para sua preservação e das restrições necessárias a assegurar sua utilização.

§ 4° – A notificação será averbada gratuitamente, no Registro de Imóveis competente, por iniciativa do órgão responsável.

Art. 14 – Os operadores de campo dos órgãos públicos e das empresas oficialmente autorizadas, quando no exercício de suas funções técnicas, atendidas as restrições atinentes ao direito de propriedade e a segurança nacional, têm livre o às propriedades públicas e particulares.

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Ou seja, este tipo de material é protegido por LEI FEDERAL e isso implica em problemas com o Ministério Público Federal, através da Procuradoria da República no Rio Grande do Norte.

Bem, o objeto no alto do Morro do Navio aparenta ter sido um dos marcos iniciais de construção de uma das maiores bases aéreas fora dos Estados Unidos em toda a Segunda Guerra Mundial e a importância de Natal e Parnamirim Field foi tremenda para a vitória Aliada, onde seus símbolos deveriam ser motivo de preservação e proteção do Estado, ao abrigo da ação de pessoas despreparadas.

Na busca de maiores informações busquei um contato pela manhã sobre este objeto com o amigo Edgard Ramalho Dantas. Este é geólogo, professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, me comentou que a importância histórica da Base de Parnamirim não está apenas em saber detalhes de esquadrões, pilotos e aviões, mas está também nos marcos de fundação e de desenvolvimento da referida obra.

Neste ponto, o mais elevado do Morro do Navio, ficava este marco
Neste ponto, o mais elevado do Morro do Navio, ficava este marco. Ao fundo os edifícios de Natal e Parnamirim

Diante de toda esta situação, na condição de cidadãos preocupados com a questão, o autor deste artigo e o jornalista Luiz Gonzaga Cortez decidiram procurar o jornal Tribuna Do Norte, que acolheu a nossa informação e publicou a seguinte matéria.

Morro do Navio é alvo de degradação ambiental

Publicação: 10 de Abril de 2013 às 00:00

Localizado na Área de Proteção Ambiental (APA) Bonfim-Guaraíra, o Morro do Navio, também conhecido como Morro Vermelho, nas dunas pertencentes ao município de Nísia Floresta, a por um processo de degradação  por bugueiros e praticantes de rally. O gestor da APA Bonfim-Guaraíra do  Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema), Fábio de Vasconcelos Silva, confirmou que recebeu denúncia da situação na semana ada. Apesar de informar que a prática na área é proibida, o gestor da APA itiu que não há um Plano de Manejo para a região.

Fábio de Vasconcelos Silva informou que o Conselho Gestor da APA Bonfim-Guaraíra vai se reunir no dia 16 de abril, às 9h, no auditório do Ecoposto da APA, em Nísia Floresta, para tratar do Plano de Manejo. De maneira provisória, vamos  identificar quais locais onde as trilhas podem ser feitas de maneira a minimizar ao máximo os impactos na área. Há locais que são mais sensíveis que outros, explicou.

A APA Bonfim-Guaraíra não possui um estudo que permita definir o Zoneamento Ecológico e Econômico, que regulamenta as áreas que podem ser utilizadas de maneira a minimizar os impactos no local. Por esse motivo, segundo Fábio de Vasconcelos Silva, qualquer atividade deve ser comunicada ao Idema e autorizada pelo órgão e pelo Conselho Gestor da APA.

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As pessoas estão fazendo ralis de forma clandestina. Durante o monitoramento, me deparei com uma empresa de turismo que faz eios de quadriciclos.  Esses eios são ilegais, afirmou. Os organizadores de eios turísticos e os praticantes de rally que forem surpreendidos pela Polícia Ambiental no local estarão sujeitos a sanções penais. Quem estiver fazendo eios no local terá o carro apreendido, disse o gestor da APA.

A situação de degradação da Área de Proteção Ambiental também se confirma no relato de pesquisadores que foram ao local para identificar um marco de concreto que teria importância histórica. Ao averiguarem o objeto, que poderia ter servido de alicerce para a utilização de um equipamento militar do Exército Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial, o jornalista e membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN (IHG-RN) Luiz Gonzaga Cortez, e o pesquisador e escritor Rostand Medeiros verificaram diversas marcas de pneus no Morro do Navio.

Morro pode ter marco histórico da II Guerra

A possibilidade de que o Morro do Navio seja um ponto que conserva a história do Rio Grande do Norte durante a Segunda Guerra Mundial reforça a importância da preservação da Área de Proteção Ambiental (APA) Bonfim-Guaraíra.

A Lagoa do Bonfim vista do alto do Morro do Navio
A Lagoa do Bonfim vista do alto do Morro do Navio

O marco tem 1,55 metros de altura e 47 centímetros de largura. Nele está gravado o número 1942, que segundo os pesquisadores  Rostand Medeiros  e Luiz Gonzaga Cortez poderia representar a data de instalação do equipamento. Também há no objeto a sigla SGHE.

De acordo com Rostand Medeiros, é possível que o marco tenha sido instalado por um grupo de cartógrafos e topógrafos que estariam fazendo o levantamento da região, provavelmente para a construção da Base de Natal (Parnamirim Field). O fato do marco estar num ponto dominante pode ter servido para este tipo de levantamento com base no movimento dos astros, explicou.

Outra possibilidade ventilada pelos pesquisadores é que o marco tenha servido de alicerce para a utilização de um heliógrafo, equipamento militar que pertenceria ao Exército Brasileiro, de uso manual, para fins de orientação e comunicação.

Acreditamos que esse marco também poderia ter servido de base para esse aparelho, que teria a função de enviar sinais com a luz do sol por código morse, evitando assim a interceptação das mensagens, disse Rostand Medeiros.

Conclusão 

Mas enfim, vale a pena tanto papel, tanta digitação por um pedaço velho de concreto e que está largado no alto de uma duna?

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Com certeza, pois é um marco de nossa história.

Qualquer museu que trabalhe a memória de forma séria, gostaria de ter uma peça original que ajudou na construção de uma das maiores bases Aliadas fora dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Mas qualquer museu sério, ou qualquer entidade que trabalhe com o tema da memória de forma séria em terras potiguares, deve seguir todos os trâmites legais para possuir este material. O desejo de preservação da memória não deve jamais se sobrepor a ideia de realizar as ações de maneira correta.

Certamente na questão relativa a este marco, em minha opinião ele deve ir para um museu.

Mas com a devida anuência de pessoas ligadas ao Exército Brasileiro, o Ministério Público Federal e Estadual, certamente o IDEMA e IBAMA. Não podemos esquecer da participação dos agentes do meio turístico, além das entidades de preservação da memória como o Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte e as entidades de preservação da memória na cidade de Nísia Floresta, onde territorialmente o marco foi fincado a mais de setenta anos.

A união destes atores deve dar um destino correto a esta peça histórica.

P.S. – Quero agradecer a Flávio Gameleira, Keber Kennedy e Március Vinícius pela divulgação deste material, pois sem isso não saberíamos da existência deste marco histórico. Logicamente estendo estes agradecimentos a Luiz Gonzaga Cortez, ao seu filho e ao seu neto, por terem me convidado para visitar o local.

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