
Rostand Medeiros – https://pt.wikipedia.org/wiki/Rostand_Medeiros
Para quem não conhece, o Pé Grande, Bigfoot em inglês, também comumente referido como Sasquatch, é uma pretensa criatura mítica grande e peluda, musculosa, bípede, semelhante a um macaco, coberta por pelos negros, castanhos escuros ou avermelhados, que alguns alegam habitar florestas na América do Norte, particularmente no noroeste dos Estados Unidos.
Essa criatura é frequentemente descrita como uma altura de aproximadamente 1,8 a 2,7 metros, com algumas descrições mostrando-os com altura de 3,0 a até 4,6 metros. O Pé Grande é destaque no folclore americano e canadense e tornou-se um ícone cultural, permeando a cultura popular e tornando-se objeto de sua própria subcultura distinta.

Uma História Antiga
O interessante e curioso dessa história é que muitas das culturas indígenas em todo o continente norte-americano possuem contos envolvendo misteriosas criaturas cobertas de pelos que viviam nas florestas, e de acordo com o antropólogo David Daegling, essas lendas existiam muito antes dos relatos contemporâneos da criatura descrita como Pé Grande. Essas histórias diferiam em detalhes regionalmente, mas eram particularmente prevalentes no noroeste do Pacífico.
Na Reserva Indígena do rio Tule, no Condado de Talure, Califórnia, existe uma área com pinturas rupestres criadas por uma tribo chamada Yokuts, em um local conhecido como Painted Rock, que para muitos representa um grupo de Pés Grandes. A pintura é denominada “A Família”.
Acredita-se que essa pintura tenha mais de 1.000 anos e na cultura Yokut a maior figura da pintura representava o “Homem Peludo”, uma criatura que parecia um grande gigante com cabelos longos e desgrenhados, que o fazia parecer um grande animal. Para essa tribo eles eram considerados bons, pois comiam animais que poderiam prejudicar as pessoas. No ado os pais Yokut alertavam seus filhos para não se aventurarem perto do rio Tule à noite, ou eles poderiam encontrar a criatura.

Exploradores espanhóis do século XVI e colonos mexicanos contaram histórias sobre os “Los Vigilantes Oscuros”, ou “Vigilantes das Trevas”, grandes criaturas que supostamente atacavam seus acampamentos à noite.
Em 1721, na região que hoje é o estado do Mississipi, um padre jesuíta morava com os índios Natchez e relatou histórias de criaturas peludas na floresta, conhecidas por gritarem alto e roubarem animais da tribo.
Em 1847, Paul Kane, um pintor de origem irlandesa e famoso por seus quadros que retrataram os nativos americanos, relatou histórias sobre os “Skoocooms”, uma raça de homens selvagens e canibais, que viviam no norte da Califórnia.

Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos entre 1901 e 1909, relatou em seu livro The Wilderness Hunter, de 1893, que conheceu um idoso montanhês chamado Bauman, que lhe contou uma história sobre uma criatura bípede e fedorenta, que saqueou seu local de captura de castores e que em uma ocasião quebrou fatalmente o pescoço de um companheiro de caçadas. Roosevelt observou que Bauman parecia temeroso ao lhe contar essa história.
Na década de 1920, o agente indígena e professor J.W. Burns, que viveu e trabalhou com a nação Sts’ailes, foi quem primeiro divulgou o termo “Sasquatch”, que se acredita ser a versão anglicizada de sasq’ets, ou sas-kets, tradução aproximada para “homem peludo” na língua Halq’emeylem. Burns publicou em uma revista uma coleção de histórias narradas pelos nativos que afirmaram haver tido contatos com os Pés Grandes. Uma delas comentava sobre o encontro de um membro da tribo teve com uma mulher selvagem e peluda. Os relatos que Burns coletou informavam que esses animais sempre viviam nas montanhas, habitando predominantemente em túneis e cavernas. Burns descreveu os Sasquatchs como “uma tribo de pessoas peludas”.

Ninguém sabe ao certo quando a lenda do Pé Grande do Noroeste realmente começou entre os indígenas, mas a plataforma de lançamento de maior sucesso para a obsessão do público é conhecida: uma batalha que supostamente ocorreu em 1924, na área de um desfiladeiro estreito chamado de Ape Canyon (Cânion do Macaco), que supostamente recebeu essa denominação depois do incidente que vamos descrever.
O Encontro com os “Homens-Macacos”
O Ape Canyon fica a cerca de três quilômetros a leste do majestoso Monte Santa Helena, um vulcão ativo localizado a leste do estado de Washington, e a cerca de doze quilômetros a oeste de um lago chamado “Espiritual” (Spiritual Lake), considerado assombrado pelos nativos americanos. Consta que supostamente eles não andavam muito nesse setor.

Foi nessa região que em julho de 1924 vamos encontrar um grupo de cinco mineiros trabalhando. Eles eram Fred Beck, o seu sogro Marion Smith, seu cunhado Roy (ou Leroy) Smith, além de Gilbert (ou Gabe) Lafever e John Peterson. Eles vinham da cidade de Kelso, no estado de Washington e localizada a cerca de 39 quilômetros de distância da região do Monte Santa Helena.
Já havia alguns anos que esses mineiros estabeleceram, inclusive registrando oficialmente, uma mina de ouro que eles chamaram de Vander White, onde só trabalhavam no local nos períodos em que a temperatura era ável. Ali, eles tinham basicamente explodido a rocha com dinamite e criado um túnel. Procuravam prioritariamente ouro, mas até então não tinham encontrado nada do metal precioso. Entretanto conseguiram manter o negócio funcionando com a retirada de minério de ferro e outros minerais.

Segundo eles, a primeira coisa realmente estranha ocorreu no verão de 1922, quando encontraram algumas pegadas gigantescas na lama, perto de um riacho, afluente do Rio Lewis. As pegadas pareciam grandes impressões semelhantes às humanas e marcavam muito profundamente a lama. Os mineiros afirmaram que talvez aquilo fosse de algum nativo americano de grande estatura e que estava caçando ou pescando na área.
Tempos depois eles começaram a ouvir barulhos estranhos em torno da cabana. Eram sons altos e penetrantes de assobios, que emanavam dos topos das grandes elevações. Às vezes haviam vários assobios que pareciam responder um ao outro, depois começaram a ouvir durante o dia barulhos de batidas bem altos e eles não conseguiam descobrir o que eram essas coisas.

Para os pesquisadores que estudaram o caso esses sons poderiam ter se originado do interior do Monte Santa Helena, fruto de sua atividade vulcânica. Mas o Santa Helena estava inativo desde 1857 e só voltou a rugir, então de maneira espetacular e catastrófica, no dia 18 de maio de 1980, quando ali aconteceu aquela que é considerada a maior erupção vulcânica em tempos históricos nos Estados Unidos e resultou na morte de 57 pessoas.
De qualquer maneira os barulhos estranhos e as enormes pegadas chamaram a atenção daqueles rudes e esforçados mineradores. Logo eles souberam no comércio de Kelso e na vizinha comunidade de Longview, que estava acontecendo situações estranhas, ligadas a criaturas esquisitas na área do Monte Santa Helena. E não eram histórias muito antigas dos nativos americanos, mas vinda de mineiros e madeireiros que trabalhavam naquele setor. Falavam do avistamento de certos “Demônios da montanha”, ou coisas que pareciam com “Gorilas”, ou “Grandes macacos peludos”. Mas a verdade é que os cinco trabalhadores da mina de Vander White não deram muita importância a essas histórias. Talvez porque entre eles o que não faltavam eram rifles, espingardas, revólveres e muita munição.
Consta que em 1º de julho de 1924, quando Fred Beck estava junto com seu sogro Marion Smith em um local nas proximidades da mina para obter água, eles viram uma criatura espiando por trás de uma árvore. Fred a descreveu tendo cerca de dois metros de altura e estimou seu peso em torno de uns 350 quilos. Era coberta de pelos castanho escuro e com um tom acinzentado, além de um rosto parecido com um macaco. Foi quando Marion disparou três tiros na cabeça da coisa. Mas, para surpresa dos mineiros, o bicho começou a fugir e desapareceu na mata.

O Ataque e a Investigação
Na sequência eles alegaram que estavam a 13 quilômetros de Spirit Lake, quando encontraram quatro daqueles estranhos e gigantes animais se movendo pela floresta com os eretos, semelhantes aos humanos. “Eles são cobertos por longos cabelos pretos”, relatara ao jornal The Oregonian, informando as descrições oferecidas pelos homens. “Suas orelhas têm cerca de dez centímetros de comprimento e ficam retas. Eles têm quatro dedos, curtos e atarracados.”
Surpreso ao ver as enormes feras, Fred Beck disparou seu rifle Winchester calibre 30-30 contra uma das criaturas que foi atingido três vezes. O animal ferido caiu então em um penhasco (Beck teria afirmado anos depois que outro membro do grupo também abriu fogo).

O certo é que toda aquela violência provou ser um erro!
Naquela noite, disseram os homens, eles foram acordados quando pedras enormes começaram a bater na parte externa de sua cabana. Então ouviram — e sentiram — corpos gigantes batendo contra as paredes e a porta. Parecia que aqueles “homens-macacos” estavam em busca de vingança.
As feras eventualmente abriram um buraco no telhado, permitindo-lhes atingir Beck. “Muitas das pedras caíram por um buraco no telhado, e duas delas atingiram Beck, uma delas deixando-o inconsciente por quase duas horas”, relatou um dos mineiros ao The Oregonian.
Finalmente, disseram os garimpeiros, o sol começou a nascer, o que fez com que os animais interrompessem o ataque e fugissem. Os homens enfiaram a cabeça para fora da porta e, quando decidiram que o caminho estava livre, saíram correndo da floresta.

Como comentamos anteriormente, lendas e histórias sobre “homens-macacos” gigantes não eram exatamente novos naquela região. Mas poucas pessoas se preocupavam seriamente com a possibilidade de criaturas enormes e desconhecidas estarem na floresta. Isso mudou quando os mineradores da mina Vander White regressaram à civilização naquele verão de 1924.
A dramática história da sua batalha contra grandes feras semelhantes a humanos era irresistível e, portanto, difícil de ser ignorada pelas pessoas. Disseram que aqueles garimpeiros saíram verdadeiramente cambaleando da floresta, tremendo e com os olhos vidrados, para contar sobre animais parecidos com macacos com mais de dois metros de altura que os atacavam com pedras.


Com as notícias causando sensação local, o Serviço Florestal dos Estados Unidos decidiu entrar no circuito. Os investigadores J.H. Huffman e William Welch voltaram ao local e caminharam pela floresta com Beck, que os levou até o penhasco onde, segundo ele, o “homem-macaco” caiu ferido. Um dos guardas florestais desceu o desfiladeiro, supostamente inível, e “não encontrou absolutamente nada”, escreveu o The Oregonian.
Beck e os guardas continuaram até a cabana dos garimpeiros e este Beck mostrou aos investigadores as grandes pedras que haviam sido usadas no ataque. Huffman e Welch não ficaram nem um pouco impressionados com o que viram e concluíram que os próprios garimpeiros colocaram as grandes pedras no telhado e criaram todo o cenário. Só que os dois investigadores não explicaram para que eles fizeram tudo isso!

Um repórter perguntou aos guardas-florestais quando eles retornaram a Kelso “– E as pegadas de 14 polegadas encontradas perto da cabana?”. Huffman então criou uma marca no chão usando os nós dos dedos e a palma da mão direita. “Eles foram feitos dessa maneira”, disse ele.
Apesar do desmascaramento da história pelos guardas, as pessoas ainda queriam acreditar naquele estranho episódio – e a história continuou a se espalhar. Mais tarde o The Oregonian publicou – “Amigos e conhecidos dos cinco homens que relataram suas experiências acreditam que eles realmente viram algo que não pôde ser explicado”.

O membro da tribo Cowlitz, Frank Wannassay, contou a um repórter sobre “criaturas peculiares” das quais os mais velhos da tribo sempre falavam. “O Senhor Wannassay os descreveu como tendo entre dois e três metros de altura, corpos cobertos por cabelos longos”, escreveu o The Oregonian. A reportagem continuou: “Eles nunca foram vistos durante o dia”. Wannassay insistiu que esses animais eram “inofensivos”.
Crescimento do Mito
Nos anos que se seguiram a história dos garimpeiros seria repetida inúmeras vezes, inspirando vários avistamentos, teorias sobre as feras e muitos relatos que só fizeram o mito crescer.
Um dos aspectos desse crescimento tem relação com o fato das mortes prematuras dos mineiros que sobreviveram ao incidente. Elas aconteceram poucos anos após o incidente e são tidas como misteriosas. Mas até onde eu pesquisei dois deles se afogaram em um eio de barco e os outros aparentemente pereceram de mortes naturais. Nada de incrível quando sabemos a época e o local agreste onde eles viviam!

Ao longo dos anos, o único sobrevivente do caso, o mineiro Fred Beck, se tornou ministro evangélico e até escreveu um livro sobre o episódio ocorrido nas proximidades do Monte Santa Helena. Nesse livro ele realmente retrata os incidentes de forma bem diferente, afirmando que os tais “homens-macacos” não eram criaturas reais, de carne e osso, mas “espíritos ou demônios ou algum outro tipo de entidades sobrenaturais e é por isso que eles não poderiam ser baleados corretamente e mortos”. Beck também afirmou que “mantinha comunicações telepáticas com as criaturas e havia outros espíritos que apareciam para ele”.

Houve até outro caso estranho na região. Em 1950, um esquiador chamado Jim Carter fazia parte de um grupo com cerca de 20 pessoas que subiram nas encostas do Monte Santa Helena para esquiar. Só que Carter decidiu que não iria seguir o resto do grupo e foi por outra parte das encostas para que ele pudesse realizar uma boa esquiada e bater algumas fotos. Essa foi a última vez que seus amigos viram Carter.

Conforme ele demorava a chegar em uma área anteriormente combinada o grupo foi em sua busca. Chegaram a encontrar suas marcas de esqui morro abaixo e parecia para eles que a trajetória de sua corrida fosse um tanto frenética, como se algo estivesse lhe perseguindo. Encontraram também um recipiente de filme fotográfico vazio e suas marcas de derrapagem desapareceram de repente na borda de um penhasco íngreme. Houve uma enorme operação de buscas por Jim Carter, mas ele desapareceu completamente e nada mais foi encontrado. Esse provável acidente só ajudou no crescimento da casuística do que aconteceu com os mineradores em 1924.
Outro aspecto ligado à história do Ape Canyon foi que em 2013 um investigador empreendedor chamado Mark Marcel, pretensamente encontrou o local onde a cabana estava localizada. Mark descobriu a localização através de uma pesquisa em diferentes artigos de jornais e outras pistas em documentos antigos. O local estava localizado ao lado de um desfiladeiro de parede muito íngreme, acima do desfiladeiro dos macacos. Quando ele desceu ao local encontrou restos da construção, velhas ferramentas, pregos enferrujados e outras pistas que corroboravam o fato da localização da cabana. Ao longo dos anos outros investigadores estiveram no local.

Atrações Turísticas
Entusiastas do Pé Grande, como aqueles da pseudociência da criptozoologia, ofereceram várias formas de evidências duvidosas para provar a existência desses animais, incluindo alegações de avistamentos, bem como supostas fotografias, gravações de vídeo e áudio, amostras de cabelo e moldes de grandes pegadas.
No entanto, o consenso científico é que o Pé Grande, e as supostas evidências, são, em vez de um animal vivo e desconhecido, uma combinação de folclore, erro de identificação e pura e simples farsa.
O ecologista Robert Pyle argumenta que a maioria das culturas tradicionais tem relatos de gigantes semelhantes aos humanos em sua história popular, expressando a necessidade de “alguma criatura maior que a vida”. Cada idioma tinha o nome da criatura apresentada na versão local de tais lendas. Muitos nomes significam algo como “homem selvagem” ou “homem peludo”, embora outros nomes descrevessem ações comuns que ele realizava, como comer mariscos ou sacudir árvores.

O folclore europeu tradicionalmente tinha muitos exemplos do “homem selvagem da floresta”, ou “gente selvagem”, muitas vezes descrito como “uma criatura nua, coberta de pelos “. Esses povos selvagens europeus variavam de eremitas humanos a monstros semelhantes a humanos. Após a migração para a América do Norte, os mitos das “pessoas selvagens” persistiram.
Não podemos esquecer que os estadunidenses são especialistas em “turistificar” basicamente tudo envolve sua História e os aspectos de sua grande nação e, com isso, gerar bastante renda com a criação de atrações. Sendo assim, não é de estranhar que as áreas onde supostamente esses Pés Grandes deixaram suas marcas, sejam repletas de museus, lojas de suvenires e locais de visitação para levar os turistas aonde eles pretensamente apareceram.
FONTES